Volkswagen Caminhões e Ônibus vai produzir o O modelo chamado e-Volksbus, ônibus elétrico, em 2024 (Roberto Marinho/Divulgação)
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Publicado em 29 de agosto de 2024 às 10h00.
Por Francisco Christovam*
O Brasil é signatário de importantes acordos internacionais, como o Protocolo de Kyoto, o Acordo de Paris e o Pacto de Glasgow, que visam a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Em cumprimento a esses compromissos, o país tem implementado diversas iniciativas para mitigar os impactos ambientais, em diferentes setores econômicos. O setor de transporte tem se destacado devido à necessidade urgente de reduzir as emissões concentradas em áreas urbanas, densamente povoadas.
Segundo documento publicado, recentemente, pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), as emissões provenientes de ônibus urbanos a diesel representam menos de 1% do total das emissões nacionais. Embora essa fração pareça pequena, a concentração de emissões em áreas urbanas torna a questão particularmente relevante, especialmente, considerando a saúde pública e o bem-estar dos moradores das cidades brasileiras.
A cidade de São Paulo tem sido pioneira na adoção de medidas legislativas para a redução de emissões veiculares. A Lei Municipal nº 16.802/2018 marcou o início de uma série de medidas voltadas para a redução das emissões, estabelecendo metas ambiciosas, como a redução de 50% nas emissões de CO2, até 2028, e de 100%, até 2038.
Essas metas impulsionaram a transformação tecnológica da frota de ônibus na cidade, forçando a substituição gradual dos veículos movidos a diesel por alternativas mais limpas. No entanto, essa transição tem enfrentado desafios significativos, especialmente, no que diz respeito ao planejamento e à adequação da infraestrutura viária e para a carga e recarga das baterias.
Atualmente, as principais alternativas para a descarbonização do transporte público incluem ônibus elétricos movidos a baterias ou com energia proveniente de células de hidrogênio, bem como aqueles que utilizam biometano ou biocombustíveis (HVO ou diesel verde) como fonte de energia. Cada uma dessas tecnologias se encontra em um diferente estágio de desenvolvimento e todas apresentam desafios significativos, em termos de viabilidade comercial e operacional.
Os ônibus elétricos movidos a baterias são vistos como a solução mais viável, no curto prazo. Contudo, sua adoção, em larga escala, exige investimentos substanciais em infraestrutura elétrica, como a instalação de pontos de recarga e adaptação das garagens, para acomodar os carregadores e outros equipamentos necessários à operação desse tipo de frota. Além disso, o custo operacional desses ônibus é, no mínimo, três vezes mais alto do que o dos veículos a diesel, o que torna a sua implementação um verdadeiro desafio financeiro.
A experiência de São Paulo ilustra bem os problemas que podem surgir quando a adoção de novas tecnologias não é acompanhada de um planejamento integrado. A proibição da compra de novos ônibus a diesel, imposta em 2022, obrigou as empresas concessionárias a adquirirem uma frota de 2.600 ônibus elétricos, até o final deste ano. No entanto, a falta de coordenação entre as concessionárias de transporte e a empresa responsável pela distribuição de energia resultou em atrasos significativos na instalação da infraestrutura necessária para a operação dos novos veículos.
As empresas operadoras enfrentam, também, dificuldades para viabilizar os investimentos necessários, não apenas na compra dos ônibus, mas na adaptação das suas garagens e na instalação dos carregadores.
Para superar esses desafios, é fundamental que o Brasil desenvolva um plano nacional de renovação e descarbonização da frota de ônibus urbanos. Esse plano deve levar em conta a maturidade das tecnologias disponíveis e a capacidade da indústria nacional, promovendo uma transição gradual, que permita a adaptação das empresas e das cidades a um novo cenário.
Além disso, o plano deve considerar a ampliação das linhas de crédito disponíveis para as empresas operadoras, facilitando o acesso aos recursos necessários para a compra de veículos e a adaptação da infraestrutura elétrica.
A participação do setor privado, em parceria com o poder público, pode ser uma solução eficaz para viabilizar os investimentos necessários. Modelos de financiamento compartilhado, onde o poder público investe na infraestrutura e as empresas operadoras mantêm a propriedade dos veículos, podem garantir uma maior sustentabilidade financeira para os projetos de descarbonização.
Esse modelo permite que as empresas preservem sua experiência na operação e na manutenção das frotas, ao mesmo tempo em que facilita a substituição das baterias e a venda das sucatas, ao final da vida útil dos equipamentos e dos veículos. Além disso, a participação privada pode acelerar o processo de transição, garantindo que os projetos sejam implementados de forma mais eficiente e com menor risco de atrasos.
A implementação de uma frota de ônibus elétricos exige um planejamento operacional detalhado, que inclua a definição da tipologia e porte dos veículos, a identificação dos corredores ou linhas de operação, a estimativa da quilometragem diária e a determinação da autonomia dos ônibus, bem como a localização dos pontos de recarga de forma estratégica, considerando a disponibilidade de energia elétrica.
O custo de adaptação da infraestrutura elétrica, que pode representar até 20% do custo total do projeto, é um fator crítico que deve ser considerado desde o início do plano e implantação. Garantir o compromisso da concessionária de energia em fornecer a quantidade necessária de energia, dentro dos prazos ajustados, é essencial para o sucesso da operação.
*Francisco Christovam é Diretor Executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Vice-Presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo (FETPESP) e da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).
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