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Danilo Maeda: Desastres climáticos são uma tragédia anunciada

Somente nos primeiros três meses deste ano, quase oito milhões de brasileiros foram afetados por catástrofes ambientais

Os chamados desastres ambientais estão mais frequentes e graves (Leolintang/Getty Images)

Os chamados desastres ambientais estão mais frequentes e graves (Leolintang/Getty Images)

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Publicado em 7 de junho de 2022 às 08h16.

O futuro chegou. Esta coluna tem repetido essa frase à exaustão. Não por desejo do autor, mas por imposição dos fatos. Desde que se estabeleceu a discussão sobre mudanças climáticas, cientistas alertam para o fato de que os chamados eventos climáticos extremos se tornariam mais frequentes e mais severos. Pois bem, semana passada a Confederação Nacional de Municípios (CNM) divulgou um levantamento segundo o qual mais de 25% das mortes por chuvas no Brasil nos últimos 10 anos ocorreram entre janeiro e maio de 2022.

Segundo outro estudo da CNM, quase oito milhões de brasileiros foram afetados por catástrofes ambientais nos primeiros três meses deste ano. No período, foram contabilizadas 2,2 mil "anormalidades" ambientais no país. O prejuízo financeiro foi superior a R$ 72 bilhões, recorde anual alcançado em apenas quatro meses (janeiro a abril). Durante todo o ano de 2021 inteiro, o custo foi de R$ 60,3 bilhões.

Como previsto, os chamados desastres ambientais estão mais frequentes e graves. A ponto de anestesiar parte da sociedade, que mal consegue acompanhar os fatos e menos ainda refletir sobre as causas de tragédias que começam a fazer parte da rotina. É preciso um esforço ativo para lembrar que eventos climáticos extremos possuem custos sociais, ambientais e econômicos altíssimos, que superam investimentos em prevenção, com estratégias de mitigação e adaptação climáticas.

Como todo problema que atinge desproporcionalmente os mais pobres, a necessidade de adaptação tem sido negligenciada. Na COP 26, por exemplo, a regulamentação do mercado internacional de carbono destinou menos recursos do que o inicialmente programado para o Fundo de Adaptação que será destinado a países mais vulneráveis. Em um presente no qual a parcela mais pobre já sofre na pele as consequências das mudanças climáticas, o desenvolvimento de infraestruturas resilientes é tratado como um tema do futuro.

Mudar esta situação passa por ações urgentes, de curto prazo, e estruturantes, que permitam abordagens mais sustentáveis para políticas públicas baseadas em evidências. E os municípios, que conhecem de perto a realidade das populações em situação de risco, podem assumir o protagonismo do processo, como sugerem as diretrizes do movimento Pacto Federativo: Municípios para a Agenda 2030.

Escrevi isso meses atrás, após a tragédia de Petrópolis, mas vale repetir: É urgente mapear onde estão e quais são os principais riscos e populações mais expostas às mudanças climáticas e colocar em prática planos de ação específicos para elevar a resiliência dos sistemas e/ou desenvolver estratégias de mitigação e adaptação à nova realidade que, diga-se de passagem, será imposta a populações vulneráveis como consequência das ações de quem concentra poder e recursos para evitar o pior, mas prefere terceirizar os riscos de suas decisões.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

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