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Desvende a sopa de letrinhas de sustentabilidade com este glossário

Existe uma diversidade enorme de metodologias, ferramentas e conceitos que tratam dessa agenda tão relevante; entenda tudo

#ESG Existe uma diversidade enorme de metodologias, ferramentas e conceitos que tratam dessa agenda tão relevante; entenda tudo, escreve Danilo Maeda em sua coluna de hoje na Bússola (Thithawat_s/Getty Images)

#ESG Existe uma diversidade enorme de metodologias, ferramentas e conceitos que tratam dessa agenda tão relevante; entenda tudo, escreve Danilo Maeda em sua coluna de hoje na Bússola (Thithawat_s/Getty Images)

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Publicado em 14 de dezembro de 2021 às 12h29.

Por Danilo Maeda*

Sustentabilidade é uma sopa de letrinhas. Esse é o título de uma seção das aulas que costumo dar sobre o tema e reflete a diversidade enorme de metodologias, ferramentas e conceitos que tratam dessa agenda tão relevante. Os problemas que precisamos resolver são muitos e muito grandes. Por isso é natural que tenhamos tantas proposições, cada uma com sua contribuição. Só em conceitos e metodologias, podemos falar de ESG, TBL, CSV, RSC e EoM, entre outras. Sem falar nas instituições e índices (GRI, CDP, , SASB, ISE, DJSI — e por aí vai).

Resolvi passar a limpo minha leitura dos termos mais usados em sustentabilidade. Não é um exercício de valor acadêmico em que tenha buscado o máximo de precisão das definições — outras pessoas podem entender os conceitos de outra maneira —, mas pode ajudar a dar sentido a essa tal sopa de letrinhas. Conheça abaixo o meu Pequeno Glossário de Conceitos em Sustentabilidade:

- Sustentabilidade corporativa (ou empresarial / organizacional): remete ao desenvolvimento sustentável, que segundo o Relatório Brundtland trata de atender as necessidades atuais da sociedade sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem as suas. A ideia é promover bem estar para todas as pessoas utilizando os recursos do planeta com sabedoria, ou seja: em ritmo inferior ao da regeneração (natural ou induzida). Nas empresas, deveria se traduzir em estratégias amplas, que incluem todas as áreas com objetivo de perenizar o negócio e seus impactos positivos.

- TBL (Tripple Bottom Line, muito traduzido como tripé da sustentabilidade): metodologia criada por John Elkington nos anos 1990 que propõe medir impactos sociais e ambientais da mesma forma que se mede resultados financeiros. Pioneira em traduzir a ideia de sustentabilidade para o mundo empresarial, tem a questão da governança implícita como mecanismo necessário para se gerar bons resultados nos três pilares.

- ESG (Environmental, Social and Governance): remete a um conjunto de indicadores sociais, ambientais e de governança aplicados por empresas e acompanhados por investidores com objetivo de reduzir os riscos e maximizar a geração de valor. Funcionam como um "meio" para se atingir o "fim", que é a sustentabilidade. Sigla cunhada em um relatório de 2004 do Pacto Global e do Banco Mundial.

- RSC (Responsabilidade Social Corporativa): compreende ações e estratégias de impacto social, tipicamente realizadas como devolutiva da organização para a sociedade (giving back), ou como parte de um compromisso ético da gestão diante de problemas sociais relevantes. Nem sempre está incluída na estratégia de negócio e por isso pode ser vista como atividade "paralela" ao objetivo empresarial. Costuma ser realizada por uma área da empresa ou por fundações criadas com esse propósito.

- CSV (Creating Shared Value, Criação de Valor Compartilhado): cunhada por Michael Porter e Mark Kramer, trata de estratégias e ações de empresas que visam beneficiar simultaneamente o negócio e seus stakeholders, gerando resultados mais sustentáveis. A grosso modo, é uma evolução da RSC. Não necessariamente trata de todos os temas em que a empresa eventualmente causa dano, mas valoriza as ações de impacto positivo. O popular "todo mundo ganha", que nas empresas chamam de "win-win".

- Economia da mutualidade: conceito um pouco mais recente, se propõe a dar um passo além do CSV e não só considerar as necessidades dos stakeholders em programas desenvolvidos em parceria, mas incluir tais demandas no propósito da organização. Entende que os limites da empresa precisam ser vistos para além de sua própria estrutura. Para abrasileirar, chamaria de “gestão além do CNPJ”.

