Filme está em cartaz nos cinemas (Angel Studios/Divulgação)
Sócio e diretor-geral da Loures Consultoria - Colunista Bússola
Publicado em 7 de outubro de 2023 às 07h00.
Som da Liberdade é um filme sobre um policial dos Estados Unidos – Tim Ballard – que enfrenta uma rede colombiana de tráfico de crianças, focada na venda de meninos e meninas a pedófilos. É isso. Eis que recentemente surgiram teorias contra e a favor do filme, seguindo preceitos políticos com pouca, ou nenhuma, visão, classificando-o como algo muito mais complicado do que verdadeiramente é.
Nos Estados Unidos, o filme recebeu apoio do ex-presidente Donald Trump e do bilionário Elon Musk. No Brasil, a estreia teve políticos bolsonaristas e grupos alinhados à direita trabalhando sua divulgação. Aí, apoiadores da esquerda política tacharam o longa como um produto da direita brasileira, classificando-o como religioso, político e, claro, direitista. Ah, e como ruim, fraco, que não vale assistir.
É só um filme, repito. Longe de ser o melhor, mas é um filme... bom, que vale o ingresso. Baseado na real história de Tim Ballard, hoje um ativista e palestrante, erra em explorar clichês e tem interpretações falhas. Entretanto, acerta em colocar o dedo na ferida e mostrar que a pedofilia ronda a sociedade, algo sempre pouco conversado.
Se bolsonaristas e religiosos gostam do filme, isso não tira ou amplia sua qualidade. O mesmo sobre o apoio ou a crítica da esquerda política.
Aliás, vi muito texto jornalístico criticando “o sucesso entre cristãos” ou “evangélicos”. Vale lembrar que o Brasil é majoritariamente um país cristão, com cerca de 90% de católicos e evangélicos. Ou seja, todo sucesso aqui, de qualquer gênero ou linha, agrada cristãos.
Som da Liberdade não é um filme religioso. Apenas em três falas há citação religiosa e é preciso levar em conta que o enredo é de um pai desesperado pelo sequestro de dois filhos, o que permite essas três falas. Sua estética segue, sim, a de outros filmes de religião: tem drama, desespero, famílias numerosas, música chamativa, closes estourados. Porém, o diretor, Alejandro Monteverde, nitidamente segura a onda e não deixa o filme focar na religião.
O longa tem um predicado importante: mostra algo que a sociedade pouco conhece. É raro ter filme sobre pedofilia. Menina Má é um exemplo, muito bom, mas são raridade. É um assunto que precisa ser falado, trazido à tona; e Som da Liberdade coloca o problema à mesa.
Já são duas semanas seguidas liderando a bilheteria brasileira. É verdade que a produtora Angel Studios está dando ingressos, mas aí é com ela. O que importa é o chamado que o personagem de Jim Caviezel, o protagonista, traz.
A presença de Caviezel é outro ponto debatido entre esquerda e direita no Brasil. Ele estrelou A Paixão de Cristo, de Mel Gibson (que também produz Som da Liberdade), e deu uma declaração de que a organização QAnon “é uma coisa boa”. A QAnon é uma maluquice de direitistas dos Estados Unidos que aponta políticos, como Donald Trump, como líderes de uma guerra secreta contra pedófilos adoradores de Satanás. Com esse currículo, prato cheio para classificar o longa como uma ode à religião e à direita.
Ok, Caviezel pode até ser um idiota (não sei, nunca falei com ele), mas está estrelando um filme que combate a pedofilia. Se é de direita ou esquerda, com ou sem noção, está, sim, fazendo algo positivo.
“Qualquer pessoa que tenha visto este filme sabe que não tem nada a ver com teorias da conspiração”, disse o presidente do Angel Studios, Jordan Harmon. “É sobre um homem que fez algo corajoso.” Concordo, e acrescento: é sobre um assunto que precisa ser combatido, uma luta que precisa ser amparada.
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