Biodiversidade é a base para mitigar mudanças climáticas (iStock/Thinkstock)
Bússola
Publicado em 29 de dezembro de 2022 às 21h04.
Última atualização em 29 de dezembro de 2022 às 21h05.
A Amazônia é hoje o centro do mundo. Ainda exuberante e megadiversa, a região que abriga a maior floresta tropical do mundo resiste e tem sido reconhecida como resposta a diversas crises contemporâneas, como a do clima e da perda de biodiversidade. Mas as ameaças a ela se multiplicam constantemente.
O Instituto Amazônia+21 foi fundado, em 2021, como forma de promover negócios sustentáveis na região e contribuir, assim, para a sua proteção e o seu desenvolvimento. Surgiu por iniciativa de empresários da Amazônia brasileira, com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e das nove federações das indústrias dos estados da Amazônia Legal. O Instituto apoia negócios sustentáveis e inovadores na Amazônia e fortalece empreendimentos existentes, dialogando com as demandas locais, o potencial econômico da região e a agenda ESG (de governança ambiental, social e corporativa).
No contexto da COP15 da Biodiversidade, que acontece nesse momento em Montreal, no Canadá, o diretor do Instituto Amazônia+21, Marcelo Thomé, fala sobre a organização e sobre a importância da megadiversidade brasileira para o país e para o mundo. Thomé nasceu em Niterói, Rio de Janeiro, mas vive no Estado de Rondônia há 23 anos, ocupando também o cargo de presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero).
Bússola: Ao todo, 40% da economia global se baseia em produtos e componentes derivados da biodiversidade – e a Amazônia Legal responde por cerca de 15% da biodiversidade do planeta. Nesse contexto, como a agenda do Instituto Amazônia+21 dialoga com as metas do Marco Global para a Biodiversidade Pós-2020, meta desta COP15?
Marcelo Thomé: Esse dado – que 40% da economia global envolve biodiversidade – evidencia o potencial dos negócios sustentáveis na Amazônia. E o Instituto Amazônia+21 vem para promover esse potencial. Aqui já temos uma conexão entre a nossa agenda e um Marco Global para a Biodiversidade.
Por outro lado, o Brasil precisa fazer do combate às queimadas na Amazônia uma prioridade urgente, pois elas são fatores-chave para o desmatamento, que, por sua vez, são fatores-chave para a perda de biodiversidade. Por isso, nossa agenda visa contribuir para um ambiente de sustentabilidade na região a partir da iniciativa do próprio setor produtivo local. Um dos nossos projetos mais avançados é o Centro de Bioeconomia e Conservação Ambiental, em parceria com o Instituto Rioterra e a Santo Antônio Energia.
A pauta da biodiversidade, essência da COP15, tem relação direta com negócios sustentáveis e é por onde se pode construir soluções para a mitigação das mudanças climáticas. Isso abre oportunidades incríveis para a Amazônia, que é fundamental para a conservação da biodiversidade do planeta.
Bússola: A perda de biodiversidade e as mudanças climáticas estão entre os cinco maiores riscos globais apontados pelo relatório do Fórum Econômico Mundial em 2020 e 2021. Como o senhor vê as atuais discussões mundiais em torno da biodiversidade? Estamos atrasados?
Marcelo Thomé: Estes riscos estão postos e ninguém mais pode negar a crise do clima, que também é a causa da perda de biodiversidade. Diálogos como o Fórum Econômico Mundial acreditam em cenários onde não há possibilidade de futuro sem ações imediatas pela sustentabilidade. É importante participar desses debates –e a ratificação do Protocolo de Nagoia pelo Congresso Nacional nos coloca em uma nova posição nessas negociações globais. Assim, podemos cobrar das nações – especialmente dos mercados mais ricos – ações mais efetivas para destravar o financiamento climático, por exemplo. A promessa de investimentos de US$ 100 bilhões por ano precisa acontecer, com mecanismos de implementação mais ágeis e considerando as especificidades de cada país. Então, se você pensar em ações concretas em regiões como a Amazônia, as nações estão atrasadas, sim – muito atrasadas.
Bússola: A COP15 é também um fórum importante para estimular a agenda da bioeconomia que se amplia no Brasil – uma agenda que contribui para o desenvolvimento sustentável rumo a uma economia de baixo carbono; que alia os serviços ecossistêmicos e a conservação da biodiversidade a atividades econômicas e à inovação; e que, em última instância, gera emprego e renda. Igualmente, de que forma o Instituto Amazônia+21 têm contribuído para estimular a bioeconomia na região e no país?
Marcelo Thomé: A atuação no setor da bioeconomia é estratégica para o Instituto Amazônia+21. Estamos especialmente interessados em projetos inovadores e tecnologias no campo dos fármacos, cosméticos, biotecnologia, produção de alimentos e economia circular. Formulamos uma agenda ESG-ODS, que reúne princípios ESG e compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ela orienta modelos de negócios, mas também a busca de uma nova proposta de desenvolvimento econômico da Amazônia, que precisa ser sustentável e ter protagonismo na economia nacional. Esse compromisso de contribuir com a criação de um ambiente de negócios sustentáveis, inovador e inclusivo, solicita nossa participação nas discussões mais amplas, inclusive globais, como as pautas da COP15, no Canadá, e da recente COP27 do Clima, no Egito.
Bússola: O senhor acredita que o Instituto possa se tornar um modelo para outras iniciativas semelhantes ao redor do mundo?
Marcelo Thomé: É bom que isso aconteça. Estamos criando uma agenda consistente, de iniciativa do setor produtivo da Amazônia, para valorizar e promover negócios sustentáveis a partir das potencialidades da região – e mesmo das microrregiões que existem dentro do enorme território da Amazônia brasileira. Estamos desenvolvendo projetos e soluções para destravar o desenvolvimento local, como, por exemplo, a estruturação de uma facility de investimentos que conecte bons projetos locais com investidores nacionais e internacionais. Trabalhamos em cooperação com a Confederação Nacional da Indústria e as federações de indústria da Amazônia. Trocar informações e difundir conhecimento é fundamental e são ações de sustentabilidade, sim. Como estamos fazendo algo muito inovador, queremos conhecer e interagir com iniciativas que possam se assemelhar à nossa, em qualquer parte do mundo. Participar de eventos como a COP também possibilita isso.
Este artigo é uma publicação conjunta entre Bússola e Indústria Verde
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