Desejo que a meta das organizações brasileiras para 2022 seja finalmente atrelar ESG às metas e ao bolso de quem decide. (PM Images/Getty Images)
Bússola
Publicado em 28 de dezembro de 2021 às 08h00.
Por Danilo Maeda*
Na última coluna do ano, trago uma boa notícia: se você ainda não definiu suas metas para 2022, ainda dá tempo (na verdade sempre dá, mas isso é papo para outro espaço). E deixo aqui uma sugestão de resolução a ser aplicada no próximo ciclo: atrelar as metas de sustentabilidade ao sistema de bônus e reajustes salariais de sua organização.
Metas de desempenho em aspectos ESG com impacto na remuneração de lideranças sinalizam que compromisso é real e relevante ao negócio. Também são eficientes para acelerar processos de transformação para sustentabilidade, pois dão um senso de direção claro a todas as pessoas participantes do processo. Também são um indicador de que a empresa está em um caminho amadurecido de integração entre negócio e sustentabilidade.
Na Beon, realizamos uma pesquisa com o Instituto FSB que demonstrou como atualmente essa prática é para poucos. No levantamento (primeiro feito com uma amostra representativa de empresas grandes e médias do Brasil), encontramos uma taxa de 3% das empresas com metas de ESG atreladas aos ODS e à remuneração variável, índice condizente com os 2% de organizações situadas no estágio de maior maturidade em gestão ESG.
Outros dados interessantes: Metas socioambientais estão presentes em 31% das empresas. Dessas, 50% as relacionam com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável). Nesse grupo, 19% ligam as metas à remuneração das lideranças (3% da amostra total). Se a adesão baixa é de certa forma esperada por ser um mecanismo relativamente sofisticado, fica claro que esse é um dos principais vetores para evolução da agenda empresarial no Brasil.
Mas como fazer? O primeiro passo é uma avaliação criteriosa de quais são e onde estão os principais impactos daquela organização, para entender as áreas prioritárias e identificar os aspectos materiais mais relevantes. Afinal, antes de estarem ligadas à remuneração, metas socioambientais precisam existir. Para que aconteça com algum impacto, o tema precisa ter relevância estratégica na organização — então o engajamento das lideranças é essencial. O terceiro desafio é estabelecer metas relevantes, assertivas, factíveis e tempestivas. Para isso, pensar sobre os indicadores a serem utilizados é fundamental.
Metas ESG são diferentes de indicadores tradicionais (como vendas, margem, retenção e satisfação, por exemplo), em que é possível identificar as pessoas responsáveis de forma mais direta. Por natureza, a sustentabilidade é transversal, o que pode ser um desafio — superável — no caminho de atrelar suas metas à remuneração. Outro é definir a porcentagem da remuneração vinculada a esses componentes. Se apenas 5% do bônus estiver atrelado ao desempenho socioambiental, a tendência é criar um sistema onde as pessoas priorizem outras entregas antes.
Como se vê, não é trivial o desafio de medir impactos de longo prazo com métricas mensais ou trimestrais. Além disso, o sistema de acompanhamento não pode ser complexo demais, mas precisa medir com qualidade o que realmente importa. Sob risco de acabar gerando percepções enganosas. Uma boa consultoria pode ajudar no refinamento desse sistema de indicadores e metas para evitar que se estabeleçam vieses improdutivos.
Para finalizar, desejo que a meta das organizações brasileiras para 2022 seja finalmente atrelar ESG às metas e ao bolso de quem decide. Um ótimo ano para você!
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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