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Liderança humanizada: promover o bem comum é difícil?

Esta semana, Cristiano Zanetta fala sobre liderança, gestão de pessoas, empatia e humanização

"Na busca pelo entendimento mais profundo da psique humana, destaca-se a importância crucial de confrontar nossa própria escuridão" (Freepik/Reprodução)

"Na busca pelo entendimento mais profundo da psique humana, destaca-se a importância crucial de confrontar nossa própria escuridão" (Freepik/Reprodução)

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Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 09h00.

*Por Cristiano Zanetta

Diante do desafio de moldar uma liderança autenticamente humanizada, somos confrontados por um percurso de autoexploração, onde a compreensão do impacto de nossas ações no coletivo se revela como a bússola que orienta nosso caminho. Para Carl Jung, “pai” da psicologia analítica, tudo o que nos irrita nos outros pode ser um espelho das nossas próprias sombras e a busca por uma liderança que promova o bem comum requer uma profunda exploração do nosso eu interior.

Fazer o bem, embora nobre em sua essência, apresenta desafios que muitas vezes refletem a complexidade da natureza humana. Essa dificuldade surge, em parte, da tensão entre os interesses pessoais e o benefício coletivo. Vivemos em uma sociedade que frequentemente exalta o sucesso individual, tornando escolhas altruístas uma exceção em um mundo guiado pelo individualismo.

A ética, intrinsecamente ligada à ação compassiva, muitas vezes nos coloca diante de dilemas complexos, como a justa distribuição de recursos. Enfrentar críticas sociais e a incompreensão daqueles que não compartilham da mesma visão também figura como um desafio a ser superado. Afinal, o caminho para promover o bem comum é muitas vezes pavimentado com decisões que exigem sacrifícios e enfrentamento de pressões externas.

Explorando os contornos da liderança para o futuro, a 21ª edição da pesquisa Carreira dos Sonhos, conduzida pelo Grupo Cia de Talentos, em 2022, oferece insights valiosos sobre os anseios de mais de 117 mil participantes, abrangendo desde jovens profissionais até figuras de média gestão e alta liderança. 

Os resultados revelam a seguinte dinâmica: 61% dos jovens manifestam a intenção de buscar novas oportunidades nos próximos meses, enquanto aqueles que ocupam cargos de média gestão e alta liderança representam 54% e 42%, respectivamente. 

Para todas as categorias abordadas, os aspectos mais valorizados no ambiente de trabalho estão intrinsecamente vinculados à influência que o trabalho exerce sobre o bem-estar e a qualidade de vida dos colaboradores, bem como ao papel crucial das experiências na promoção do crescimento pessoal e na construção do sentimento de pertencimento à empresa.

Nesse sentido, uma liderança mais voltada para o lado humano se apresenta como uma resposta congruente a essas demandas, focando não apenas nas metas organizacionais, mas também no impacto positivo na vida dos colaboradores.

A odisseia e o olhar para dentro

Em uma perspectiva junguiana, a liderança humanizada começaria com um olhar para dentro, uma busca profunda pelo autoconhecimento. A citação "Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, desperta" nos lembra da importância de entender nossas próprias motivações, valores e sombras. 

O inconsciente, como uma bússola, só pode nos guiar se soubermos interpretá-lo. Isso implica em tornar o inconsciente consciente, transformando-o em uma ferramenta para moldar nossas ações e escolhas.

A consciência da própria sombra

Na busca pelo entendimento mais profundo da psique humana, destaca-se a importância crucial de confrontar nossa própria escuridão. Em um mundo onde vestimos máscaras com frequência, o risco de perdermos a conexão genuína com nossa verdadeira essência é iminente. Contudo, ao conscientemente iluminar os recantos do inconsciente, não apenas nos tornamos aptos em reconhecer e aceitar nossas limitações, mas também desenvolvemos uma capacidade ampliada de compreender as sombras do outro. 

Essa consciência não é apenas uma chave; é o portal para uma humanidade mais profunda e compassiva. Podemos assimilar todas as teorias e técnicas, mas, ao mergulhar na essência de uma alma humana, somos chamados a ser nada além de uma outra alma humana.

Por que devo ser bom se ninguém é bom comigo?

Promover o bem comum por meio da liderança é, incontestavelmente, desafiador. Mas ao aprofundarmos nossa compreensão das complexidades éticas inerentes, ao resistirmos às pressões sociais e, principalmente, ao realizar uma exploração intrínseca de nosso interior, desvendamos um caminho mais consciente e compassivo. 

Em meio às adversidades, a tentação de adotar a crueldade como resposta pode surgir, alimentada pela percepção de que o mundo não nos trata com bondade. Só que é nesse exato momento que a sua força benevolente interior deve ser manifestada. Optar pela compaixão, mesmo quando desafiado pela adversidade, não é uma escolha simplista, mas uma demonstração de coragem e resistência. 

Enfrentar as sombras internas, compreender as dores alheias e persistir no caminho do bem comum requer um esforço constante e consciente.

Forjando o bem comum

A jornada para promover o bem comum não é pavimentada apenas com boas intenções, mas com ações que surgem da nossa integridade moral. O desafio de manter uma postura benevolente em um mundo que nem sempre responde com gentileza não reduz a significância do impacto positivo que essa escolha pode exercer na vida de outra pessoa.

*Cristiano Zanetta é empresário, palestrante TED,  filantropo reconhecido pela Warner Bros e autor do livro "A Ciência do Batman"

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