(Rmcarvalho/Getty Images)
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Publicado em 25 de dezembro de 2024 às 10h00.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de elevar, pela segunda vez consecutiva, a taxa Selic para 12,25% em novembro de 2024, tende a intensificar a movimentação nos mercados financeiros. Historicamente, aumentos nas taxas de juros incentivam a migração de capitais para ativos de renda fixa, uma vez que muitas empresas tendem a antecipar captações para se proteger de possíveis aumentos futuros nos custos de financiamento, enquanto investidores procuram maior preservação de capital, com maior liquidez, segurança e previsibilidade.
A preferência por esses investimentos têm ganhado força, especialmente em momentos de maior volatilidade no mercado financeiro. Esse comportamento foi notado ao longo do ano e deve se repetir com a recente alta da Selic, considerando especialmente o cenário de incerteza econômica, tanto nacional quanto internacionalmente.
O apetite dos investidores por produtos com retorno estável e previsível aumenta a liquidez disponível para operações de emissão de títulos, como debêntures, notas promissórias e certificados de recebíveis (CRIs e CRAs).
Na outra ponta, as empresas se beneficiam já que com um mercado mais líquido, e conseguem captar recursos a condições favoráveis e mais baixas do que outras alternativas. Isso é particularmente relevante em um momento de maior seletividade no mercado de crédito tradicional.
Esse movimento se reflete nos números recordes registrados no mercado de capitais brasileiro. Até setembro deste ano, o volume captado no mercado de capitais brasileiro alcançou R$ 633,6 bilhões, um crescimento de 85% em relação ao mesmo período de 2023. Segundo a ANBIMA, 89% desse montante foi obtido por meio de ativos de renda fixa, consolidando a modalidade como a principal escolha para captação empresarial.
Entre os instrumentos que se destacaram, as debêntures lideraram as emissões, representando 60% do total de ofertas, seguidas pelos títulos de securitização, que incluem CRIs, CRAs e FIDCs, com 22%, e pelas notas comerciais, que somaram 6%. “O investidor hoje quer rentabilidade, mas, acima de tudo, quer proteção. Isso explica o interesse crescente por produtos securitizados atrelados a que oferecem segurança e estabilidade em momentos de volatilidade no mercado”, comenta José Alexandre Freitas, CEO da Oliveira Trust.
As notas comerciais, por sua vez, aumentaram 87,5% no acumulado até setembro, em comparação ao mesmo período de 2023, reforçando sua importância crescente como instrumento para democratizar o acesso ao mercado de capitais e consolidando-se como uma alternativa eficaz de financiamento para empresas. A preferência por notas comerciais também reflete a busca por praticidade e menores custos administrativos, uma vez que esse instrumento permite captação rápida, sem a burocracia exigida por debêntures.
No acumulado do ano, a captação líquida de fundos de investimento somou R$ 245 bilhões, com destaque para os fundos de renda fixa e os de FIDC, que captaram R$ 312 bilhões e R$ 109 bilhões, respectivamente.
Com o crescimento do mercado de renda fixa, empresas especializadas em serviços fiduciários e administração de fundos, como a Oliveira Trust, têm acompanhado essa expansão, consolidando seus resultados em alinhamento com a evolução do setor. A companhia, por exemplo, reportou receita líquida de R$ 74,7 milhões no 3T24, marcando um crescimento de 19% frente ao mesmo período de 2023.
No acumulado de 2024, a empresa que é líder de mercado em agente fiduciário, também viu avanços nas operações emitidas, com um aumento de 25% em CRIs, 24% em CRAs e 21% em debêntures. No período ainda alcançou R$ 154 bilhões em Ativos sob Administração (AuA) e R$ 160 bilhões em Ativos sob Custódia (AuC), representando aumentos de 7% e 10%, respectivamente, quando comparados ao 3T23. No acumulado de nove meses, a receita totalizou R$ 216,9 milhões e o Lucro Líquido R$ 76,1 milhões, superando em 20% e 35%, respectivamente, os resultados alcançados em 2023.
Na escrituração de fundos de investimento e títulos de dívida, o volume financeiro cresceu 26%, atingindo R$ 434 bilhões, com destaque para o número de operações escrituradas de CRIs e Notas Comerciais, com crescimento de 61% e 185%, respectivamente. A companhia ainda expandiu seu portfólio, ultrapassando a marca de 200 fundos sob administração.
Em meio a esse cenário, Freitas observa que “o mercado de crédito se firmou como um dos principais destinos para alocação de recursos. O cenário global incerto e as pressões fiscais locais reforçam a busca dos investidores por ativos de menor risco e maior previsibilidade, impulsionando o setor de renda fixa e as operações estruturadas, geralmente contratadas com prestadores de serviços fiduciários tradicionais e com histórico de boa performance em cenários mais turbulentos. A sinalização de aumento da taxa Selic continua a oferecer suporte a essa tendência, enquanto as perspectivas de médio prazo ainda dependem de desdobramentos no cenário macroeconômico, tanto no Brasil quanto no exterior”.
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