COP29 - Azerbaijao - Baku - 2024 - André Aranha Corrêa do Lago fala com jornalistas na COP29 Foto: Leandro Fonseca data: 14/11/2024 (Leandro Fonseca/Exame)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 19 de março de 2025 às 10h00.
A carta do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, traz uma mensagem de encorajamento e união em torno do desafio das mudanças climáticas. Em tom otimista, o documento convida todos os setores da sociedade — governos, empresas, academia e população em geral — a atuarem em conjunto para frear o avanço do aquecimento global. Trata-se de um chamado que busca despertar a consciência coletiva e fortalecer a ideia de que, diante de um problema de tamanha magnitude, precisamos de uma ação compartilhada em nível planetário.
Um ponto fundamental que emerge na leitura da carta é o papel histórico do Brasil como mediador em negociações complexas. Essa tradição diplomática brasileira é um ativo estratégico para que 2025 se converta em um marco na agenda climática. Em meio a tantos desafios — aumento da temperatura global, riscos à estabilidade financeira e desigualdades que se agravam —, o país se propõe a liderar uma conversa global pautada pela cooperação e pela solidariedade. Nossa liderança precisará ser capaz de articular interesses distintos e buscar convergências que permitam avançar no equilíbrio entre desenvolvimento econômico, proteção ambiental e justiça social.
A carta também ressalta que o encontro de 2025 será inevitavelmente atravessado pela percepção da urgência climática, cujo impacto já se faz sentir em diversos cantos do mundo. A COP30, a primeira no “epicentro” declarado da crise, não deve se restringir a declarações protocolares; ao contrário, busca-se que ela se transforme em um ponto de virada, quando as decisões dos governos e do setor privado finalmente se alinhem às evidências científicas e às demandas sociais. É nesse cenário que o embaixador convoca todos a participarem de um verdadeiro “mutirão global” — expressão enraizada na cultura brasileira, simbolizando união e trabalho conjunto em prol de uma meta comum, especialmente em momentos de grande necessidade.
Nesse mutirão, a participação das empresas se torna particularmente relevante. O setor privado detém recursos, tecnologias e alcance capazes de acelerar transições necessárias, seja no campo energético, na gestão de recursos naturais ou no desenvolvimento de soluções inovadoras. Ao mesmo tempo, enfrentar a “banalidade da inação” climática exige que as corporações assumam compromissos sólidos, com metas claras e investimentos consistentes em projetos socioambientais. É preciso que o discurso de sustentabilidade se traduza em práticas efetivas, garantindo que a economia de baixo carbono seja não apenas um ideal distante, mas um caminho percorrido de forma concreta, transparente e inclusiva.
Em última análise, a carta deixa evidente que a COP30 não pode ser mais um evento isolado: sua realização na Amazônia e a ampla expectativa global que a cerca tornam 2025 o ano para forjar um novo consenso. O Brasil, apoiado em seu histórico de mediador, surge como fio condutor de diálogos e acordos — um país disposto a somar esforços, inspirar parcerias e incentivar a ação conjunta de governos, sociedade civil e empresas. Essa combinação de cooperação internacional e protagonismo do setor produtivo pode, enfim, inaugurar uma fase decisiva no combate às mudanças climáticas, ancorada em nossa capacidade de trabalhar lado a lado em busca de um futuro comum mais resiliente e justo.
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