( poopkpiik/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 23 de outubro de 2024 às 07h00.
Apesar do barulho feito por questionamentos baseados em casos isolados ou argumentos políticos, a conexão entre práticas de sustentabilidade e desempenho financeiro em empresas tem sido confirmada por diversos estudos.
Segundo um relatório recente da gestora de ativos holandesa Robeco, o tema tem sido objeto de pesquisa acadêmica há pelo menos meio século.
Os dados indicam que a tese é verdadeira: “um metaestudo abrangente de Friede et al. (2015) analisou mais de 2.250 estudos acadêmicos sobre o desempenho ESG, cobrindo quatro décadas de dados (1970-2014). A análise concluiu que o ESG se correlacionou positivamente com o desempenho financeiro corporativo em 62,6% dos estudos, com resultados negativos em menos de 10% dos casos (os demais foram neutros)”, resume o time de pesquisa da gestora.
Para quem duvidar dos dados históricos, um estudo de 2023 analisou o desempenho das empresas de 2015 a 2020 e obteve resultados semelhantes, reforçando a ideia de que a integração de informações ESG nas operações e decisões corporativas pode agregar valor, resultando em empresas melhor gerenciadas e com melhor desempenho financeiro.
Por outro lado, a análise da Robeco indica que o impacto das práticas ESG na capacidade de criação de valor parece menor quando a avaliação considera portfólios de investimento.
Dados de sustentabilidade influenciaram positivamente os retornos dos portfólios em 38% dos casos (contra 62,6% dos estudos sobre desempenho corporativo), enquanto uma influência negativa foi encontrada em 13% dos casos (contra 10%).
É contra intuitivo imaginar que uma agenda que gera valor para empresas não entregue os mesmos resultados para gestores de ativos.
Muitas estratégias de investimento ESG falham em se concentrar nas informações mais relevantes.
Como temos defendido neste espaço, o processo pelo qual práticas de sustentabilidade corporativa entregam valor é complexo e multifatorial e não pode ser capturado por “listas de tarefas”.
O valor está mais na integração estratégica de riscos e impactos do que no cumprimento de requisitos pontuais.
Para capturar valor com investimentos ESG, é necessário avaliar o processo pelo qual empresas integram sustentabilidade aos seus negócios e ajustar as ferramentas para mapear e medir riscos, oportunidades e impactos específicos em cada setor, geografia e característica de mercado.
Desta forma, a tese do valor ESG poderá se confirmar de forma mais abrangente também do ponto de vista da alocação de investimentos, a exemplo do que já acontece na ótica da gestão empresarial.
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