(Photoneye/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 19 de junho de 2024 às 17h00.
Alguns analistas gostam de usar a figura do pêndulo para comentar movimentos e pautas que, ao longo do tempo, surgem como grandes novidades, perdem força e mobilização, são em alguma medida desacreditados e voltam a ganhar relevância, normalmente com nova roupagem e um melhor entendimento geral sobre o assunto.
Provavelmente algum colega já deve ter avaliado que é isso que de alguma forma vem acontecendo com a agenda ESG, especialmente no mercado financeiro. A meu ver, contudo, a figura é insuficiente para ler esse cenário. O pêndulo explica parte do processo, mas também estamos diante de um cabo de guerra, ou alguns deles. O mais óbvio é a disputa entre investidores que incentivam o uso de critérios e práticas ESG e aqueles contrários à agenda (anti-woke, como o comportamento se apelidou internacionalmente).
No primeiro, estão desde militantes de causas socioambientais até gestores de recursos pragmáticos e preocupados com a gestão de riscos de seus ativos, passando por investidores de impacto, filantropistas e outros grupos.
No segundo, há militantes e políticos extremistas, economistas ultra liberais e até investidores tradicionais preocupados com o retorno de curto prazo de seus ativos.
Aliás, é neste aspecto que reside a segunda – e talvez até mais relevante – disputa de interesses que faz a agenda ESG ser considerada, a depender de quem avalia, tanto uma panaceia que salvará o mercado quanto uma distração que desperdiça recursos. Como trata-se de uma agenda de mitigação de riscos e perenidade (ou resiliência) dos negócios, é natural e esperado que seus retornos sejam verificáveis no longo prazo. Aliás, é exatamente a correlação entre retorno de longo prazo e boas práticas ambientais, sociais e de governança o fator que deu origem à sigla.
E nem me refiro ao day trade e às promessas enganadoras de lucro fácil hoje utilizadas para enganar investidores incautos. Os melhores mecanismos de gestão e de incentivos estão estabelecidos para direcionar a busca por maximização de retornos no prazo mais curto possível, mesmo que às custas de externalidades negativas. Inclusive quando há métricas criadas para mitigar tais impactos, sua relevância é proporcionalmente menor, o que faz com que o longo prazo fique sempre para depois.
Claro que acompanhar os resultados do tempo presente é essencial, mas produzir retorno de curto prazo a qualquer custo leva a prejuízos futuros, para a própria empresa e para as partes impactadas por ela - que na maioria das vezes sequer tem responsabilidade pelas escolhas. Não à toa, estudos sobre crises corporativas indicam que a maior parte delas poderia ser prevista e mitigada. O mesmo vale para as crises planetárias, criadas pela lógica de exploração irracional de recursos, em velocidade crescente para acompanhar a sede de maximização de retornos imediatos. Estamos roubando o futuro para alimentar nossa ganância.
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