Mercado de startups no Brasil está aquecido (scyther5/Getty Images)
Bússola
Publicado em 26 de maio de 2022 às 16h20.
Última atualização em 26 de maio de 2022 às 16h50.
O mercado brasileiro de startups está cada vez mais maduro. E, com os efeitos da pandemia, que acelerou o setor de tecnologia, também aquecido, especialmente. Com isso tem se tornado atraente não só para o mercado como um todo mas também para universitários que enxergam no empreendedorismo uma nova porta de entrada para o mercado de trabalho.
Esses foram alguns dos assuntos tratados no debate promovido pela Bússola nesta quarta-feira, 25, para discutir os avanços e o futuro do mercado de inovação no Brasil e no mundo, conhecido também como economia 4.0. Sob a moderação do jornalista Rafael Lisbôa, diretor da Bússola, os executivos Frederico Pompeu, Michael Nicklas e Nilio Portella conversaram sobre o cenário atual das startups, como o setor de tecnologia foi afetado durante a pandemia, as tendências de mercado sob o olhar dos investidores e a visão de futuro que cada um deles tem da economia 4.0.
Com passado recente de muitos investimentos em startups latino-americanas, Frederico Pompeu, sócio do BTG Pactual e head do boostLAB, abriu a live falando da transformação que esse mercado está trazendo para os negócios e, também, para os universitários, já que empreendedorismo passou a ser, muitas vezes, a primeira opção de carreira de quem sai da faculdade ou da pós-graduação.
“As startups brasileiras estão cada vez mais preparadas e fortes para escalar. Quando a gente tem referências, como estamos tendo aqui no Brasil, e uma mudança de mindset que já começa nas escolas e universidades, tendo o empreendedor de tecnologia como exemplo de sucesso, é muito importante não só para o ecossistema tech, mas para o Brasil e para evolução do país”, disse Pompeu.
Michael Nicklas, sócio da Valor Capital Group, lembrou que para chegar a um estágio de maturidade e rentabilidade, as startups percorrem um longo caminho, que só é possível com organização, gestão e estratégia.
“Ecossistemas, por natureza, nascem no início. Você não começa em séries C ou D. A empresa inicia com pouco dinheiro e empreendedores se aventurando pela primeira vez. O que a gente tem visto nos últimos dez, 12 anos, é que excelentes profissionais saem da faculdade e, ao invés de ir para o mercado financeiro, como acontecia antes, preferem empreender no mercado de inovação”, afirmou Nicklas.
Nilio Portella, sócio-fundador da Mene & Portella, destacou que, em 2021, de acordo com estudo da Distrito, US$ 800 milhões foram investidos em martechs, que junto com fintechs e retailtech são os três setores de tecnologia que mais recebem investimentos no planeta.
“O mercado de martechs e adtechs está bem aquecido no Brasil e também em todo o mundo. E nós estamos atuando fortemente neste segmento. Através da Captall Ventures, que é o nosso braço de inovação, estamos acelerando startups em estágios iniciais, sobretudo em aportes Pré-Seed e Seed. Estamos olhando o mercado de perto e temos visto o crescimento exponencial da economia criativa nas mídias digitais”, declarou Portella.
Pandemia
Durante a live, o jornalista Rafael Lisbôa abordou a pandemia e como o mercado de tecnologia e inovação foi afetado. Todos os participantes foram unânimes sobre o crescimento exponencial do setor nos últimos dois anos, mas também observaram os desafios que as empresas tech terão pela frente com a economia global enfrentando um cenário adverso no pós-pandemia.
“O Brasil é líder na área de pagamentos. Na pandemia, mais de 40 milhões de brasileiros fizeram Pix e muitos deles acessaram o banco de forma digital pela primeira vez. Todo consumo foi para o online, as lives tomaram outra proporção, tivemos, finalmente, a telemedicina implementada no país, enfim, muitas rotinas foram transformadas na pandemia e temos de navegar nesse novo mundo”, afirmou Nicklas, da Valor Capital Group. O executivo ressaltou, porém, que o atual momento pede atenção e os investidores estão mais cautelosos diante do recuo global de investimentos e o cenário de inflação alta nas principais economias.