- Economia circular: conceito voltado à produção e consumo que propõe o desenvolvimento de ciclos produtivos “fechados”, com circularidade de produtos e materiais, estendendo a vida útil de produtos e matérias-primas por meio de reuso, conserto e reciclagem de produtos, Se contrapõe, à economia linear, que não se ocupa com a destinação final dos produtos e embalagens.

- Mercado de carbono: mecanismo de comercialização em que países e empresas podem compensar suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) ao comprar créditos de carbono de outros agentes que tenham comprovado a captura de carbono (ou seja, que retiraram GEEs da atmosfera) ou países que tenham superado as próprias metas de cortes em emissões.

- Investimento de Impacto: investimento feito com a intenção primária de gerar impacto socioambiental positivo e mensurável, além de retorno financeiro que pode ser maior, igual ou menor que a média do mercado.

- Investimento Sustentável/ Investimento ESG: investimento que agrega à análise tradicional as dimensões ESG, visando melhor gerenciamento de riscos e retorno financeiro superior.

- Materialidade: Originado das Ciências Contábeis, o termo foi adaptado para definir aspectos relevantes sob a ótica financeira, ambiental e social. De acordo com a Global Reporting Initiative (GRI), a materialidade contempla “temas e indicadores que reflitam os impactos econômicos, ambientais e sociais significativos da organização ou possam influenciar de forma substancial as avaliações e decisões dos stakeholders”.

- Vectoring (vetorização): apresentado por Leleux e Kaaij (2018) no livro Winning Sustainability Strategies: Finding Purpose, Driving Innovation and Executing Change propõe que as estratégias de sustentabilidade foquem em um número limitado de questões que sejam críticas, relevantes e materiais e tenham um direcionamento claro, o que seria necessário para acelerar as mudanças desejadas.

- High Sustainability Firms: desenvolvido por Eccles, Ioannou e Serafeim (2011), classifica organizações em empresas de alto ou baixo nível de sustentabilidade (High Sustainability firms ou Low Sustainability firms), de acordo com uma avaliação que considera aspectos de governança, cultura e performance. Os resultados da pesquisa realizada pelos autores, que considerou um período de 18 anos, mostram que, no longo prazo, as empresas de alta sustentabilidade superaram as de baixa sustentabilidade tanto em termos de valor de mercado quanto em medidas contábeis.

- Civil learning tool (estágios de aprendizagem organizacional): Apresentado por Zadek em 2004, apresenta critérios para classificação da maturidade de empresas em relação a temas de responsabilidade corporativa. De acordo com o autor, as organizações tipicamente passam por cinco etapas ao longo de sua curva de aprendizagem no tema: Defensiva, Conformidade, Gerencial, Estratégica e Civil.

- NDCs (Contribuições Nacionalmente determinadas, na sigla em inglês): metas definidas pelos países signatários do Acordo de Paris para cortes em suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Apesar da meta ser conter o aquecimento global a 1,5ºC em relação a níveis pré-industriais, a soma das NDCs ainda nos levariam a 2,4 ºC de elevação. Ou seja, se todos os países cumprirem suas metas, ainda estaremos 1ºC acima do desejado. Para evitar as catástrofes climáticas que fazem parte desse cenário, precisamos acelerar a economia regenerativa.

- Economia regenerativa: trata de soluções com potencial de impacto positivo relevante, que aceleram a regeneração da natureza ou geram benefícios sociais relevantes. Podem ser produzidas por empresas já estabelecidas, novos negócios, organizações sociais ou governos. Ou até por parcerias entre esses agentes.

- Cisnes verdes: Termo cunhado por John Elkington em seu livro mais recente. Se refere a soluções regenerativas escaláveis, de alto impacto positivo sem efeitos colaterais danosos. Para o autor, nosso futuro dependerá da capacidade de a humanidade gerar e viabilizar inovações desse tipo em um curto espaço de tempo.

O que achou? Há outros conceitos que gostaria de entender melhor? Gostaria de ver algo semelhante sobre ferramentas também? Pode me escrever que a gente conversa e encontra uma solução em conjunto: danilo.maeda@fsbholding.com.br.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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