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Geekonomy: TV ou cinema - quem lucra mais na cultura pop?

Coluna de economia geek da Bússola analisa WandaVision, a nova série do Marvel/Disney+ ao custo de US$25 milhões por episódio

 (Disney/Divulgação)

(Disney/Divulgação)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 19 de fevereiro de 2021 às 20h54.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2021 às 12h38.

Foram 18 meses entre o último lançamento da Marvel Studios, com Homem-Aranha: Longe de Casa , naquele já longínquo julho de 2019, praticamente uma eternidade atrás. Encerrando o arco de filmes da chamada "fase 3", após o estrondoso sucesso de Vingadores: Ultimato, em abril do mesmo ano, o estúdio resolveu deixar os fãs em uma espécie de hiato enquanto sua holding controladora preparava o lançamento da plataforma de streaming Disney+, que se deu em novembro de 2019 (e chegou ao Brasil um ano depois).

E claro, com a pandemia que ninguém previu, somaram-se alguns meses adicionais até que um novo lançamento chegasse. E finalmente, em janeiro de 2021, tivemos acesso a WandaVision, a primeira série de TV do Marvel Cinematic Universe (MCU), esse ecossistema interconectado de histórias e filmes.

Os mais puristas devem se lembrar de que a Netflix produziu um miniuniverso conectado de séries com personagens que tinham alguma ligação com o MCU, mas sempre teve um jeitão meio de spin-off, meio paralelo mesmo (Demolidor, Jessica Jones, Punho de Ferro etc). Então, dada a ligação direta entre os personagens dos filmes principais e a macro história sendo contada, essa coluna considera WandaVision a primeira incursão de fato nesse formato.

A retomada das grandes franquias na televisão já não era novidade. Até mesmo Star Wars, que até anteontem só havia investido na TV com séries animadas – mantendo suas empreitadas live-action para a grande tela – migrou ao formato com a chegada de The Mandalorian, no fim de 2019. E foi um grande sucesso, embora não seja possível precisar sua receita direta (o acesso à série depende da assinatura do serviço de streaming, e não é cobrada separadamente). Embora imagine-se que a margem de receita não seja tão gorda quanto aquelas dos filmes, a série usufrui de um retorno quase tão importante quanto: caiu no gosto dos fãs e gerou um grande buzz, sobretudo quando surpreendeu o mundo com o personagem Grogu (ou Baby Yoda, para os íntimos).

O custo dessas temporadas – tanto as de WandaVision quanto as de The Mandalorian – ficam, no entanto, muito próximos de uma produção cinematográfica. O primeiro ano da série de Star Wars, por exemplo, custou em média US$15 milhões por episódio. Valor semelhante ao investimento por episódio no último ano de Game of Thrones – uma série que já estava hypada e com uma base de fãs sólida e estabelecida. Uma tacada arriscada, visto que as últimas incursões da galáxia muito, muito distante no cinema, embora lucrativa, geraram uma boa dose de críticas e buzz negativo.

WandaVision foi ainda mais longe que The Mandalorian: impressionantes US$25 milhões por episódio. Após uma década de grandes sucessos no cinema, o MCU encerrou um grande macrociclo de histórias, mas ficou com a responsabilidade de iniciar um novo arco que fizesse jus ao primeiro. Diferente das controvérsias com seu primo Star Wars (já que ambos pertencem à The Walt Disney Company), a expectativa era que a dita Fase 4 começasse lá em cima.

E aí, fica a dúvida: o que é mais lucrativo, produzir para o cinema ou para a TV?

A verdade é que, embora aparentemente desfrute de margens mais generosas, a indústria cinematográfica é um negócio de risco. A maioria das produções para a telona, mesmo aquelas menores, mais focada no drama humano do que na explosão de arranha-céus e saltos mortais, custa alguns milhões de dólares. E o retorno só virá se o título alcançar seu público-alvo. Não é ciência exata, requer uma boa dose de risco, como dito acima, e pode gerar prejuízos enormes.

Segundo o Hollywoord Reporter, a Disney investiu mais de US$2.6 bilhões em sua plataforma de streaming Disney+.

O mercado de streaming depende de um catálogo interessante. Portanto, da mesma forma que novas produções são chamarizes para novos assinantes, é imperativo ter títulos interessantes que mantenham a audiência entre as produções. Seinfeld, por exemplo, que foi encerrada mais de 20 anos atrás, custou à Netflix cerca de US$500 milhões pelos direitos de transmissão. Olhando sob essa ótica, os custos de produção de WandaVision e The Mandalorian parecem fazer um pouco mais de sentido.

E esse foi provavelmente um dos motivos da casa do Mickey Mouse ter adquirido sua concorrente 20th Century Fox: Os Simpsons, Family Guy, Arquivo X e outros campeões de audiência com legiões de fãs.

A briga, portanto, já não é tanto entre cinema e TV, até porque a pandemia transformou a forma com que consumimos filmes – hoje os grandes títulos já vão direto para as plataformas de streaming.

A briga é pelo tempo de tela. Um grande lançamento cinematográfico pode gerar uma grande curva de interesse. Mas uma boa série com episódios alonga essa curva, mantendo o interesse e o tempo de tela.

Além disso, mantém as franquias e universos vivos no pensamento dos fãs e espectadores. Nesse ponto, tão importante quanto o lucro é a percepção de audiência, que assim garantirá a perenidade e a possibilidade de continuar investindo em uma mesma franquia.

*Sócio-diretor de Growth na Loures Consultoria

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