“A desigualdade global se manifesta em todas as esferas da vida social e econômica”, afirma o colunista Bússola. (luoman/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 24 de janeiro de 2024 às 15h00.
Enquanto as principais lideranças econômicas e políticas do mundo se reuniam em Davos, nos Alpes Suíços, para o Fórum Econômico Mundial, a organização da sociedade civil Oxfam divulgou seu relatório “Desigualdade S.A.”.
Nele ficou evidenciado o agravamento do tema e a urgência de estratégias que revertam a tendência de concentração de riquezas e poder em poucas mãos.
O próprio relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial sinalizava, há dois anos, temas como “erosão da coesão social” e “crises de subsistência” entre as dez maiores preocupações de lideranças e especialistas em riscos.
O crescimento das desigualdades era apresentado como um fator relevante de instabilidade. Em outras palavras, o abismo atual é tão grande que rupturas sociais se tornaram um risco relevante para o mundo dos negócios.
Exemplo: Segundo a Oxfam, o 1% mais rico do mundo detém 43% de todos os ativos financeiros globais e emite tanto carbono quanto os dois terços mais pobres da humanidade.
Enquanto isso, populações pobres são as mais expostas aos riscos e impactos das catástrofes que tem se agravado como consequência da emergência climática - por isso temas como justiça e racismo climático são tão fundamentais.
Conforme o Relatório Global de Riqueza de 2023, produzido por UBS e Credit Suisse, nosso país lidera a lista de 14 economias relevantes em concentração de riqueza pelo 1% do “topo da pirâmide” com 48,4% em 2022, 7 pontos percentuais acima da Índia, que ocupa o segundo lugar da lista com 41% e 12 pps acima dos Estados Unidos, que registrou 34,2%.
Para além da concentração, o crescimento das desigualdades gera consequências sociais importantes para quem está na base da pirâmide.
Segundo a Oxfam, nas últimas duas décadas “os preços estão aumentando mais do que os salários em todo o mundo, com centenas de milhões de pessoas vendo seus rendimentos comprarem menos todos os meses e suas perspectivas de um futuro melhor desaparecerem”.
Do outro lado, o crescimento da riqueza extrema tem acelerado.
Adicionalmente, os compromissos com qualidade de vida e justiça econômica ainda são raros: “apenas 0,4% das mais de 1.600 maiores e mais influentes empresas do mundo se comprometeram publicamente com o pagamento de salários dignos a seus trabalhadores e apoiam isso em suas cadeias de valor”.
Há dois anos, quando o Fórum Econômico Mundial mapeou temas ligados à desigualdade como riscos relevantes, escrevi que o mercado parecia ter percebido como está tudo interligado.
À época, o grupo já havia mapeado que tal cenário “criará tensões — dentro e além das fronteiras — que podem piorar os impactos em cascata da pandemia e dificultar a coordenação necessária para enfrentar desafios comuns como ação climática, segurança digital, restauração de meios de subsistência e a coesão social”.
Diagnóstico certeiro que antecipou de certa forma os conflitos armados deflagrados desde então, mas que não foi suficiente para orientar decisões e medidas práticas para redução das tendências atuais de concentração de riqueza e poder às custas de condições de vida mais duras para a maioria da população.
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