Já Portella, da Mene & Portella, destacou como a tecnologia foi fundamental durante a pandemia e possibilitou que empresas tradicionais não tivessem de encerrar as atividades.
“Todos sabemos que, por causa das medidas de segurança implementadas para conter o avanço da doença, todos os negócios que dependiam, de alguma forma, da presença física das pessoas foram impactados de forma negativa. Indústria, comércio e serviços tiveram queda vertiginosa. Agora, quem já trabalhava no ecossistema digital, no geral, teve crescimento porque a tecnologia foi imprescindível para o funcionamento de toda economia e de toda convivência da sociedade durante a pandemia”, afirmou Portella.
Pompeu, do boostLAB, alertou para o momento pós-pandemia que o mercado se encontra atualmente. “Estamos passando um momento diferente dos últimos dois anos. Tivemos, durante a pandemia, bastante capital disponível para investimento em startups e o cenário era favorável para empresas de tecnologia. Agora, estamos em um cenário diferente, onde os investidores estão mais preocupados em conhecer a estratégia da empresa para ter rentabilidade, antes de realizar o aporte”, disse.
Regulação e futuro
O Marco Legal das Startups também foi assunto na live. Nilio Portella comentou da importância do marco regulatório para o Brasil.
“Temos a classificação do que é investidor anjo, do que é de fato uma startup e um modelo que traz mais segurança jurídica e menos burocracia para quem investe, além de facilitar negócios entre pequenas empresas e a contratação delas pelo Poder Público”, disse Portella. E completou: “O que a gente precisa avançar também é na parte da tributação e, também, na formação de mão de obra qualificada para o nosso mercado de inovação”.
Além do marco regulatório, Frederico Pompeu e Michael Nicklas falaram sobre o futuro dos investimentos, o que o Brasil precisa para avançar ainda mais no ecossistema de inovação e as tendências que eles presenciaram no Brazil at Silicon Valley, conferência realizada no Vale do Silício nos dias 16 e 17 de maio.
“Para investidores e empresas bem capitalizados, eu acredito que nos próximos 12 a 24 meses será um momento com ótimas oportunidades no ecossistema” afirmou Pompeu. Além disso, o head do boostLAB falou de uma tendência já observada nas chamadas big techs, como Google e Amazon.
“Vi por lá uma tendência das lives serem usadas por CEOs para fazer comunicação interna. Nos tempos de hoje, usar ferramentas para poder se comunicar com os colaboradores, explicar a estratégia da companhia e o caminho que todos devem percorrer juntos para atingir determinado objetivo, é fundamental. E as lives, muito disseminadas na pandemia, estão sendo usadas com esse propósito também dentro das empresas”, contou o executivo.
Nicklas destacou o mercado brasileiro e como ele pode exportar inovação para o mundo. “Nesse mundo onde todos têm acesso as mesmas ferramentas, você se pergunta, o que gera inovação? A inovação vem dos desafios e problemas a serem superados e, no Brasil, os desafios que temos no país são semelhantes aos do resto do planeta, diferente dos desafios endereçados ao Vale do Silício. Isso gera uma oportunidade para inovação no ecossistema brasileiro em levar essas soluções para o mundo”, declarou o sócio da Valor Capital Group.
Encerrando a live, o sócio-fundador da Mene & Portella afirmou, com otimismo, sobre o futuro da economia 4.0. “Somando janeiro e fevereiro deste ano, as startups nacionais já receberam R$ 6,8 bilhões em investimentos, segundo estudo da Distrito. Temos grandes desafios a serem enfrentados, mas tenho a convicção de que o futuro nos reserva um ecossistema de inovação muito mais rico e competente no Brasil”.
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