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Geekonomy: Indústria de games ganha seu primeiro Oscar

Pior audiência da história da cerimônia foi marcada por premiações inéditas e um grande ponto de interrogação sobre como e quando consumimos conteúdo

Curta-metragem “Colette” foi produzido para o game Medal of Honor: Above and Beyond, para rodar no equipamento de realidade virtual da Oculus (Colette/The Guardian/Reprodução)

Curta-metragem “Colette” foi produzido para o game Medal of Honor: Above and Beyond, para rodar no equipamento de realidade virtual da Oculus (Colette/The Guardian/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 2 de maio de 2021 às 09h00.

Foi uma noite de muitas novidades. Pudemos presenciar o primeiro ator coreano a ganhar um Oscar e vimos a primeira mulher não branca ser reconhecida como Melhor Diretora (sendo que há dez anos uma representante feminina não ganhava o prêmio). O artista mais velho a levar a estatueta de melhor ator foi Anthony Hopkins, desbancando a promessa de premiação póstuma a Chadwick Boseman, o eterno Pantera Negra. Mas tivemos também pior audiência da história da premiação, batendo o recorde do ano anterior, que já havia sido a menor desde a existência da cerimônia.

Conforme reportado pela Variety a partir de dados da Nielsen, a noite do Oscar 2021 foi acompanhada por cerca de 9,85 milhões de pessoas nos Estados Unidos. O número marca uma diminuição de 58,3% quando comparado ao ano anterior, que bateu quase 14 milhões de espectadores.

Os dados são referentes apenas ao público estadunidense, e embora esta seja, de longe, a principal audiência da cerimônia, não é possível mensurar o real impacto do Oscar ao redor do mundo. 

Há quem não hesite em recorrer à velha e ultrapassada máxima do "quem lacra, não lucra", em um esforço histérico para determinar uma ação de causa e consequência entre uma noite marcada pela representatividade (ao menos em uma comparação histórica com a própria cerimônia, sem entrar no mérito de proporcionalidade e justiça) e seu suposto fracasso. 

Efeito pandemia

Me afasto desse tipo de idiotice e arrisco alguns palpites. Em primeiro lugar, não dá pra descolar essa redução drástica de audiência de todo o impacto que a pandemia causou no mundo. E isso não se deve apenas à redução das ofertas de filmes no mercado, cujas produções foram duramente reduzidas pela segurança das equipes envolvidas. 

A discussão, no entanto, passa pela real importância da cerimônia em si. Se é pra botar o bode na sala, a premiação nunca foi mais do que um recorte de um clube seleto, primariamente composto por americanos que, em determinado momento do ano, decide quais são os melhores filmes dentro de uma lista de critérios subjetivos. Há quem sabe o que está falando e há quem não. No fim, é como um grande mercado de especulação que pode alçar profissionais e obras cinematográficas ao estrelato, aumentando seu valor de mercado por meio dessa exposição qualificada.

Portanto, o Oscar não tem qualquer capacidade de avaliar de maneira objetiva a qualidade de qualquer coisa. Mas é um recorte que pode, sim, dar visibilidade e força para as obras que decidiu premiar, ou mesmo indicar. Quantas vezes, nos últimos anos, você não optou em assistir ou procurar determinar obra porque ela foi indicada ou premiada naquela esperada noite de gala?

E é por isso que é importante ver a representatividade em jogo. Você realmente pode argumentar que a audiência está caindo, mas as conversas sobre o assunto continuam muito relevantes. Dos 20 assuntos mais procurados no Google (no mundo todo, segundo o Google Trends) no dia da cerimônia deste ano, 12 eram referentes ao Oscar. 

Games no Oscar

E em meio a tantas novidades, tantas premiações inéditas, a indústria dos games ganhou seu primeiro Oscar.

A estatueta gamer foi para “Colette”, um curta-metragem produzido para o game Medal of Honor: Above and Beyond, criado para rodar no equipamento de realidade virtual da Oculus. Dentro desse jogo de tiro em primeira pessoa, os jogadores podem desbloquear alguns filmes curtos sobre veteranos da Segunda Guerra Mundial, conforme avançam na narrativa do game. Entre eles, está uma história de 24 minutos sobre Colette Marin-Catherine.

Dirigido por Anthony Giacchino, o filme conta a história dela, hoje com 90 anos, uma das últimas sobreviventes da Resistência Francesa. Após o fim da guerra, ela se recusou a colocar os pés na Alemanha novamente, mas acabou sendo convencida a fazê-lo por uma jovem estudante de história, Lucie Fouble. Uma vez lá, ela visita o campo de concentração nazista onde seu irmão, Jean-Pierre, foi morto.

"A verdadeira heroína aqui é a própria Colette, que compartilhou sua história com integridade e força", disse o diretor de produção do Oculus Studios, Mike Doran, em um post no blog da empresa. “Como vemos no filme, a resistência exige coragem, mas enfrentar o passado pode ser tão difícil quanto. (...) Um verdadeiro ato de bravura e confiança". 

O Oscar de 2021 pode ser uma premiação arbitrária e reflexo de uma pequena bolha que, de longe, não representa a opinião das pessoas. Mas sem dúvida permanece como uma curadoria e aceleradora de obras que, talvez, a gente nem percebesse que existiam. Há, sem dúvidas, uma série de auto-críticas e revisão de formato a serem feitos. Mas, enquanto isso, a gente aproveita para assistir o filme estrelado pelo coreano, a obra dirigida pela cineasta que não é branca e o documentário feito para ser assistido no videogame.

E você pode assistir a Colette aqui.

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