Consultoria Filhos no Currículo divulga pesquisa Mapeando um Ambiente Pró-família nas Organizações (filadendron/Getty Images)
Bússola
Publicado em 26 de janeiro de 2023 às 18h00.
Por Dhafyni Mendes*
Para essa reflexão, parto de uma premissa: mães são potências. Uma pesquisa recente mostrou que, em Nova York, mulheres de até 26 anos já estão ganhando tanto quanto, ou mais, seus pares homens para desempenhar a mesma função. Recebi esta notícia como início de uma reflexão, em uma viagem à Nova York a trabalho para pesquisas sobre equidade de gênero no trabalho, onde participei de um fórum de debate sobre desenvolvimento profissional feminino.
As análises mais aprofundadas do estudo mostram que, no entanto, mulheres que são mães não estão incluídas nesta conquista. Do outro lado da mesma moeda, uma pesquisa conduzida no LinkedIn e no Twitter pela Catalyst, empresa americana que atua há 60 anos na busca por igualdade no mercado de trabalho, perguntou o que as mães gostariam de ganhar de seus empregadores no Dia das Mães. A resposta mais ressonante foi “equal pay” (pagamento igual).
Nós continuamos ganhando menos que os homens e a maternidade é um fator que ainda influencia nessa disparidade. Por isso, compreensivelmente, muitas mulheres estão adiando a decisão de ter filhos para poderem crescer mais na carreira e ganharem salários mais altos. Já temos alguns recursos disponíveis para que as mães se sintam mais acolhidas nas empresas – ou até que movimento contrário aconteça e as empresas passem a ser lugares mais atrativos para nós, mães.
De acordo com a Catalyst, o cenário pode ser muito mais favorável se não houver o gap de salário entre as mães e outros colaboradores; se existir uma política de segurança financeira caso a mulher que é mãe seja dispensada da sua função, quando o ambiente de trabalho for realmente flexível e remoto e se a empresa oferecer opções para que as crianças estejam bem cuidadas e acolhidas enquanto as mães estão trabalhando – berçário, creche, escola, ajuda de custo para contratar uma pessoa que dê suporte no dia-a-dia.
Ou seja, temos espaço para que a maternidade seja soma, em vez de subtração. Principalmente levando em conta as mulheres que já são mães e não precisam se sentir prejudicadas por isso. Eu mesma sou mãe de dois: Nicholas já tem 16 anos, é um adolescente que está colocando o pé na vida adulta. Sofia tem 1 ano e está descobrindo, com muita alegria e curiosidade, como é este novo mundo que ela agora chama de casa. Os dois chegaram em fases muito diferentes da minha vida. Os dois chegaram em momentos e contextos de mundo bem diferentes também e percebo com clareza o quanto a maternidade acelerou em mim Skills determinantes para meu crescimento profissional.
A pandemia também impactou o cenário: uma pesquisa realizada pela McKinsey mostrou que 1 em cada 3 mulheres com filhos na fase da primeira infância estavam pensando em dar um “downgrade” em suas carreiras ou pedir demissão. Mulheres que são mães são quase metade da força de trabalho no mercado profissional brasileiro - imaginem o tamanho do impacto para as empresas em termos de resultados financeiros que essa decisão pode ter.
“O futuro será inclusivo. As gerações atuais precisam estar seguras financeiramente, porque vão continuar cuidando de seus filhos, assim como seus pais fizeram”. Esta frase do CHRO da L’Oreal americana, Stephane Charbonnier, que está em uma das páginas do relatório “Futuro do ambiente profissional 2030+”, publicado pela Kjaer Global em parceria com a Unily, mostra o quanto as questões sobre a maternidade e a paternidade são centrais para a inclusão no ambiente profissional. Conto isso para dizer que não escolhi entre o sucesso profissional e a maternidade. Nem deu tempo de passar por essa escolha!
A maternidade é a primeira grande experiência do meu currículo. Engravidei jovem, fui para o mercado de trabalho já carregando o título Master de Mãe-do-Nicholas. Eu, que não me apego a títulos ou cargos, já entrei no meu primeiro emprego com a especialização da maternidade em andamento. A realidade de ser mãe me acompanha desde o primeiro dia em uma empresa, desde o início da minha trajetória profissional.
Os caminhos diários se cruzam o tempo todo, não existem meios de separar. Se estou no trabalho, estou também pensando em meus filhos. Se estou com meus filhos, estou também pensando no meu trabalho. Ser mãe impactou muitas das minhas decisões sobre carreira. Ser pesquisadora, fundadora de uma empresa voltada para o crescimento profissional das mulheres, e empreendedora faz parte da formação da mãe que estou sendo para o Nicholas e para a Sofia. Pelas conversas mais honestas que tenho, esta é a realidade de muitas mulheres que compartilham a experiência da maternidade comigo.
O site Indeed, que faz parte da plataforma de RH com mesmo nome e é líder em publicações sobre o ambiente profissional e suas tendências, publicou as vantagens na contratação de mulheres que são mães para o crescimento do negócio. O Fórum Econômico Mundial listou as habilidades profissionais estarão em alta e serão essenciais para os profissionais até 2025. Para as mulheres que têm filhos, proponho uma reflexão consigo mesma, dando um check nestas características, pensando em um dia comum da sua rotina:
É interessante trazer um exemplo, dentre tantos: eu, como mãe preciso o tempo todo exercitar e atualizar meu pensamento crítico, porque disso depende as decisões que vou tomar, baseada nas informações que tenho, nas informações que meu filho adolescente me traz e na minha orientação do que é certo ou não, em um mundo que muda o tempo todo e que requer de nós a sabedoria de entender o que faz sentido para o momento em que vivemos e as expectativas que temos.
Além disso, contratar mães torna o time mais diverso, traz novas perspectivas que alimentam a inovação e ajuda a moldar e promover uma cultura organizacional flexível, baseada na transparência. De acordo com dados nacionais, a taxa de natalidade aumentou consideravelmente durante os dois anos de agravamento da pandemia. Ou seja, hoje temos mais mães atuando no mercado de trabalho do que tínhamos em 2019.
A pesquisa realizada pela McKinsey trouxe um insight animador e importantíssimo: mães são o grupo que mais quer crescer profissionalmente entre as mulheres. Enquanto 75% das mães entrevistadas afirmaram que querem ser promovidas, o resultado geral entre mulheres ficou em 70%. “Quero ser uma alta executiva” teve identificação de 35% das mães, enquanto entre as mulheres essa porcentagem não passou de 31%. 60% das mães concordaram que querem ser gestoras, enquanto o índice entre as mulheres ficou em 54%.
Como reforcei no início do texto, mães são potência. Se engajamento e vontade de crescer é o que as empresas buscam, a maternidade é a experiência que fala por si e já traz desenvolvimento de liderança desde o primeiro minuto. A maternidade fala por si porque nós estamos falando por nós mesmas - cada vez mais, melhor e mais alto.
*Dhafyni Mendes é pesquisadora sobre carreiras femininas e cofundadora do TodasGroup, plataforma que reúne as maiores líderes da América Latina em trilha de aprendizado para impulsionar o crescimento profissional de mulheres.
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