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ESG: setor privado se mobiliza em prol da Amazônia e do cerrado

Perenidade dos negócios depende de ações para sustentabilidade em toda a cadeia de valor

Desastres naturais causados pelas mudanças climáticas causaram um prejuízo de US$ 3,64 trilhões nos últimos 50 anos (Leo Correa/Glow Media/AP)

Desastres naturais causados pelas mudanças climáticas causaram um prejuízo de US$ 3,64 trilhões nos últimos 50 anos (Leo Correa/Glow Media/AP)

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Publicado em 9 de setembro de 2021 às 17h42.

Última atualização em 9 de setembro de 2021 às 18h20.

Frear as mudanças climáticas tornou-se urgente à medida que desastres ambientais pelo mundo são relatados com cada vez maior frequência, ameaçando a sobrevivência da fauna, a saúde da população e a produção de alimentos e de energia. Um levantamento feito pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) identificou que entre 2000 e 2016, quase 55 milhões de hectares de florestas desapareceram na América Latina. A instituição também revelou que desastres naturais causados pelas mudanças climáticas causaram um prejuízo de 3,64 trilhões de dólares nos últimos 50 anos. E as previsões para o futuro são preocupantes. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontou aumento das secas, queimadas e do número de dias com temperaturas máximas superiores a 35 °C na Amazônia.

O Brasil, país que abriga dois dos biomas mais ricos em biodiversidade e recursos naturais do mundo — Amazônia e cerrado — está no centro dessa discussão, já que as florestas são vitais para a captura de carbono na atmosfera, sendo capazes de regular o clima do planeta. Somente a Amazônia representa um terço das florestas do mundo, podendo armazenar 450 bilhões de toneladas de CO₂. Diante do enorme desafio que o mundo enfrenta pelas mudanças climáticas, a preservação e o desenvolvimento sustentável desses biomas são fundamentais para o país e para garantir a saúde e a sobrevivência de todos.

O setor privado, cada vez mais, compreende sua responsabilidade frente a esse desafio e muitas empresas já se mobilizaram para fazer a sua parte. Inclusive, por compreenderem que a perenidade de seus negócios estará ameaçada se nada for feito. Segundo o diretor de ESG do Grupo FSB, Danilo Maeda, a agenda do Desenvolvimento Sustentável foi construída em uma lógica de integração, tanto na da interação entre os aspectos sociais, ambientais e econômicos quanto na necessidade de se estabelecer parcerias para desenvolvimento das soluções necessárias.

“As empresas têm um papel fundamental nos ODS. Temos visto parte relevante do mercado se movimentar nesse sentido, tanto pela mitigação de riscos quanto pelas oportunidades de geração de valor”, declara.

Nesta sequência de reportagens da série Amazônia e Cerrado que marcam o Dia da Amazônia, 5 de setembro, e o Dia do Cerrado, 11, a Bússola reuniu iniciativas empresariais que demonstram o engajamento de empresas com estes dois importantes biomas. Começamos por duas iniciativas que exemplificam como empresas podem provocar mudanças para além de suas próprias fronteiras. São ações que promovem a sustentabilidade na cadeia de valor e nos ecossistemas em que as corporações possuem influência relevante.

A JBS criou o Fundo JBS pela Amazônia, uma associação civil sem fins lucrativos dedicada a financiar iniciativas que visam ao desenvolvimento sustentável do bioma Amazônico, por meio da conservação e restauração da floresta, aumento de produtividade das áreas já exploradas com implantação de sistemas agroecológicos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

A iniciativa é aberta a outras empresas, que decidiram apoiar a causa e firmaram parceria com o Fundo. A XP Inc. vai doar 500.000 reais; a Overseas Resources Foundation Limited (ORFL) — do segmento de couros e calçados — se comprometeu com mais de 3 milhões de reais; a Aviagen América Latina — do setor de genética avícola — contribuirá com mais de 1,5 milhão de reais; e a Elanco Foundation com  450.000 dólares (aproximadamente 2,3 milhões de reais). A JBS se comprometeu a dobrar as doações de terceiros e a garantir que o Fundo receba o mínimo de 50 milhões de reais ao ano em recursos nos cinco primeiros anos. Até 2030, a meta é chegar a um total de 1 bilhão de reais para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

“Ficamos muito felizes em ver a mobilização de outras empresas pela preservação da Amazônia, um dos mais importantes biomas do planeta, que tem papel crucial no enfrentamento do aquecimento global. Essa é uma missão de todos e por todos”, afirma Joanita Maestri Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia.

Antes de criar o Fundo, a JBS mantinha há mais de dez anos uma política de compra responsável de matéria-prima, que exige de seus fornecedores o respeito a critérios socioambientais, como por exemplo desmatamento zero (de acordo com o Código Florestal Brasileiro) e veto ao uso de trabalho análogo ao escravo. Para averiguar o cumprimento de regras como essas, a companhia dispõe de um sistema de monitoramento georreferenciado, que conta com imagens via satélite, para monitorar seus fornecedores em todos os biomas brasileiros em que atua.

O desafio da empresa e de todo o seu setor é garantir esse mesmo controle sobre os fornecedores. Para superar isso, a JBS implantou a Plataforma Pecuária Transparente, ferramenta que usa tecnologia blockchain para estender seu monitoramento socioambiental ao próximo elo da cadeia. Até 2025, todos os seus fornecedores estarão obrigatoriamente integrados à essa plataforma.

Também no bioma amazônico, a Coca-Cola implantou há três décadas um polo de concentrados que, hoje, conta com mais de 30 empresas. Os desafios eram enormes.

“Desenvolver fornecedores e mão de obra capacitada não foi fácil. Atualmente, a fábrica é a terceira maior do mundo, uma das mais modernas. Gera 5.000 empregos diretos e indiretos e produz em torno de 50.000 toneladas de concentrados por ano, abastecendo todo o Brasil e países como Bolívia, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Venezuela”, diz Victor Bicca Neto, diretor de relações governamentais da Coca-Cola Brasil.

Um elo importante dessa cadeia são os produtores de frutas. A empresa tem 25.000 pequenos e médios fornecedores, incluindo produtos nativos da Amazônia, como açaí, camu-camu e abacaxi amazônico. A companhia foi a primeira empresa a realizar um estudo junto ao Centro de Biotecnologia da Amazônia para mapear mais de 20 superfrutas amazônicas e seu potencial comercial — exemplos de como a bioeconomia pode aliar desenvolvimento sustentável, redução das desigualdades e geração de valor para o negócio.

“Esse é um compromisso da Coca-Cola. Nesses 30 anos de presença no Amazonas, desenvolvemos diversos projetos bem consolidados visando também o fortalecimento cultural e social da região”, declara Neto.

Um dos projetos que segue essas premissas é chamado “Olhos da Floresta”. Em parceria com a ONG Imaflora, tem como objetivo incentivar a agricultura familiar e a cadeia do guaraná no Amazonas, gerando oportunidades de inclusão social, geração de renda e uso racional dos recursos naturais. Hoje a Coca-Cola é a empresa que mais compra guaraná no estado e é a única que tem esse insumo rastreado e certificado.

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