Desafio global é limitar o aquecimento global (Arte/Exame)
Bússola
Publicado em 21 de outubro de 2022 às 20h39.
A 27ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), que irá discutir o futuro da humanidade entre os dias 6 e 18 de novembro, no balneário de Sharm El-Sheikh, no Egito, vai trazer o desafio da implementação dos compromissos assumidos ao longo das diferentes conferências já realizadas. O setor privado tem papel importante na implementação desses compromissos e o Brasil é protagonista nessa agenda.
Essa foi a conclusão da live realizada na última quarta-feira, 19 de outubro, que debateu a participação da iniciativa privada no cumprimento das metas de descarbonização, além de apresentar caminhos desenvolvidos pelo setor produtivo brasileiro para garantir o uso responsável dos recursos naturais, combinando crescimento e preservação.
O webinar reuniu Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU Brasil; Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI); Karen Oliveira, diretora de Políticas Públicas e Relações Governamentais da TNC (The Nature Conservancy) Brasil; e Mariana Lisbôa, líder global de Relações Corporativas da Suzano. A moderação foi do jornalista Rafael Lisbôa, diretor da Bússola.
Para Karen Oliveira, essa não é uma conferência do clima em que serão discutidos novos acordos e sim a implementação dos acordos já assumidos anteriormente. Ela destacou que já se avançou muito, mas esse avanço ainda é insuficiente para atingir as metas estabelecidas.
“Essa é uma COP de implementação, não de grandes acordos. É uma COP onde temos uma grande lista de tarefas e está na hora de fazer essas tarefas realmente acontecerem. Essa é a primeira grande expectativa que a gente chega na COP: como fazer com que os muitos compromissos anunciados ao longo das conferências sejam implementados. Claro que avanços aconteceram, o próprio setor privado o ano passado fez o anúncio de que tudo que já vinha sendo mobilizado de recursos globalmente chegava a US $130 trilhões, uma quantia muito significativa. Os avanços estão acontecendo, mas não na velocidade necessária”, afirmou.
O desafio global é limitar o aquecimento global em 1,5°C até o fim do século, conforme estabelecido no Acordo de Paris. Para atingir esse objetivo, é preciso reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa. As metas de emissões apresentadas pelos países na COP26, no ano passado, foram consideradas insuficientes, já que o aquecimento do planeta poderia chegar a 2,4°C, e, portanto, espera-se agora uma revisão ambiciosa desses números.
A expectativa para a COP27 é de que essa seja a COP da ação, segundo Mariana Lisbôa. “Nossa expectativa é que a COP27 feche esse ciclo de intenções e fique conhecida como a COP da ação, trazendo detalhes e regulamentação para tudo que já foi acertado na COP26 e a partir daí pavimentando de forma definitiva um caminho para implementação dos temos globais e fundamentais como mercado de carbono e justiça climática”.
Segundo Carlo Pereira, essa Conferência não irá percorrer o mesmo caminho que as anteriores. “Essa COP não vai ser como outras COPs, como a COP21 ou a COP26, a gente não tem grandes coisas a serem definidas na CO27.
Nesse sentido, estamos nos comprometendo com muitas coisas, mas temos que saber como estamos indo. Várias discussões serão para que a gente defina como a gente vai medir país a país e no agregado como estamos nos saindo. Esse é um processo que já chama a COP28”.
Karen Oliveira reforçou a necessidade de fazer a “lista de tarefas” assumidas acontecer de fato. “Eu me somo aos colegas destacando a necessidade de colocar a bola no chão. Essa é uma COP com uma grande lista de tarefas, uma COP de implementação e não de acordos. Temos que fazer essas tarefas aconteceram. Avanços aconteceram, mas não na velocidade necessária”.
Participação do setor privado – Para Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, o setor industrial é parte da solução na questão ambiental. Ele citou que a CNI já trabalha com uma agenda baseada em quatro pilares de sustentabilidade – transição energética, economia circular, conservação florestal e mercado de carbono – sendo que o pilar de transição energética já tem uma agenda bastante estruturada.
“Trabalhamos também a expansão de [energias] renováveis, atuando dentro do Congresso principalmente quando se fala de off-shore, mas a ideia é continuar trabalhando a expansão de renováveis principalmente quando a gente fala de NDC, ou seja, as metas climáticas, então eólica, solar além do fortalecimento da política nacional de biocombustíveis”, afirmou.
