Abertura do sistema financeiro garante ao cliente mais autonomia (FG Trade/Getty Images)
Bússola
Publicado em 31 de agosto de 2021 às 16h55.
Por Fernando Nunes*
A chegada da segunda fase do open banking no Brasil, neste mês, iniciou mais uma etapa na transformação digital do setor financeiro. O sistema, criado pelo Banco Central e que permite ao cliente compartilhar seu histórico financeiro com qualquer instituição bancária, independentemente de possuir conta, está sendo considerado a grande revolução do setor nos últimos anos, junto com o Pix. E com a sua evolução natural, todo o mercado já espera pelo Open Finance, modelo em que outras áreas do mercado financeiro também poderão se beneficiar do sistema aberto — como corretoras, companhias de câmbio, fundos de previdência entre outras, levando inovação social e experiência disruptiva ao consumidor final.
O open finance potencializa a cultura de ecossistema vivida intensamente pelas startups. Para sobreviver, os atores do sistema financeiro precisam cooperar e criar, juntos, um novo ambiente financeiro. Além dessa visão ecossistêmica, a abertura do sistema financeiro força a movimentação do dinheiro para os canais digitais. Essa transformação digital já não é um diferencial para as empresas, mas uma obrigação, um caminho sem volta, tendo em vista a inegável mudança da relação entre banco e consumidor ocorrida nos últimos anos.
A abertura do sistema financeiro vai permitir também um acesso a dados nunca antes visto pelas fintechs brasileiras. Os grandes bancos têm hoje o que pode ser considerado um monopólio de dados, devido à concentração de consumidores. Quando há uma abertura, ou seja, o cliente pode escolher, com segurança, compartilhar suas informações bancárias com qualquer instituição, sendo ela fintech ou não, passa a existir uma expansão do mercado, gerando mais competição e possibilitando a entrada de novos players, com novos serviços, novas tecnologias que vão revolucionar o dia a dia do consumidor.
Para se ter uma ideia, no ano passado, pela primeira vez, as transações realizadas no mobile banking representaram mais da metade (51%) do total das operações feitas no país, segundo pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O mesmo estudo aponta um aumento de transações com movimentação financeira feitas pelo celular de 64% em 2020, impulsionado pelo contexto da pandemia e do auxílio emergencial. Esse número deve crescer ainda mais e com ele vem as preocupações. De acordo com uma pesquisa da Tecban e Ipsos deste ano, 46% dos brasileiros estão preocupados com o compartilhamento de seus dados, e tendo como base a falta de conhecimento sobre como esses métodos de compartilhamento ocorrem, a segurança é um ponto crucial para transmitir credibilidade às mudanças.
É importante ressaltar que o compartilhamento de dados somente será realizado com autorização do cliente — cada autorização tem validade de 12 meses. Entretanto, o sistema precisa seguir a Lei Geral de Proteção de Dados, além de possuir regras próprias. A operação é muito segura porque as instituições são obrigadas a assegurar a proteção dos dados, e somente poderão compartilhar os dados das pessoas depois de três etapas: consentimento, autenticação e confirmação do cliente. Além disso, somente instituições autorizadas participam, as regras de segurança precisam ser cumpridas e o Banco Central supervisiona todo o processo.
Sendo assim, nota-se que toda essa revolução do sistema financeiro atual chega para facilitar a vida das pessoas e instituições, e que o compartilhamento de dados é uma decisão do cliente, que pode dar o seu consentimento para explorar as novidades no mercado para seu benefício próprio, de forma segura, eficaz e transparente. A chegada do open finance cria um novo ambiente financeiro e não há como retroceder. O protagonismo das fintechs é inegável, resta saber se os demais atores desse ecossistema estão preparados para a disrupção.
*Fernando Nunes é cofundador e CMO da fintech Transfeera
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