Bianca (FGM Dental Group/Divulgação)
Repórter Bússola
Publicado em 13 de fevereiro de 2025 às 16h13.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2025 às 17h01.
Bianca sabia sem pensar que ela e Friedrich tinham uma excelente química – literalmente. A fórmula para clareamento dental criada pelos dois universitários era um produto único. O primeiro do Brasil e com potencial para tomar o espaço de multinacionais na cadeia de fornecedores do setor odontológico.
Hoje tudo está muito claro. Com um faturamento anual de cerca de R$ 300 milhões e 85% de market share, é difícil negar o sucesso da FGM Dental Group, empresa que Bianca fundou e da qual é atual CEO. A presença em mais de 100 países, e liderança em 15 deles, prova que a fórmula não só foi abraçada pelo mercado nacional, mas também pelo internacional.
29 anos atrás, no entanto, o desafio era grande. Como uma geógrafa e um químico conquistariam todo um mercado que se recusava a reconhecer a qualidade dos produtos nacionais? Bianca não tinha resposta, mas em uma coisa ela acreditava:
E a primeira coisa que a jovem catarinense conquistou foi sua independência. Filha de pais professores e irmã do meio de sete irmãos, ela aprendeu cedo a correr atrás dos próprios sonhos.
“Como a primeira menina a nascer eu também tinha que ajudar muito em casa. E aquela vida sofrida, na pequena cidade de Bom Retiro, era quase que uma força me impulsionando a mudar, a sair daquele ambiente com o objetivo de sempre buscar algo diferente. Melhor. E ajudar minha família também”, conta.
Com apenas 16 anos, ela concluiu o ensino médio e se mudou sozinha para Florianópolis para construir a vida que idealizava. Dos pais, herdou o talento para lecionar. Trabalhando como professora, ela se manteve e mais tarde conseguiu entrar na a Universidade Federal de Santa Catarina.
Foi nessa época que ela conheceu Friedrich, com quem se casaria e fundaria a FGM. Filho de mãe costureira e pai mecânico, ‘Fred’ tinha muito em comum com ela. Hoje a empresa dos dois possui um portfólio de mais de 400 produtos, mas lá atrás o primeiro deles surgiu por acaso – e foi uma ideia que só deu certo porque os dois tiveram muita determinação.
"Você gosta de dar aula, né? Mas eu faço química para para ter o meu negócio, minha empresa – o Fred me disse. E eu respondi: tá bom, você faz e eu vendo. O que tu fizer, estou contigo”, conta a executiva.
E nenhum dos dois falou da boca para fora. Fred teve uma dor de dente que o levou à clínica odontológica da Universidade Federal, e lá surgiu a chance de fazer valer as palavras.
“Ô alemão, você não consegue fazer um clareador dental? – o doutor perguntou para ele. Foi aí que enxergamos nossa oportunidade. Sete meses depois estávamos adquirindo a patente”.
O clareador, o primeiro 100% nacional, foi batizado de Whiteness – mais tarde, de Whiteness Perfect. O prêmio mais recentemente conquistado pelo produto foi o Top Award Winner 2025 da Dental Advisor, uma das principais autoridades globais na área de odontologia.
A FGM vende mais de 2,5 milhões de clareadores por ano e mais 600 ‘dentais’, lojas de produtos odontológicos, vendem a fórmula premiada. Mas em 1995 nenhuma delas queria saber de produtos nacionais.
A pressão das empresas do setor, feita até mesmo por professores da Federal, foi tanta que Fred resolveu vender a fórmula.
“Fui vê-lo em torno das três da tarde. Ele estava no telefone com uma empresa do Rio, recomendada por um professor e que queria comprar o produto. Eu cheguei e ‘PUM’, desliguei o telefone e falei ‘isso é nosso. Você não vai fechar com ninguém, nós vamos construir juntos!’ E é claro, teve uma certa briga nesse momento”, Bianca conta.
Mas eles superaram. Dupla dinâmica que são, Fred e Bianca encontraram harmonia e determinação para enfrentar os ‘nãos’, colocar a mão na massa e fazer o produto funcionar.
Primeiro eles sintetizavam o clareador no laboratório da Federal. Fred fazia e ela vendia, produzindo as embalagens à mão. Depois de muitos testes que deram errado eles conseguiram desenvolver um produto redondo.
“E aí eu pensei, eu não posso vender. Eu tenho que conquistar. Eu comecei a dar produtos para a Universidade Federal de Santa Catarina e algumas universidades do Rio Grande do Sul, para que os professores pudessem experimentar e nos dar um parecer. Assim, os alunos de mestrado e doutorado começaram a querer comprar”.
Os ‘nãos’ e a dificuldade em encontrar um espaço no mercado, no entanto, não diminuíram. Para a jovem empreendedora, era hora de resgatar suas raízes.
Bianca foi estudar, guiada agora não só pela sua força de vontade, mas também por uma noção clara da importância do aprendizado contínuo – um presente dos pais. Depois de cursos de gestão, assessoria contábil e conexões com o Sebrae ela fechou a empresa para reabrir no começo de 1996.
Foi na prática que ela aprendeu a empreender. O negócio cresceu de forma orgânica, na medida em que o dólar encarecia os produtos importados e a executiva implementava novas táticas, que surgiam da sua constante adaptação e resiliência.
“As multinacionais que dominavam esse mercado não tinham traquejo como eu tive na época de ser flexível. Elas impunham compras mínimas de R$ 100 mil em produtos da marca tal. Nós não. A dental queria comprar 10 caixas? Vendíamos 10 caixas. Queria 100? Vendiamos 100. ‘É sério isso?’ elas perguntavam e eu ainda oferecia 30 dias para o pagamento. Assim eu fui ganhando o mercado, porque as dentais se sentiram confiantes em degustar”, conta.
Bianca ainda desligou todos os representantes para contratar vendedores. Isso em uma época onde ninguém faria o mesmo. O tiro foi certeiro, tanto quanto o branding, ou a decisão de apoiar os mais de 100 projetos científicos que chancelam os produtos da FGM Dental Group.
Atualmente, a produção se divide entre 70% para o mercado nacional e 30% para internacional. As exportações cresceram mais de 20% em 2024 e a empresa projeta mais 16% em 2025, com planos para manter todas as certificações que permitem a venda – como a MDR (Medical Device Regulation), que permite o produto na Europa e a FDA( Food and Drug Administration) dos Estados Unidos.
Ano passado, a empresa investiu R$ 6,5 milhões na construção de sua nova unidade em Joinville (SC), chamada FGM Home Care. Em 2025, essa e as outras três plantas serão frequentemente visitadas pelos distribuidores parceiros, professores e estudantes das mais de 500 instituições parceiras.
A empresa continua a investir fortemente na sua pesquisa e desenvolvimento – cerca de 3% a 5% do faturamento anual. Ela começou o ano com lançamentos no CIOSP - Congresso de odontologia de São Paulo, e vai continuar construindo reputação em congressos ao longo de 2025.
Para Bianca, o caminho até aqui foi de crescimento natural. Ano que vem a empresa completa 30 anos e o futuro promete mais conquistas e desafios. Os últimos, claro, ela vai enfrentar com a mesma confiança em si e em seu parceiro.
“Entramos no jogo somente para ganhar, né? É o ganha-ganha. O dentista ganha, o distribuidor ganha, professores e alunos ganham. Aqui a gente traz um objetivo e um plano bem estruturado, olhando sempre para frente. Essa perseverança é o que faz da FGM o que ela é hoje”, conclui.
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