Agenda ESG das corporações precisa ser acelerada (Sansert Sangsakawarat/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 1 de maio de 2025 às 07h00.
Dois levantamentos recentes, o Panorama Sustentabilidade 2025 da Amcham e o estudo Avanços e Desafios: A Maturidade ESG nas Empresas Brasileiras 2024, conduzido por Beon, Nexus e Aberje, analisam universos diferentes, mas convergem num ponto essencial: a agenda ESG avançou, porém ainda falta musculatura — e tempo — para torná-la determinante nos resultados de negócio.
A Amcham revela que 76% das empresas já praticam sustentabilidade em algum grau e que 72% a declaram parte da estratégia. Já a pesquisa Beon/Nexus/Aberje, focada em médias e grandes corporações, mostra quadro mais conservador: 51% têm estratégia formal de sustentabilidade, embora isso represente um salto de 14 p.p. desde 2021.
A aparente discrepância é, na realidade, um complemento: enquanto a Amcham mede adoção de práticas (ainda que incipientes), o estudo da Beon mira na existência de políticas estruturadas. Juntas, as duas lentes sugerem que metade do mercado já pensa ESG de forma estratégica, mas apenas parte disso consegue traduzir intenção em ação de fato.
Os desafios se repetem. Na amostra da Amcham, 58% dos executivos dizem não saber provar o retorno financeiro da agenda, o que freia investimentos. Na pesquisa Beon/Nexus/Aberje, apenas 20% publicam relatórios de sustentabilidade e 27% fazem avaliação de materialidade, etapas básicas para transformar dados em decisão. Sem mensuração, não há narrativa financeira convincente — e o ciclo de inércia se perpetua.
Curiosamente, onde as empresas conseguem avançar, o valor aparece. No segmento “inovadores” da Amcham, 87% relatam melhoria de reputação e igual porcentual percebem impacto socioambiental positivo, além de 82% que ganham acesso a novos mercados. A Beon/Nexus/Aberje confirma o mesmo padrão: o salto de adoção estratégica veio acompanhado de 39% das companhias com estrutura ESG dedicada e 59% mapeando stakeholders — sinais de que integrar pessoas e processos potencializa a entrega.
Mas ainda falta chão: 48% das empresas na pesquisa da Amcham fazem benchmarking, enquanto na Beon somente 43% possuem metas ambientais claras. Relatórios, métricas externas e compromisso público continuam exceção, não regra. A lição é cristalina: sem transparência, a conversa com investidores, consumidores e reguladores vira monólogo.
O recado combinado das duas pesquisas pode ser resumido em três pontos:
Passamos de “tendência” a “rota obrigatória”, porém a estratégia ainda não se converteu, na mesma proporção, em processos, metas e accountability.
ROI, precificação de carbono, IFRS S1/S2 ou relatórios anuais não são burocracia; são a língua que o capital entende. Sem falar esse idioma, a agenda corre o risco de continuar no rodapé dos orçamentos.
A soma dos dados mostra avanço acelerado desde 2021. Só que o cronômetro climático corre mais rápido. Quem ainda hesita na largada corre o risco de descobrir que não haverá segunda chamada para as empresas retardatárias.
Em síntese, as conclusões da Amcham e Beon/Nexus/Aberje não se sobrepõem; elas se completam. O futuro pertence a quem conseguir transformar intenção em evidência e evidência em resultado antes que a régua de mercado suba outra vez. A maratona da sustentabilidade continua — mas a cada novo estudo fica mais claro que o pelotão dos líderes já corre em ritmo de sprint.
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