Não podemos deixar que a empolgação com avanços nos impeça de olhar o fim, que é o desenvolvimento sustentável (Alistair Berg/Getty Images)
Bússola
Publicado em 4 de janeiro de 2022 às 17h28.
Por Danilo Maeda*
O filme ‘Não Olhe para Cima’ parece ter sido lançado à posição de obra mais indispensável de todos os tempos das últimas semanas. A sátira sobre as relações contemporâneas entre política e ciência pode ser lida como uma analogia às mudanças climáticas provocadas pela humanidade. Apesar dos seus problemas (vale lembrar que qualquer obra é passível de críticas), a película amplia a lista de produções culturais, técnicas e científicas que lembram a sociedade de que temos pouco tempo para evitar que o aquecimento global chegue a níveis catastróficos e para lidar com as consequências de impactos irreversíveis já causados pelas emissões de gases de efeito estufa (GEE) acumuladas nos últimos anos.
Os alertas do filme lembram o relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que apontou como as alterações recentes não têm precedentes e estão diretamente relacionadas com o aumento na frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas prolongadas e chuvas torrenciais.
Por outro lado, falar em potenciais catástrofes enquanto vemos mais e mais empresas anunciando compromissos e resultados em gestão de temas ambientais, sociais e de governança (ESG) pode parecer contraditório. Mas essa é apenas uma impressão superficial. Não podemos deixar que a empolgação com avanços — que são o meio para um objetivo maior — nos impeça de olhar o fim, que é o desenvolvimento sustentável — a capacidade de atender as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de próximas gerações atenderem suas necessidades.
Também é fundamental pensar sobre as lacunas que ainda precisam ser resolvidas. E elas são grandes. No último ano, por exemplo, o Brasil não avançou sequer em uma das 169 metas que compõem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). No âmbito global, o exemplo das mudanças climáticas é emblemático: apesar dos esforços da COP 26, a soma das novas NDCs (Contribuições Nacionalmente determinadas, na sigla em inglês) ainda somam emissões que representam 2,4°C de elevação, quase 1ºC acima do limite de 1,5ºC estabelecido no Acordo de Paris. Ou seja, mesmo que todos os países cumpram suas metas, o problema está longe de ser resolvido.
Contudo, temos uma última chance. Para isso, a ação de combate às mudanças climáticas e de atingimento dos ODS deve ser ampla, imediata e de alto impacto. O desafio é grande e o tempo é curto, mas as oportunidades são proporcionais à dificuldade do cenário. Como sempre, quem sai na frente tem vantagens competitivas e pode definir as tendências. É aí que reside nossa esperança.
Não é exagero dizer que para acelerar a transformação dependemos de respostas ainda não disponíveis. É o que chamamos de cisnes verdes: novas soluções sistêmicas para desafios globais. Elas poderão ser escaladas e aplicadas com velocidade para reverter danos e gerar valor compartilhado sem efeitos colaterais. Não é à toa que utilizamos termos como “escala”, “impacto” e “velocidade”, muito comuns no mundo da inovação e do empreendedorismo digital. Eles estão na mesa porque chegamos a um ponto em que esses aspectos são fundamentais para a manutenção de condições mínimas de sobrevivência para a humanidade.
Em outras palavras, na biologia do empreendedorismo, é necessário que os Cisnes Verdes ocupem o espaço de desejo já ocupado pelas startups “unicórnio”. Todos querem ser escaláveis, transformacionais e disruptivos. Mas o sucesso só virá no longo prazo — para quem empreende e para os demais habitantes do planeta — se tudo isso estiver aliado com impacto socioambiental positivo.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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