Relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial apresenta cinco ameaças — das dez principais — relacionadas à saúde do planeta (C. Fernandes/Getty Images)
Bússola
Publicado em 18 de janeiro de 2022 às 12h40.
Última atualização em 18 de janeiro de 2022 às 13h36.
Por Danilo Maeda*
Semana passada foi divulgado o relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). Como de costume, o documento foi dissecado por mercado e imprensa (também fizemos nosso resumo analítico). Mais uma vez, os temas ambientais tiveram destaque como os principais riscos para sociedades, governos e empresas, segundo os apontamentos de especialistas e lideranças que participaram da pesquisa.
É curioso notar como, ao longo dos anos, a agenda de prevenção de riscos do WEF, um fórum representativo da liderança empresarial global, se transformou em sinônimo de ESG. Enquanto as primeiras edições do relatório, há pouco mais de 15 anos, eram dominadas por temas econômicos como preço de ativos e commodities, as versões mais recentes apresentam temas ambientais e sociais como as principais preocupações do mundo empresarial.
Em 2022, cinco das dez principais ameaças mapeadas estão relacionadas à saúde do planeta, sendo que “Fracasso na Ação Climática”, “Extremos Climáticos” e “Perda de Biodiversidade” ocupam as três primeiras posições. O debate público tem tratado desses assuntos com frequência, apontando como os efeitos de mudanças climáticas induzidas pela humanidade já causam impactos significativos em sociedades, economias e ecossistemas.
Por isso, aproveito este espaço para chamar atenção a outro aspecto relevante: a ascensão dos riscos sociais. Temas como “erosão da coesão social”, “crises de subsistência” e “deterioração da saúde mental” foram apontados entre os que mais pioraram, sendo que os dois primeiros estão entre as dez maiores preocupações. O crescimento das desigualdades é apresentado pelo Fórum Econômico Mundial como um fator relevante de instabilidade.
A pandemia agravou a disparidade entre ricos e pobres, com o acesso a vacinas — também desigual — como fator determinante para a capacidade de recuperação das economias globais. Em outras palavras, o abismo atual é tão grande que rupturas sociais se tornaram um risco relevante para o mundo dos negócios.
Os números evidenciam que esta não é uma leitura exagerada. Segundo a Oxfam, os dez homens mais ricos do mundo têm hoje seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões mais pobres. Eles mais que dobraram seu patrimônio durante a pandemia. No mesmo período, a renda de 99% da humanidade caiu, mais de 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza e um novo bilionário surgiu a cada 26 horas. No Brasil, os 20 maiores bilionários têm mais riqueza (US$ 121 bilhões ou R$ 669,7 bilhões) do que 60% da população.
Conforme dados coletados por outro centro de estudos, o World Inequality Lab, os 10% mais ricos do mundo detém 76% do patrimônio. A taxa foi alcançada após aceleração das disparidades nos últimos anos, que chegaram a patamares comparáveis ao começo do século XX. No Brasil, conhecido como um dos países mais desiguais do mundo, avalia-se que os 10% mais ricos possuem 80% do patrimônio. E o 1% no “topo da pirâmide” detém quase metade do patrimônio privado do país.
De acordo com o relatório do WEF, um cenário como esse “criará tensões — dentro e além das fronteiras — que podem piorar os impactos em cascata da pandemia e dificultar a coordenação necessária para enfrentar desafios comuns como ação climática, segurança digital, restauração de meios de subsistência e a coesão social”. O mercado percebeu como está tudo interligado.
Espero que as conclusões apresentadas no documento pautem análises de risco em diversas esferas. No nível de nossas organizações, é fundamental que cada uma promova suas próprias reflexões sobre como a agenda de riscos globais pode afetar operações e planos de futuro. E que se engaje com stakeholders para construir redes de colaboração e geração de valor compartilhado que se traduzam em ações efetivas de mitigação de riscos e construção de resiliência para nossa economia e sociedade. Como sempre dizemos, sustentabilidade é uma jornada que se caminha em conjunto.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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