É preciso investir em formação, capacitação e no desenvolvimento de carreiras (Oliver Nicolaas Ponder / EyeEm/Getty Images)
Bússola
Publicado em 12 de janeiro de 2022 às 19h03.
Última atualização em 12 de janeiro de 2022 às 19h23.
A pandemia acelerou a transformação digital em todas as atividades e empresas dos mais diversos segmentos estão na corrida para se adequar a essa nova realidade e, principalmente, para encontrar e reter profissionais qualificados — engenheiros, desenvolvedores e programadores — que possam contribuir para a consolidação tecnológica no país. Um desafio constante e que pode ser vencido — no curto e no longo prazo — com investimentos (públicos e privados) em formação e capacitação e no desenvolvimento de carreiras.
Essa foi a conclusão da live realizada pela Bússola, nesta quarta-feira, 12, sobre o Mercado de Tecnologia em Alta e a Corrida por Profissionais do Setor. O webinar reuniu Arthur Alvarenga, CEO da Hubla; Marcelo França, CEO da Celcoin; Michele Mafissoni Heemann, vice-presidente de Pessoas, Cultura e Gestão da Contabilizei; e Suien Braga, gerente de Pessoas da Nelogica.
De acordo com Marcelo França, o desafio é muito grande. “Hoje, todas as empresas precisam de tecnologia e, portanto, o mercado está muito aquecido”. O executivo afirma que não existe receita mágica para atrair e reter os melhores talentos, mas que é importante investir em um ambiente acolhedor e flexível — a Celcoin ganhou no ano passado o selo GPTW (Great Place to Work ou "Melhores Empresas para Trabalhar") e investe no novo conceito de trabalho híbrido, com colaboradores em dez estados brasileiros, buscando recursos nacional e globalmente.
De acordo com Marcelo, além do ambiente favorável, é preciso apresentar aos profissionais os desafios não só da vaga em si, mas de participar de um movimento tecnológico disruptivo, como é o caso do cenário de Open Banking, onde a empresa atua. França reforça que um conjunto de ações tem ajudado a empresa a atrair esses profissionais, entre elas M&As que absorvem não só os produtos, mas o time de tecnologia de outras empresas e o investimento em treinamentos e na formação dos profissionais, desde a base, com parcerias com universidades.
Michele Mafissoni Heemann concorda que o desafio é gigante. A Contabilizei tem, no momento, 80 vagas abertas e, no prazo de dois anos, a previsão desse número é de 230, considerando apenas as posições de tecnologia e produto. “Além do perfil técnico/sênior, um desafio também é encontrar profissionais que estejam alinhados ao propósito e aos valores da empresa, que queiram impactar o país e construir algo inovador”, afirma.
Arthur Alvarenga afirma que, para competir com empresas nacionais e estrangeiras, uma estratégia adotada pela startup é colocar a tecnologia como centro do negócio. “Um diferencial que adotamos foi entender as áreas de engenharia e produto como coração do negócio e não como algo separado, como muitas empresas fazem. Na Hubla os engenheiros participam das decisões estratégicas e do dia a dia do negócio e dos produtos”.
Suien Braga afirma que, mesmo diante desse cenário desafiador pontuado pelos demais, a Nelogica contratou no ano passado 350 pessoas e tem hoje 60 posições abertas para os times de tecnologia, cuja tendência é dobrar de tamanho até o final do ano, tendo em vista o crescimento da empresa (em torno de 100% a 120% ao ano). A estratégia da empresa é usar a tecnologia para ajudar na contratação de profissionais de tecnologia e investir na marca empregadora.
“Nosso time de sourcing e seleção é totalmente orientado por dados — analisamos informações sobre demanda, profissionais recém-formados, turnover, médias salariais, entre outros —, a fim de otimizar a busca pelos profissionais e nos tornarmos mais competitivos. Parcerias com universidades, escolas de desenvolvedores, feiras de tecnologia e até influenciadores também têm trazido resultados positivos”, afirma Braga.
O segredo está na base
Para sanar o déficit de profissionais para o mercado de tecnologia no país, Marcelo destaca uma conscientização maior dos estudantes sobre o tamanho do mercado e da oportunidade em tecnologia e engenharia, além de uma reestruturação e readequação dos cursos e das grades curriculares, olhando também para os cursos profissionalizantes. “Escolas dentro de empresas também se apresentam como uma saída para solucionar o gap. Assim as empresas podem formar profissionais de qualquer senioridade, dentro da tecnologia que precisam e desenvolvem”, diz.
