No futebol e no ESG, talento e esforço individuais são insuficientes (Fernando Torres/CBF/Agência Brasil)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 28 de fevereiro de 2023 às 09h40.
Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 20h51.
É clichê dizer que o futebol é uma analogia da vida. Mas para quem ama o esporte é uma verdade. Há, de fato, várias lições que pode-se aprender ao examinar partidas, situações de jogo e outros aspectos do ludopédio. É claro que nem tudo pode ser extrapolado – a vida real tende a ser mais complexa – mas me permiti refletir sobre como meu esporte preferido tem correlações com outra paixão, que ocupa a vida profissional – a sustentabilidade.
Note-se que não pretendo traçar lições universais e aplicáveis a qualquer situação. Não cometeria a insensatez de não seguir o conselho de Tostão, que em 2003, ao comentar porque não aceitava os convites recebidos para palestras corporativas, escreveu: “As empresas confundem as razões e as emoções do esporte com as experiências pessoais. Querem criar um manual e um perfil dos vencedores. Não existe. As experiências não se transmitem. Cada um faz do seu jeito”.
Outros textos neste espaço tratam (e continuarão a tratar) de como desenvolver e aplicar estratégias de sustentabilidade. O texto de hoje é diferente. Um respiro, em tom mais leve, sem pretensões. Um exercício de analogias entre futebol e sustentabilidade.
A primeira delas é óbvia. Em ambos os casos, talento e esforço individuais são necessários, mas insuficientes. Grandes craques sem times que o acompanhem têm menos possibilidades de vencer, especialmente se a principal peça for do tipo individualista, que não entende seu papel em ajudar os companheiros a melhorar e aumentar, assim, as chances da equipe.
Da mesma maneira, é impossível fazer sustentabilidade sozinho, até porque as pessoas são a razão de ser desta agenda. Talvez a diferença neste caso seja que em sustentabilidade é muito mais comum – e necessário – que organizações juntem-se aos concorrentes para tratar de desafios comuns.
Outra analogia interessante é em relação aos aspectos táticos. Há muitas maneiras de se jogar futebol e de fazer sustentabilidade. E todas são corretas, se aplicadas nas situações mais adequadas. Times defensivos podem ser comparados com organizações que focam na gestão de riscos socioambientais. Os ofensivos são os que procuram criar valor compartilhado e assumir protagonismo em determinadas agendas. Os que gostam da posse de bola preferem estratégias proativas, com planos e metas públicas. Os que jogam de maneira “reativa”, como se diz atualmente, são as organizações que fazem a lição de casa com diligência e buscam oportunidades bem estudadas para dar saltos em temas ESG.
A depender do cenário, cada forma de jogar pode ser mais indicada. Como fazer essa escolha depende de diversos fatores - outra característica que aproxima os dois mundos. No esporte, aspectos técnicos, táticos, físicos e psicológicos interagem e se sobrepõem em ao menos três níveis (individual, coletivo e na interação com o adversário), sob influência de elementos como campo, bola, torcida, arbitragem, meteorologia e outros.
Se o jogo é muito mais complexo do que chutar na direção de uma baliza, algo parecido pode ser dito sobre a agenda da sustentabilidade, que vai muito além dos aspectos ambientais e é composta também por temas sociais e econômicos que interagem e se sobrepõem em ao menos três níveis (individual, coletivo e na interação com a sociedade), sob influência de elementos como mercado, política, recursos e outros.
Poderia continuar as comparações, tratando por exemplo de como o comportamento da torcida, tipicamente inflamada por paixões de curto prazo, pode ser prejudicial às suas equipes no longo prazo. Ou de como erros aparentemente pequenos podem colocar campeonatos inteiros sob risco. Ou sobre os méritos de quem disputa com honra mesmo sem as melhores condições. Mas este é um artigo curto, e não algo para ser lido em 90 minutos.
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