SEALs da Marinha enquanto realizam treinamento de operações de mergulho no Oceano Atlântico, em 29 de maio de 2019. Primeiro Sargento da Marinha Jayme Pastoric/Exército dos Estados Unidos. (SEALS/Divulgação)
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Publicado em 17 de agosto de 2023 às 14h18.
Por Cristiano Zanetta
No cerne da produtividade, tanto individual quanto coletiva, reside um senso comum de que é preciso aplicar um impulso rápido e feroz em direção às metas - uma chama que chamamos de "motivação". Embora ela seja compreendida por muitos como crucial nas dinâmicas empresariais e na cultura organizacional, há um risco significativo inerente a sua transformação em alicerce primordial da cultura organizacional.
O engajamento dos colaboradores vai além da simples motivação. A falta de um objetivo claro pode resultar em desorientação e falta de alinhamento com a missão da empresa. Além disso, a ausência de desafios significativos, recompensas e reconhecimento, juntamente com um ambiente de trabalho negativo, pode comprometer a “motivação” que fora aplicada.
O relatório do "State of The Global Workplace 2023", conduzido pela consultoria Gallup, projeta uma sombra sobre este cenário, revelando que uma proporção substancial da força de trabalho mundial está se inclinando para o "quiet quitting" (demissão silenciosa), empregando esforços mínimos até serem desligados.
Baseado nas respostas de 122.416 profissionais com mais de 15 anos de experiência em mais de 160 nações, a pesquisa aponta que 59% se identificam com esse comportamento. E ao serem questionados sobre quais mudanças poderiam tornar o ambiente de trabalho um ótimo lugar, notavelmente, 85% sugeriram que para isso acontecer é preciso de engajamento/cultura, remuneração e bem-estar.
Assim, resta claro que a simples "motivação" é insuficiente para instaurar mudanças substanciais na cultura organizacional e promover o real engajamento dos colaboradores. O estudo ainda mostra que o nível de estresse no ambiente profissional se mantém em um recorde desde 2021, com 44% dos entrevistados relatando sua prevalência durante a maior parte do dia anterior.
Portanto, para garantir um percurso consistente e engajado ao lado dos colaboradores, é crucial estabelecer um ambiente de trabalho fundamentado no respeito, na definição de limites, no reconhecimento e na valorização mútua. Nesse contexto, o cultivo do propósito ganha destaque como uma ferramenta fundamental para a construção de uma cultura organizacional saudável e eficaz.
Estudos da Harvard Business School corroboram essa perspectiva. Os negócios impulsionados por um propósito claro testemunharam um crescimento de 85%. Em contraste, empresas desprovidas de um propósito definido experienciaram declínio no desenvolvimento.
Conforme os colaboradores descobrem propósito em suas ações - alinhado aos princípios da empresa - e percebem o impacto positivo que geram, enquanto experimentam uma genuína valorização por suas contribuições em um ambiente de trabalho mais saudável, o engajamento aumenta e passa a ser contínuo.
O treinamento dos SEALs (Sea, Air and Land Teams), a unidade de elite da Marinha dos Estados Unidos especializada em realizar missões altamente complexas em ambientes marítimos, terrestres e aéreos, é conhecido por sua extrema exigência e desafio.
Elaborado com precisão para avaliar e estender os limites físicos, mentais e emocionais dos participantes, essa formação reflete a filosofia fundamental de que somente aqueles verdadeiramente comprometidos em se tornarem SEALs serão capazes de demonstrar a determinação necessária para superar os obstáculos e concluir o rigoroso processo de seleção.
No decorrer do treinamento BUD/S (Basic Underwater Demolition/SEAL), os candidatos enfrentam uma série de atividades exaustivas, como corridas de longa distância, natação intensiva, treinamento físico rigoroso, corridas de obstáculos e exercícios de trabalho em equipe.
Este cenário é forjado para criar um ambiente no qual os candidatos sejam testados tanto fisicamente quanto mentalmente, onde a resiliência e a capacidade de lidar com o estresse são continuamente avaliadas.
O objetivo é desafiar os candidatos a saírem de suas zonas de conforto, enfrentando provações que muitas vezes parecem insuperáveis. Isso é feito para estabelecer um ambiente no qual os candidatos se veem confrontados com a indagação sobre se estão verdadeiramente dispostos a perseverar diante das adversidades constantes.
Essa abordagem se fundamenta na premissa de que indivíduos que carecem de um propósito autêntico para abraçar a carreira de SEAL provavelmente escolherão desistir, culminando em uma seleção natural daqueles que possuem a dedicação essencial para persistir e triunfar.
No contexto das minhas abordagens com pacientes que enfrentam o câncer e a depressão, introduzo um genuíno propósito que os guie a perseguir metas específicas, incentivando também a continuidade do tratamento. Isso se baseia na promoção da autoconfiança e no estímulo a aspirações, fatores cruciais para superar desafios.
Essa abordagem se apoia em quatro elementos fundamentais: desejo, alinhado ao propósito; sonho, conferindo sentido; metas, como alvos; e missão, como tarefas para alcançar essas metas. A força de vontade, alimentada por esses elementos, é essencial para transformar propósitos em realidade.
*Cristiano Zanetta, reconhecido oficialmente pela Warner Bros como o “Batman do Brasil”, é empresário, palestrante TED e filantropo. Uma das maiores referências brasileiras em humanização que contribuiu para a reinvenção de ações sociais por todo o país.
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