Michele pontua que olhando de uma maneira geral para o país, seria necessário revisitar toda a formação — desde a base. “Se o estímulo viesse desde o ensino fundamental — talvez o gap fosse solucionado em cinco ou dez anos — pois a demanda seria direcionada para a necessidade que o país tem”. Para as empresas, a executiva destaca que, mais do que a formação — que tem seu tempo de maturação e é constante — é importante investir em um plano de desenvolvimento de carreira para os profissionais, com gestores qualificados que atuam como mentores.
Arthur destaca que, no curto prazo, existem várias iniciativas públicas e privadas, incluindo cursos e vídeos online, mas que, no longo prazo, o problema é estrutural, passando pela formação educacional no Brasil. “Investimentos em escolas de ensino médio com fundamentos tecnológicos como computação, robótica, algoritmo, lógica etc. trazem a conscientização e a familiaridade dos jovens com a tecnologia desde o momento em que eles começam a pensar na sua carreira, e isso pode gerar um efeito maior a longo prazo”.
O executivo sinaliza que a tecnologia muda exponencialmente, mas que o comportamental e a capacidade de adaptação vão determinar o sucesso e o crescimento desses profissionais. Concordando com Arthur, Michele pontua que o mercado entende senioridade somente considerando a parte técnica, mas que o comportamental, ou seja, a forma como a pessoa toma decisões, sua visão sistêmica etc. é muito importante também para atestar a senioridade de um profissional e ambos afirmam que o plano de carreira pode mudar essa dinâmica.
Suien faz uma afirmação categórica: “Qualquer evolução na sociedade permeia a educação”, destacando a necessidade de investimentos em cursos livres e rápidos para formação de DEVs, por exemplo, que não existem hoje. E destaca que, enquanto empresa, a Nelogica investe na formação de seus colaboradores e acredita na capacidade e na vontade desses colaboradores de aprender. “Não queremos um profissional que venha pronto, queremos profissionais para desafios do futuro, afinal linguagens de tecnologia estão sempre mudando. A parte técnica é importante, mas pode ser desenvolvida”.
5G e o futuro da tecnologia
A chegada da tecnologia 5G promete revolucionar o futuro dos diferentes setores econômicos e exigir mão de obra cada vez mais capacitada.Neste sentido, Marcelo afirma que a Celcoin está estudando as possibilidades de aplicação do 5G para potencializar os negócios da empresa, além dos impactos imediatos no dia a dia, na conectividade, no trabalho remoto e nos novos profissionais que devem surgir a partir dessa demanda.
Michele afirma que a Contabilizei tem uma expectativa bem grande e positiva em relação ao 5G e às novas funcionalidades que a empresa poderá oferecer a seus clientes, impulsionadas por essa tecnologia, além da facilidade de contratação em qualquer região, com uma boa conectividade em qualquer lugar.
Segundo Arthur, “a Hubla foi criada e existe justamente pela adoção da tecnologia pelo consumidor final (acelerada pela pandemia) e o 5G amplia essa adoção e esse uso das ferramentas”. A empresa está estudando as possibilidades de otimização e potencialização da tecnologia 5G, principalmente no mobile com mais capacidade e velocidade na internet, gerando experiências mais imersivas no mundo virtual, tendo em vista o potencial do metaverso, por exemplo. Sobre a mão de obra, o executivo pontua que o 5G aumenta ainda mais o gap entre a qualificação disponível no mercado e a que o mercado vai precisar.
Considerando que as coisas mudam e mudam muito rápido, principalmente em tecnologia, Suien dá dicas de sucesso para os profissionais que estão ou querem estar no mercado: “Profissionais de todas as áreas devem ter sede por conhecimento e disposição para aprender e desaprender e sair da zona de conforto ou estar em zona permanente de desconforto, buscando sempre conhecimento, atualização e evolução constante”, diz.
Todos os participantes concordaram que é importante para o profissional pensar em que tipo de empresa quer trabalhar, quais são os desafios quer assumir — no dia a dia e a longo prazo e do que ele gosta. E que, além da necessidade de aprendizado e atualização constante — cursos, podcasts, livros —, o network é muito importante para saber o que está sendo usado, o que funciona etc. e para desenvolver também as soft skills.
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