Bomtempo também citou a busca de novas tecnologias como mecanismo para avançar na sustentabilidade, sendo uma delas o uso do hidrogênio. “Na questão de novas tecnologias e inovação, a CNI está bastante envolvida com as federações de indústria e com os setores de empresas nessa agenda mais nova que vem sendo considerada muito importante para países desenvolvidos, que é a questão dos combustíveis. A gente fala muito em hidrogênio sustentável e não só o verde, a gente sabe que existem também tecnologias para captura do carbono, então a gente trabalharia tanto o verde como o azul com captura de carbono, até porque hoje o Brasil tem muitas vantagens comparativas nessas agendas”.
Segundo Mariana Lisbôa, o setor privado deve colaborar com os respectivos governos em prol de posicionamentos e objetivos comuns. “Eu acredito muito no ativismo empresarial. O setor privado deve ser um facilitador das discussões climáticas porque é o compromisso do setor privado com o governo que fará diferença.”
Mariana enfatizou ainda que não basta que as empresas estabeleçam metas, é preciso também garantir o cumprimento dessas metas. “A gente não tem dúvida que é essencial que essas metas estejam entrelaçadas aos objetivos centrais da empresa e que a companhia trace as metas de maneira global e transversal ou seja do início ao fim dos seus processos e passando por todas as áreas da companhia.”
Mercado de carbono
Em relação ao instrumento de mercado de carbono, os participantes concordaram que o mercado é um instrumento importante, mas sozinho não irá resolver o problema climático.
“O mercado de carbono é importante, mas o mercado às vezes o vê como solução para que se consiga de fato eliminar o problema, mas não é, nunca foi, ele tem mais um caráter educativo do que de fato pode resolver o problema que a gente tem hoje. Quando a gente pensa em carbono pensando em empresa, temos que pensar na governança climática”, afirmou Pereira.
Segundo Bomtempo, outras ações efetivas são necessárias para resolver a questão climática. “O mercado de carbono sozinho não vai resolver o problema se não tiver outras medidas como a expansão de energias renováveis e outras ações efetivas. Só o mercado não resolve”.
Bomtempo defendeu ainda que seja feita a regulamentação do mercado para que esse possa ser mais uma ferramenta no combate às mudanças climáticas. “Hoje esse é um assunto que está em pauta e já está dentro do Congresso como pauta prioritária. É preciso, no entanto, superar desafios para que ele seja implementado. Governança é um pilar central quando se fala de mercado de carbono regulado, é preciso ter uma metodologia para isso, além de garantir a segurança jurídica”. Ele defendeu ainda que o mercado doméstico converse com o mercado a nível internacional.
Protagonismo brasileiro
Todos os participantes foram enfáticos ao ressaltar a importância do Brasil como protagonista nas discussões sobre as mudanças climáticas. Para os debatedores, o país tem uma vantagem competitiva em relação ao tema, além de já vir trabalhando medidas sustentáveis há algum tempo.
“A gente tem todos os elementos colocados, o mercado de carbono que a gente ainda precisa regulamentar algumas coisas, mas a gente já tem tudo em relação a tecnologia, em relação à vocação natural do país, em relação ao entendimento de boa parte da sociedade etc. Agora a gente tem que agir”, afirmou Carlo.
Os participantes, no entanto, ponderaram que, apesar do protagonismo, o país ainda tem um caminho a percorrer. “Para a gente concretizar esse potencial só tem um caminho: aprimorar nossas políticas públicas para que sejam condizentes com as enormes oportunidades existentes. Os investimentos não ocorrerão por osmose, o que a gente tem aqui é uma vantagem comparativa que com prazo de validade porque o mundo já caminha ou deveria caminhar rumo a neutralidade de emissões”, afirmou Mariana.
Para Karen, o Brasil ainda tem que vencer alguns obstáculos como combater o que é ilegal, fortalecer as parcerias para ter cada vez mais uma governança ambiental e territorial que nos permita implementar om maior efetividade e rapidez as políticas públicas, investir em conhecimento técnico científico que permita fazer com que essa mudança aconteça e dar condições de financiamento para que todos possam trabalhar.
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