(Panuwat Dangsugnoen/Getty Images)
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Publicado em 28 de outubro de 2024 às 15h00.
Por Kelly Pinheiro e Denis Zanini Lima*
O mês de outubro caminha para o final e, em breve, as marcas devem tirar o tom rosa de suas logos. Não demora e, na reunião de marketing, o time vai se reunir para escolher a próxima data temática com potencial de gerar mais vendas.
É triste, mas é assim que muitas empresas enxergam o Outubro Rosa: uma data no calendário editorial de conteúdo. E o resultado são campanhas rasas e desconectadas do real objetivo do mês temático, que é a conscientização sobre o câncer de mama, o segundo mais comum entre as mulheres no Brasil.
São ofertas de descontos para “elas” sem nenhuma menção ao câncer, ou, ainda, propagandas que exploram apenas o rosa, como promoções em produtos da cor rosa ou brindes para quem estiver vestido nas variantes do tom.
Uma combinação de mau gosto de lacinho rosa, letras garrafais de uma promoção e uma chamada para aproveitar o Outubro Rosa. Mas, aproveitar o que exatamente?
Afinal, como é que comprar uma pizza com desconto vai evitar a estimativa do Inca de que, até 2025, cerca de 74 mil novos casos da doença serão diagnosticados anualmente no país?
Mas como a prática mostra que nem todos entenderam, cabe o esclarecimento: se sua empresa deseja se engajar na campanha do Outubro Rosa, ela precisa propor ações que vão gerar conscientização a respeito do câncer de mama. A divulgação de informações básicas já é um começo, afinal ainda há muito desconhecimento sobre o tema.
Uma pesquisa recente, encomendada pela Pfizer e conduzida pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), revelou que sete em cada 10 mulheres no Brasil acreditam, de forma equivocada, que o histórico familiar é o principal fator de risco para a doença.
Porém, de acordo com a literatura médica, apenas entre 5% e 10% dos casos têm ligação com fatores hereditários. Muitos casos estão associados, por exemplo, a fatores de risco modificáveis, como o consumo de álcool e o excesso de peso.
Outra informação equivocada a respeito do câncer de mama é o autoexame como principal forma de prevenção. A Dra. Giovanna Gabriele, mastologista especialista em cirurgia oncológica e integrante da Comissão de Genética e Alto Risco da Sociedade Brasileira de Mastologia, alerta para o perigo de colocar toda a responsabilidade da detecção do câncer nas mãos das mulheres.
“É comum que as mulheres ainda acreditem que o autoexame seja eficaz para a detecção precoce do câncer de mama, mas a ciência já demonstrou que isso não é suficiente. Para obter um diagnóstico preciso, é necessário realizar exames mais específicos, considerando as particularidades de cada caso", explica.
Além de contribuir com a disseminação de informações corretas sobre o câncer de mama, as marcas também podem contribuir com ações que apoiem as mulheres que enfrentam a doença.
Um efeito adverso e alarmante desse câncer é: 7 em cada 10 mulheres são abandonadas pelos parceiros durante ou após o tratamento. Além disso, as marcas emocionais ficam por muito tempo, mesmo depois da cura. “Embora o câncer tenha sido vencido, o impacto emocional permanece. É comum que se sintam perdidas, sem saber como retomar suas vidas de forma plena. Por isso, o suporte emocional e psicológico são fundamentais para a recuperação total,” destaca a médica.
Agora, imagine se todas as marcas que gastaram tempo fazendo peças rosas sobre promoções e descontos bizarros se juntassem para inundar a internet de informações úteis e transformadoras sobre o câncer de mama? Imagine se elas se organizassem e lançassem campanhas não para vender mais em outubro, mas para arrecadar fundos para instituições que atendem mulheres que sofrem com a doença?
Todo mundo já cansou do marketing que apenas diz que se importa. E nenhum lacinho vai impactar seu consumidor tão bem quanto uma campanha real, e comprometida com a causa.
*Kelly Pinheiro é jornalista e fundadora e sócio-diretora da Mclair Comunicação e Denis Zanini Lima é CEO da Ynusitado Marketing Digital Intelligence.
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