Eliminar o gap nos cuidados com a saúde feminina melhoraria a vida das 3,9 bilhões de mulheres do mundo até 2040 (Thomas Barwick/Getty Images)
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Publicado em 4 de abril de 2024 às 13h00.
*Por Tracy Francis e Marcus Frank
Mulheres não são homens. Uma obviedade. Ainda assim, a fisiologia masculina é tomada como padrão na maioria das pesquisas e tratamentos médicos. A lógica, aliás, começa ainda nas fases iniciais dos estudos clínicos, com testes feitos em animais — machos.
Somada a diversos outros fatores, essa realidade impacta no bem-estar geral da população feminina. Embora tenham uma expectativa de vida maior, elas passam 25% mais tempo do que eles em condições de saúde precárias.
Eliminar o gap nos cuidados com a saúde feminina melhoraria a vida das 3,9 bilhões de mulheres do mundo até 2040, com reflexos diretos na economia. Segundo o novo relatório do McKinsey Health Institute em parceria com o Fórum Econômico Mundial, o impacto no PIB global pode ser superior a US$ 1 trilhão por ano — US$ 13 bilhões só no Brasil, acelerando o crescimento sustentável e inclusivo no país.
Além do enorme impacto social positivo, cada dólar investido para reduzir a lacuna de saúde entre mulheres e homens poderia gerar US$ 3 em crescimento econômico.
Ao se fazer o recorte do Brasil, a grande oportunidade econômica está relacionada à síndrome pré-menstrual, cujo impacto potencial é de US$ 2,4 bilhões, seguida por depressão (US$ 2 bilhões) e enxaqueca (US$ 1,5 bilhão). Ainda completam essa lista transtornos de ansiedade, outras enfermidades ginecológicas, osteoartrite, artrite reumatoide, câncer de colo do útero, asma e dor lombar.
A saúde da mulher é vista com frequência como um nicho. No entanto, os números acima mostram o contrário e essa nova percepção está ganhando mais espaço – mesmo que lentamente.
Na última década, o ecossistema de inovação viu crescer as chamadas femtechs, startups que desenvolvem produtos e serviços voltados às necessidades femininas, principalmente nas áreas de saúde e bem-estar. Ainda assim, foi um período em que, globalmente, as femtechs captaram só 3% do total dos investimentos de saúde digital, outra potencial avenida de inovação para tornar o acesso ao cuidado mais igualitário.
Essa falta de investimento é um entrave para a inovação e a escala. Numa análise global, a McKinsey constatou que 11 startups focadas em disfunção erétil, entre outras questões de saúde masculina, obtiveram US$ 1,24 bilhão em financiamento entre 2019 e 2023, enquanto oito startups dedicadas à endometriose receberam US$ 44 milhões — 28 vezes menos.
Parte da solução dos desafios passa necessariamente pela forma que os estudos são concebidos.
O relatório da McKinsey analisou mais de 650 pesquisas clínicas mundo afora e descobriu que só metade delas desagregou os resultados por gênero, apesar de as distinções entre os sexos irem bem além do sistema reprodutivo.
A falta de representatividade nas investigações leva a distorções no atendimento. O caso da arritmia cardíaca é emblemático. Apesar de uma mulher ter o dobro do risco de morrer após um infarto, os homens têm três vezes mais probabilidade de receber terapia adequada.
O mais recente estudo do McKinsey Health Institute mostra que investir na saúde da mulher tem um potencial trilionário, impactando positivamente a sociedade enquanto também cria valor adicional à economia, promove o avanço da ciência e fomenta a inovação. É acrescentar mais anos à vida delas e mais vida aos anos que elas têm.
*Tracy Francis é sócia sênior da McKinsey em São Paulo, líder global de branding, comunicação e marketing e uma das autoras do relatório.
*Marcus Frank é sócio da McKinsey em São Paulo e líder regional do McKinsey Health Institute (MHI).
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