Programa "Moda Que Transforma" reúne todas as iniciativas da Riachuelo voltadas para sustentabilidade e responsabilidade social. (Riachuelo/Divulgação)
Bússola
Publicado em 16 de dezembro de 2020 às 20h57.
Última atualização em 1 de novembro de 2022 às 20h23.
A pauta ESG (environmental, social and governance) nas empresas é um caminho sem volta, trata-se de uma agenda global e urgente, tem a ver com fazer a coisa certa. Essa foi a conclusão da live realizada nesta quarta-feira, 16 de dezembro, sobre os impactos das práticas ambientais, sociais e de governança nos negócios, em especial no setor de varejo. O webinar reuniu Valesca Magalhães, gerente de Sustentabilidade da Riachuelo; Heiko Spitzeck, professor e diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral; e Renata Faber, analista ESG da Exame Research.
À frente do departamento de sustentabilidade da Riachuelo, uma das maiores varejistas de moda do Brasil e representante da indústria têxtil com o maior parque fabril da América Latina, Valesca Magalhães explicou que a responsabilidade da empresa vai além dos resultados financeiros para os acionistas e da oferta de mercadorias de qualidade para os consumidores. “Nosso papel, em relação à sociedade, inclui também mitigar os impactos ambientais que nossas operações de indústria e varejo possam causar, oferecer produtos sustentáveis para os nossos clientes, cuidar dos mais de 40 mil colaboradores do grupo e das pessoas impactadas pela nossa cadeia produtiva”, afirmou.
Ao destacar o programa “Moda Que Transforma”, que reúne e integra as principais iniciativas de sustentabilidade e de inclusão social da Riachuelo, ela ressaltou o foco da companhia na criação de valor. “Não é uma criação de valor feita em cima só dos nossos acionistas, mas também para os nossos colaboradores, fornecedores, consumidores, os moradores da comunidades onde nossas unidades estão inseridas. Gerar valor para o negócio e para a cadeia como um todo”, disse.
Valesca citou como exemplo o projeto de economia circular para estimular a doação de roupas sem uso e dar um novo propósito a peças que seriam descartadas. “Lançamos o programa em setembro em 96 lojas no Brasil e com a perspectiva de estender para todas as unidades em 2021. Escolhemos como parceira a Liga Solidária, importante ONG com trabalhos sociais. Cerca de 60% das doações ganham uma segunda vida. São roupas em boa conservação que serão distribuídas para novas famílias ou vendidas por um valor simbólico no bazar da Liga. O resto vai para a reciclagem. É um círculo virtuoso”, afirmou.
Professor da Fundação Dom Cabral e especialista em estudos sobre sustentabilidade, Heiko Spitzeck elogiou o conjunto de ações estruturadas da Riachuelo e alertou que a agenda ESG deve ser pensada sempre de maneira estratégica pelas empresas. “Há muitas companhias com iniciativas legais, mas isoladas. Não tem guarda-chuva estratégico integrando os projetos. Sem isso, não há narrativa consistente. É preciso pensar a questão da sustentabilidade de maneira articulada”, ponderou. Ele reforçou a importância de que o respeito da empresa aos princípios ambientais, sociais e de governança seja genuíno. Caso contrário, as ações podem ser entendidas como artificiais, sem relação com a essência da marca. E o risco é, segundo Spitzeck, de greenwashing, quando companhias criam a falsa aparência de serem sustentáveis.
Seja por pressão dos consumidores ou dos investidores, muitas empresas têm se aproximado das práticas ESG como forma de gerenciar os riscos ambientais, sociais e de governança, mas, para o professor Heiko, é importante pensar essa agenda também como forma de trazer mais inovação e pioneirismo para as marcas. “Não adianta mais falar só de riscos a serem evitados. Deve-se falar dos ganhos e das oportunidades gerados pela inovação em sustentabilidade. Que soluções pioneiras estão sendo desenvolvidas a partir dos princípios ESG nas empresas? Essa é a narrativa positiva a ser perseguida”, esclareceu.
A analista ESG da Exame Research, Renata Faber, concorda que a adesão a essas práticas não é só uma questão de minimizar riscos, mas é também sobre ampliar ganhos financeiros para sócios e investidores. “ESG é bom para o negócio, dá retorno, dá dinheiro. Todas as empresas deveriam incorporar. Quem aposta nessa agenda sai na frente com soluções inovadoras, encontra novas oportunidades de negócios e atrai clientes mais fiéis”, disse.
Segundo Renata, as pessoas estão consumindo e investindo de acordo com seus princípios e, por isso, não tem como as companhias fugirem do ESG. “Está cada vez mais claro que as novas gerações estão indo nessa direção na hora de consumir e investir, e as empresas tem que se adaptar a isso. Quem não se adaptar a isso vai ter dificuldade na hora de vender os seus produtos e também na hora de levantar capitais e recursos. Então não é mais uma questão se você vai fazer. Está claro que as empresas têm que se adequar a essa nova realidade”, declarou.
Para os três debatedores, a pandemia, ao fazer com que todos repensassem seu papel na sociedade, contribuiu para acelerar a implementação do ESG nas empresas. Heiko Sptizeck disse que, com a crise, deu-se uma atenção maior para os stakeholders. “Você não olha mais só para os acionistas. Na crise, ficou muito claro, que se meu fornecedor morrer, eu não vou conseguir dar sequência no meu negócio, e se meu consumidor não consegue comprar, eu também não consigo vender”, explicou o professor.
Renata Faber afirmou que, com a Covid-19, houve uma procura maior por investimentos sustentáveis e responsáveis. “Muitos fundos ESG foram lançados no Brasil no período. Essa é uma agenda que veio pra ficar e as empresas vão ter que seguir. É o futuro, e a pandemia acabou acelerando muito essa tendência”, disse a analista. Valesca Magalhães listou o conjunto de medidas da Riachuelo de proteção e segurança de clientes, colaboradores e fornecedores durante a pandemia, e destacou com orgulho a mobilização da empresa para a confecção e doação de EPIs para todo o Brasil. “Produzimos em nossa fábrica e nas oficinas de costura mais de 9 milhões de produtos, como máscaras, aventais para pacientes, jalecos para médicos, material para quem atende em hospitais públicos e organizações sociais. Foram mais de 100 instituições beneficiadas no país inteiro”, concluiu.
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