“Precisamos que cada pessoa exerça cotidianamente o verdadeiro espírito crítico” (ViewApart/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 18 de janeiro de 2024 às 07h00.
O esperado (e largamente comentado) relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial veio com um fator inédito de destaque em 2024.
Pela primeira vez, a preocupação com "informações falsas e desinformação" apareceu com destaque no levantamento feito com 1400 lideranças empresariais em 113 países.
Na visão de longo prazo (10 anos), o tema é o 5º mais relevante e na de curto prazo (2 anos) está no topo da lista de principais riscos mapeados.
Não farei aqui um resumo geral do relatório, pois vários deles já estão disponíveis na imprensa e redes sociais. Recomendo apenas a leitura criteriosa e crítica desse volume assombroso de informação, uma vez que – como a própria pesquisa indica – o risco da desinformação é altíssimo nos dias atuais.
Contudo, me parece relevante destacar:
Perguntas retóricas não pedem resposta, mas como autista não consigo deixar as coisas “em aberto”, suspensas. Então minha resposta simples é que sim, existe remédio. E ele passa pela valorização da verdade.
O debate sobre o tema da desinformação tem se centrado em seu aspecto tecnológico – provavelmente pelo assombro que o desenvolvimento acelerado das IAs nos causa.
A regulação e bom uso das ferramentas de fato merece atenção, mas é igualmente relevante estabelecermos uma cultura – ou uma mentalidade, como dizem os historiadores - que valorize a verdade.
Precisamos que cada pessoa exerça cotidianamente o verdadeiro espírito crítico. Se a produção de conteúdo falso está mais verossímil, é preciso desconfiar de tudo. E mais que isso: é necessário que se aprenda a checar informações, fazer perguntas e levantar evidências.
É provável que as interações cotidianas fiquem mais custosas, na medida em que compreendemos que qualquer informação compartilhada é possivelmente falsa, exceto por aquelas veiculadas em canais de reconhecida credibilidade.
Aliás, se credibilidade fosse um ativo financeiro, receberia meus investimentos. É nesse ativo que se baseia a atuação da imprensa, que tradicionalmente exerce esse papel de filtro de informações e guardiã dos métodos que permitem uma apuração precisa daquilo que é de interesse público.
Por questões sociais, econômicas e técnicas, seu papel tem sido fortemente questionado e sua relevância foi enfraquecida nos últimos anos.
Mas a partir do momento em que reconhecemos a desinformação como um grande risco para nossa sociedade e economia, se estabelece uma oportunidade para resgate do papel social do jornalismo como provedor de informações confiáveis, idôneas e verdadeiras.
Em um ambiente de hiperconectividade e bombardeio constante de dados – em grande parcela falsos –, o modelo que centralizava os filtros de credibilidade na grande imprensa não será suficiente.
Mais do que agências de checagem, precisamos de leitores e leitoras capazes de distinguir o que é crível do que é possivelmente falso, com disposição inclusive para apontar verdades que enfraqueçam sua posição ideológica.
Nas discussões mais teóricas do jornalismo costumamos tratar de como a verdade é uma utopia, um conceito relativo que pode comportar versões por vezes contraditórias de um mesmo fato.
Mas diante dos riscos que vivemos, é uma utopia que merece ser perseguida.
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