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ESG: Será que ainda há algum clima para discutir o clima?

COP26 se aproxima rodeada de notícias assustadoras, o que pensando bem é até bom

Mudança climática na Amazônia deixará milhões de pessoas na região expostas a temperaturas não suportáveis pela fisiologia humana (Sérgio Vale/Amazônia Real/Divulgação)

Mudança climática na Amazônia deixará milhões de pessoas na região expostas a temperaturas não suportáveis pela fisiologia humana (Sérgio Vale/Amazônia Real/Divulgação)

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Publicado em 7 de outubro de 2021 às 13h42.

Por Renato Krausz*

Faltam pouco mais de 20 dias para o início da 26ª Cúpula Climática da ONU e, se for mantida a toada atual, até lá mais algumas notícias ruins vão surgir, como um novo estudo que escancare o tamanho da desordem causada pelo aquecimento global ou o súbito advento de outro evento climático extremo a surpreender um punhado de gente em determinado canto do planeta.

Lógico que isso não é bom. Mas ao menos servirá para estabelecer o que podemos chamar de clima ideal para discutir os desafios climáticos na conferência em Glasgow. É o clima melancólico. O taciturno, pessimista. O tétrico, lúgubre. O sombrio. Sinônimos, voltem! O soturno e o sorumbático.

Porque, convenhamos, não dá para chegar cheio de otimismo à COP26 achando que dias melhores virão, porque isso simplesmente não vai acontecer caso os participantes da cúpula com poder de decisão não saiam de lá com a plena convicção de que as mudanças de rota deverão ser muito mais drásticas, se quisermos salvar a espécie da destruição. O otimista não sabe o que espera, como dizia Millôr Fernandes.

É verdade que há coisas boas a serem exibidas. Há exemplos mundo afora de avanços que se tornaram possíveis pela inovação disruptiva, a regulação meticulosa ou mesmo a mudança de consciência que vem a reboque do ESG. Mas, os sinais mostram, isso tudo ainda é pouco.

E estes sinais são cada vez mais incontestáveis. O mais emblemático deles foi o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), lançado em agosto, com um recado muito claro: ou mudemos ou nos ferremos (a interpretação é minha). Pior: talvez não haja mais tempo para mudar.

Na semana passada, novo estudo publicado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) mostrou que o devastação da Amazônia e as mudanças climáticas já estão promovendo a savanização da floresta, o que deixará 12 milhões de pessoas na região expostas a temperaturas não suportáveis pela fisiologia humana.

Entre o lançamento de um estudo aqui e outro ali, o mundo tem sido palco cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos. Incêndios, enchentes, tornados, nuvens de poeira. Dava para fazer uma nova versão da música “O Pulso”, dos Titãs, trocando as doenças por essas catástrofes. Se o otimista imagina que seremos capazes de enfrentá-las uma a uma com a tecnologia, é bom que saiba que elas se recusarão a permanecer em fila.

Diante disso tudo, repito, que prevaleça um clima de culpa na cúpula do clima. Isso talvez ajude a manter o ativista em riste, a ativar o consciente, a conscientizar o neutro e a neutralizar aquele tipo de bocó que ainda hoje é capaz da desfaçatez de ir para um grande jornal escrever bobagens que tentam relativizar a gravidade do que estamos vivendo.

 

*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

 

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