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É preciso encurtar caminhos que separam jovens brasileiros das vagas de TI

Existe um gap na área de TI, mas faltam políticas públicas para que jovens alcancem o ensino superior e cheguem ao mercado de trabalho

Apenas 18% dos jovens com até 25 anos de idade estão cursando uma graduação. (Thinkstock/Thinkstock)

Apenas 18% dos jovens com até 25 anos de idade estão cursando uma graduação. (Thinkstock/Thinkstock)

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Publicado em 25 de setembro de 2021 às 10h00.

Por Izabel Branco*

Costumamos acompanhar reportagens que mostram como os jovens brasileiros encontram dificuldades até mesmo de deslocamento para conseguir frequentar as aulas no país. Nesse aspecto, são emblemáticos os casos de estudantes que precisam caminhar por horas a fio para chegar até a escola, atravessando estradas inóspitas e mal pavimentadas para vencer o desafio diário de adquirir conhecimento.

Digo que essa situação é simbólica porque estabelece paralelos com obstáculos e distâncias nem sempre mensuráveis em quilômetros, mas que também configuram caminhos árduos para atingir os objetivos da educação. Pensemos, por exemplo, em uma área específica, a de TI.

Muito se tem dito que existe um gap de mercado entre a demanda por profissionais de tecnologia e sua respectiva oferta.

É necessário analisar com mais cuidado esse descompasso. Dados oficiais apontam que 87,4% dos alunos que se formam no ensino médio vêm da rede pública de ensino, mas apenas 18% dos jovens com até 25 anos de idade estão cursando uma graduação, onde 74% das vagas em cursos de graduação são disponibilizadas pela rede particular de ensino.

Empregadores, no entanto, focam suas buscas por universitários, ignorando o fato de que a maioria dos egressos do ensino público necessita de um emprego para poder financiar uma faculdade, já que esse grupo tem mais dificuldade de acesso à universidade pública.

Há quem espere que essa mão de obra chegue pronta para trabalhar nos projetos e entregar resultados de acordo com as exigências imediatas. Porém, ao analisarmos os números, concluímos que os próprios empregadores precisam compreender melhor os meandros do problema.

Muitos dos jovens que têm potencial para preencher as vagas disponíveis em TI não conseguem concluir o Ensino Básico – Fundamental e Médio. E, com a pandemia, os entraves se agravaram muito, a começar pelo acesso, que deixou de ser físico e passou a ser virtual. A realidade é que, segundo o IBGE, 40 milhões de brasileiros não têm acesso à internet (dado de 2019), o que inviabiliza a aprendizagem à distância para essas pessoas.

Números do relatório GRI (Global Reporting Initiative ) do IOS mostram que o percentual de desistências nos cursos gratuitos oferecidos pelo instituto quase dobrou entre 2019 e 2020 — saltou de 15% para 27%.

Relativização de crenças

A pandemia tornou esse cenário ainda mais desesperador, pela suspensão do ensino presencial. Considerando organizações sociais que oferecem cursos gratuitos de formação em TI, muitos alunos se viram prejudicados com as aulas à distância, e as dificuldades de conexão à internet nem tem sido a principal causa do aumento dos níveis de evasão desses estudantes.

A própria infraestrutura de suas moradias se tornou impeditivo para acompanhar as aulas, dado o compartilhamento de espaços muitas vezes exíguos entre vários familiares. Além disso, o aumento do desemprego fez crescer também a necessidade de priorizar a geração imediata de renda em detrimento do aprendizado.

É preciso relativizar então, logo de cara, a afirmação de que o conhecimento está disponível para todos na própria web. E, ainda que as informações estejam à mão, elas são muitas, de relevância variada e muitas vezes não se enquadram nos propósitos de enriquecimento formativo. É aí que surge o papel do orientador, de um condutor que possa nortear os anseios daqueles que querem muito aprender, mas não sabem direito por onde começar.

O IOS (Instituto da Oportunidade Social) é uma das organizações que se propõe a melhorar a qualidade de ensino na formação desses jovens. Assumi neste ano a presidência da organização, ciente dos grandes desafios que essa missão representa.

De um lado, são muitos os percalços que as pessoas em vulnerabilidade social enfrentam para chegar a uma condição plena de empregabilidade, de outro, os próprios gestores de recursos humanos têm de internalizar que esses profissionais dificilmente chegarão prontos para a máxima performance pretendida.

Esses jovens precisam passar por processos contínuos de aprimoramento, técnico e comportamental, em um esforço conjunto de todas as partes que só trará benefícios para o mercado e para a sociedade.

Digo isso com a experiência que tenho na área, ocupando atualmente a vice-presidência de relações humanas de uma das maiores empresas de tecnologia do país, que, por sinal, é a principal mantenedora do IOS.

Uma vez à frente do Instituto, acredito poder atuar na rede de relacionamentos do setor no sentido de ampliar a percepção sobre o que seria esse tão propalado gap — na verdade, não apenas um, mas tantos gaps na construção da ponte entre profissionais em busca de uma oportunidade e vagas disponíveis.

Para amarrar essas pontas, é fundamental a articulação entre diferentes setores, além de reforçar a formação profissional como porta de entrada nas empresas — e não apenas os cursos superiores. Esse fortalecimento envolve inclusive a mobilização de políticas públicas e a reforma do Ensino Médio para aumentar a empregabilidade dos jovens que se deparam com as exigências do mercado de trabalho.

O caminho é longo, mas já começamos a percorrê-lo.

*Izabel Branco é presidente do Instituto da Oportunidade Social

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