Criadores de conteúdo estão cada vez mais presentes na estratégia das marcas. (Westend61/Getty Images)
Bússola
Publicado em 24 de setembro de 2021 às 21h00.
Por Arthur Alvarenga*
A influência dos criadores de conteúdo (ou creators) é uma realidade. Tanto, que há tempos eles já não estão mais somente nas redes sociais e hoje se fazem presentes no dia a dia de marcas e pessoas, em comerciais, campanhas, ações, eventos e por aí vai. E para ser um influenciador ou um creator é preciso muita criatividade, talento e paixão. Não à toa, o Brasil é um dos maiores mercados de influência do mundo. Mas nem todo mundo quer fazer dancinha no TikTok e tudo bem, já que a Creator Economy vai muito além disso.
Esse novo movimento econômico transaciona cerca de US$ 108 bilhões por ano, e está apenas começando. Seu antecessor foi o Gig Economy, que modificou drasticamente o mercado de trabalho e continua vigente até hoje com grandes players do mercado de entregas e apps de transporte. A quebra de barreiras, conectando serviços e produtos por geolocalização e a reinvenção do trabalho como ele era feito/remunerado são os pontos positivos da Gig Economy. Os negativos são, entre outros, falta de direitos trabalhistas e muitas horas de trabalho.
Com os criadores de conteúdo e influenciadores não é muito diferente, pois eles funcionam como um canal de aquisição para grandes redes sociais como Youtube e Instagram.
Dentro desse sistema, as formas de monetização são, em sua grande maioria, parcerias com marcas e aluguel de audiência (add share audience) e, para isso, precisam consolidar um grande número de visualizações, produzindo incessantemente, sem receber nenhuma compensação financeira e, portanto, precisam ter outra ocupação (mesmo que não seja o que gostam) para garantir sua renda. Além disso, com a máxima “quem não é visto não é lembrado”, o ritmo de produção é insano e, com a dupla jornada, muitas vezes os leva à exaustão e, consequentemente, à frustração.
Mas existem outros caminhos. Na Creator Economy, as pessoas estão no centro do negócio, antes das empresas, que apenas oferecem serviços e ferramentas para que criadores de conteúdo e influenciadores possam gerar negócios. E para isso não é preciso ter milhões de seguidores. Além dos grandes influenciadores, existem também os médios, micros e nanos, que, mesmo com um número menor de fãs, contam com um público nichado e fiel, que busca determinados assuntos, independente do que os algoritmos mostram no feed. Portanto, para os creators, o que mais importa é o engajamento de sua comunidade, que se une por um ou mais temas de interesse e segue as autoridades no assunto. Na era das fakes news, especialistas geram valor à informação e então podem (e devem) monetizar conhecimento e talento, empreendendo e fazendo disso um negócio.
Futuro no pós-pandemia
A pandemia acelerou um processo natural que começou com a Gig Economy: a migração do consumidor para o mundo online, adquirindo produtos, serviços e conteúdos. Segundo a pesquisa “TIC Domicílios 2020”, realizada pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), em parceria com a Unesco e o Cgi.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), divulgada no último mês, são 152 milhões de usuários sedentos por conteúdos e informações exclusivas e personalizadas.
Ou seja, um vasto campo para os que atuam com a internet ou desejam iniciar uma jornada nesse mercado. Um ecossistema que transforma talentos e habilidades em receita dentro de uma comunidade interessada em consumir informações sobre determinado assunto ou aprender algo novo. Isso já vinha acontecendo com a monetização das redes sociais, only fans e startups para criação e monetização de cursos, podcasts e newsletters, por exemplo. Os creators podem escolher: adaptar seus conteúdos às plataformas ou escolher a melhor plataforma e o melhor formato para sua comunidade receber, compartilhar e interagir com o tema.
Neste contexto, os criadores podem explorar outros formatos e espaços, de acordo com a preferência da sua comunidade. Alguns modelos como cursos online e e-books vêm ganhando força e a tendência são espaços que possibilitem a construção de comunidade, a interação e a monetização direta dos conteúdos, como os grupos em aplicativos de mensagem, que têm se mostrado uma boa alternativa e as opções estão aumentando.
Além do mais famoso, WhatsApp, com dois bilhões de usuários no mundo e dos já tradicionais, Messenger e Telegram, outros aplicativos ganham força em diferentes comunidades pela internet, como é o caso do Discord e do Signal. Com uma gestão inteligente dessas comunidades — facilitada pela tecnologia — automatizações e bots para melhorar o atendimento humanizado à distância, por exemplo. Com isso, a forma de trabalho é novamente reinventada pela tecnologia e se adapta ao online em definitivo.
Assim, a comunicação com o público tende a ser mais rápida e efetiva e os creators ganham mais tempo e dinheiro para se dedicar exclusivamente à produção de conteúdos para alimentar suas comunidades — tanto as públicas, nos sites e redes sociais —, quanto as privadas ou exclusivas como domínios próprios, newsletters e grupos fechados para assinantes, movendo e modificando a economia.
*Arthur Alvarenga é CEO da ChatPay — plataforma que gerencia grupos por assinatura em aplicativos de mensagem
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