Desigualdade verde (Reprodução Google Earth)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 10h00.
Em um mundo em fragmentação, as desigualdades socioeconômicas são um dos principais desafios para o futuro da humanidade, pois transcendem a esfera social e se interligam às diversas crises ambientais em curso. A estagnação na redução da pobreza extrema e o agravamento das mudanças climáticas formam um ciclo vicioso em que vulnerabilidades sociais são amplificadas por impactos ambientais, criando barreiras para o desenvolvimento sustentável.
De acordo com dados divulgados pelo Banco Mundial, a redução da pobreza extrema praticamente estagnou nos últimos cinco anos, evidenciando a dificuldade em superar desigualdades estruturais. O contexto de emergência climática torna ainda mais evidente a urgência de políticas públicas voltadas à inclusão social e econômica, já que a desigualdade amplia a exposição das populações vulneráveis a riscos climáticos, crises sanitárias e flutuações econômicas.
Comunidades em situação de pobreza dispõem de menos recursos para lidar com as consequências das crises ambientais geradas pelos mais ricos: desastres naturais, escassez de água e perdas na agricultura, entre outras crises, são riscos conhecidos intelectualmente por grandes corporações, enquanto são vivenciados na pele por quem tem menos recursos. Além disso, o aumento dos eventos climáticos extremos – como secas, enchentes e ondas de calor – intensifica a insegurança alimentar e diminui as oportunidades de geração de renda em regiões dependentes de atividades agrícolas, agravando desigualdades. Estamos na mesma tempestade, mas em barcos muito diferentes, como tem se dito corretamente por aí.
Se não bastasse o agravamento de crises socioambientais, as consequências econômicas das mudanças climáticas podem ser significativas. Uma pesquisa da Universidade de Exeter indica que o crescimento econômico global pode sofrer uma queda de até 50% nos próximos 20 anos em função de choques climáticos. Esse impacto negativo reflete em menor capacidade de investimento em serviços básicos – como saúde, educação e infraestrutura –, alimentando ainda mais o ciclo de desigualdade e pobreza.
Não é apenas o clima que influencia a economia; a perda de biodiversidade, a poluição de ecossistemas e a escassez de recursos naturais também impõem custos crescentes à sociedade. Em contrapartida, a adoção de práticas sustentáveis gera oportunidades de negócios e novas indústrias, como as de energia limpa, tecnologia de baixo carbono e serviços de restauração ambiental.
Para enfrentar os efeitos socioeconômicos e ambientais de forma integrada, diversas instituições e empresas estão desenvolvendo estratégias de transição para uma economia de baixo carbono e resiliente às mudanças climáticas. Para isso, empresas e governos precisarão trabalhar em conjunto para desenvolver e implantar planos de redução de emissões, buscar inovações em energia renovável e agricultura sustentável e melhorar a governança ambiental. Além disso, iniciativas de restauração florestal e recuperação de ecossistemas – como indicou um estudo divulgado pela FAPESP – podem gerar não apenas benefícios ambientais, mas também alavancar o crescimento econômico, sobretudo em regiões onde a atividade florestal pode se tornar fonte de renda e emprego.
Em resumo, a superação das desigualdades socioeconômicas e a mitigação das crises ambientais dependem da convergência de políticas públicas e da iniciativa privada. Um futuro sustentável dependerá de medidas como:
As desigualdades socioeconômicas não só comprometem o bem-estar das populações mais pobres, mas também agravam os impactos das crises ambientais. A resposta a esses desafios exige uma abordagem integrada, capaz de promover a inclusão social ao mesmo tempo em que se investe em soluções climáticas e de preservação ambiental. Esse caminho, embora desafiador, representa uma oportunidade para repensar o desenvolvimento em bases sustentáveis, enfrentando desigualdades e crise climática de forma simultânea.
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