(Igor Alecsander/Getty Images)
André Martins
Publicado em 9 de abril de 2021 às 12h35.
Última atualização em 9 de abril de 2021 às 15h34.
A maior parte dos gamers brasileiros é preta ou parda. E mulher. Quase metade dos jogadores vem de classes sociais baixas e médias.
As informações são da Pesquisa Game Brasil 2021 (PGB), divulgada na última quarta (7), que apresenta dados sobre o perfil e o comportamento dos jogadores brasileiros, incluindo suas plataformas preferidas e hábitos de consumo relacionados com marcas.
Pouco menos de um terço (30,3%) dos gamers afirma ter uma renda média familiar de até R$ 4.180. Esse público só conseguiria comprar um videogame de nova geração se juntasse mais de um mês de sua renda sem gastar com nenhuma outra necessidade. Um público um pouco maior de jogadores (30,8%) vive com uma renda média familiar de até R$ 2.090, o que os distancia ainda mais do universo dos consoles.
Como, então, chegamos a um recorte tão democrático e representativo do público gamer? Os dados desafiam o estereótipo do jogador de videogames como uma criança branca e rica, com acesso a todos os melhores gadgets e plataformas.
Historicamente, o acesso aos jogos sempre foi caro. E, como visto acima, ter um console em casa ainda requer um investimento significativo. O que mudou foi a indústria. Falamos sobre a transformação do mercado aqui nesta coluna algumas semanas atrás. Jogar já é mais do que lazer. É interação social também, ainda mais em tempos de pandemia.
A PGB está em sua oitava edição e, seguindo a tendência dos anos anteriores, a plataforma preferida dos brasileiros (41,6%) é o smartphone. Os consoles domésticos ocupam o segundo lugar, com 25,8% de preferência, seguidos pelo computador, em terceiro, com 18,3%.
Além de ser a plataforma preferida, quem joga no celular joga mais: 40,8% do público afirma jogar todos os dias — nos consoles, essa porcentagem é de 15%, enquanto nos computadores é de 19,6%.
“O smartphone oferece o melhor custo-benefício com diversas funcionalidades e portabilidade, incluindo uma grande quantidade de jogos gratuitos que ganharam grande destaque no ano passado, como Free Fire e Among Us. Fora isso, os gamers casuais possivelmente se identificam mais com as propostas dos jogos mobile, que oferecem partidas rápidas e mais acessíveis do ponto de vista de habilidades motoras, por conta da simplicidade da interface do aparelho”, diz Carlos Silva, Head de Gaming da GoGamers, que organizou a pesquisa
A fala de Silva se ampara por outro dado apontado pela pesquisa: 45,4% dos gamers no Brasil preferem os chamados "free to play", ou seja, baixam apenas jogos gratuitos. O principal motivo, conforme esperado, é o preço elevado dos títulos (46,6%). Uma parcela significativa, no entanto, avalia que as opções gratuitas suprem suas necessidades (34,9%), enquanto uma outra parcela prefere não correr o risco de se arrepender pela compra do produto (22,7%).
O que chama a atenção é que um terço dos gamers não investe nenhum valor com jogos, sugerindo uma disposição em aceitar receber ou visualizar propagandas em troca da gratuidade. Ainda assim, 32% costuma gastar em moedas virtuais; 31,4%, em itens de melhorias; e 31,1%, em expansões de jogos.
Os games estão mais democráticos e acessíveis do que em gerações anteriores, justamente pela oferta de jogos gratuitos e novos modelos de consumo que possibilitam o acesso e a variedade de títulos. O universo gamer se torna um elemento de entretenimento que transcende o ato de jogar, uma vez que o crescimento dos streamers, influenciadores e produtores de conteúdo também cresceu bastante.
Além disso, assistir a partidas competitivas de jogos digitais se tornou parte do entretenimento de quem é jogador. Isso sem contar aqueles que sonham em seguir carreira como pro player.
Realmente, as barreiras para o game como profissão competitiva ainda são grandes. Além do equipamento – que faz diferença na performance das competições – há também questões de infraestrutura, como acesso a uma boa internet. Mas iniciativas como a Copa das Favelas – primeiro campeonato de Free Fire criado dentro da periferia – está disposta a enfrentar o estereótipo, mostrando que os games podem sim ser mais acessíveis e democráticos.
A Pesquisa Game Brasil 2021 ouviu 12.498 participantes entre 07 e 22 de fevereiro de 2021. Foi aplicada em território nacional, seguindo como base a distribuição da população brasileira de acordo com dados do IBGE. Foi organizada e produzida por meio de parceria entre a Blend News Research, ESPM, Go Games e Sioux Group.
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