Anderson Cavalcante: “Livro tem que ter cheiro, som, tato.” (Jovan_epn/Getty Images)
Bússola
Publicado em 7 de dezembro de 2021 às 17h41.
Última atualização em 8 de dezembro de 2021 às 15h51.
Por Juan Saavedra*
Anderson Cavalcante é um cara meio acelerado. Em entrevista à coluna, na manhã de uma sexta-feira, antecipou-se a várias perguntas — tudo isso enquanto transitava em casa na busca do melhor sinal de internet para a conversa.
Responsável direto por alguns dos maiores sucessos do mercado editorial brasileiro — incluindo “Quem Ama Educa” (Editora Gente), de Içami Tiba; e “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos” (Editora Gente, e depois Editora Sextante), de Gustavo Cerbasi —, Cavalcante abandonou o que poderia ser uma carreira tranquila para fundar um novo negócio.
A aposta deu certo. Criada em 2016, a Buzz Editora acaba de completar seu quinto aniversário com uma marca invejável: 40 milhões de livros vendidos entre papel e digital — dos quais 11,4 milhões somente com “Seja Foda”, do colunista da Bússola Caio Carneiro, o título da categoria de negócios que teve mais saída em dois anos consecutivos (2018 e 2019).
Perto desse patamar está “Ponto de Inflexão”, de Flávio Augusto Da Silva (fundador da empresa Wise Up e sócio da Buzz), com 10,7 milhões de livros vendidos. Já no final deste ano, outro best seller parece estar a caminho: “Mindset milionário”, de José Roberto Marques. Lançado em outubro, o trabalho chegou à primeira posição da lista geral de mais vendidos da Publish News no mês de novembro.
Para mover essa máquina, a estrutura é enxuta. Com sede no coração da Avenida Paulista, a Buzz tem 12 funcionários, número que chega perto de 30 colaboradores com o pessoal dedicado à revisão, diagramação e preparação — sem contar a parte logística. “Nosso desafio foi formar um time de gente capacitada num negócio que era uma startup”, diz Cavalcante.
A expectativa é de crescimento com a melhora do quadro sanitário e a Buzz já está contratando mais profissionais. “Em 2022 a gente acredita que vai ser muito grande nosso crescimento”, acrescenta o empresário, animado com a perspectiva de eventos presenciais como festivais literários e noites de autógrafos.
“Livros de negócios cresceram nesses últimos quatro/cinco anos. Se você olhar a lista de mais vendidos para trás, o que vendia mais era autoajuda ou ficção. Esse movimento tem a ver com a onda de empreendedorismo”, afirma. “E a gente está vendo o crescimento do número de autoras mulheres nesse mundo dos negócios. Acredito que será um sucesso.”
Veja outros trechos da entrevista:
Concepção editorial
“Na Gente, quando assumi como CEO, comecei a trabalhar em um novo formato. Em vez de lançar quantidade de títulos, comecei a lançar menos. É um modelo de negócio que sigo até hoje. Lanço menos, mas trabalho muito bem esse conteúdo, essa capa, esse título. De modo que todo título tem que contar uma história e impactar as pessoas. Não é tentativa e erro o meu jogo. Falo que o pessoal [no mercado] joga boliche, buscando strike. E eu jogo xadrez.”
Modelo de negócio na Buzz
“Lanço dois títulos por mês. E por que só dois? Porque é o que eu dou conta de trabalhar. Aqui, o autor entrega o texto, e eu vou ler, minha equipe lê, a gente manda para jornalistas contratados que tenham a ver com aquele perfil de livros. Consolidamos uma leitura crítica e a gente fala para o autor: ‘Olha, isso aqui não está legal. Isso aqui deu sono. Isso não faz sentido. E isso está muito legal.... Dá para você falar mais?’ E vamos trabalhar no texto. O "Seja Foda", por exemplo, foi reescrito sete vezes. Temos casos de livros que foram reescritos 11 vezes.”
Trabalho como publisher
“Quase todas as editoras no Brasil trabalham com o conceito de jornada do herói. Nós trabalhamos o storytelling. A primeira pergunta que faço para o autor é: 'O que seu livro vai mudar na vida das pessoas?' Com essa resposta, penso como é que vou pegar na mão desse leitor e vou levá-lo, através de meu roteiro, para conectá-lo com essa promessa. Como a gente pode levar esse assunto para a realidade do pequeno empreendedor, de quem faz a gestão de dez mil funcionários? Livro tem que ter cheiro, som, tato. Como a gente faz isso? Através de técnicas de escrita. Dá muito trabalho? Dá. Mas quando a pessoa ler, vai sentir um prazer na leitura. São esses autores [que concordam com esse processo] que mais quero do meu lado: os que estão dispostos a terem seus textos trabalhados, com o objetivo único de contribuir com os leitores.”
Relacionamento com os autores
“Lidamos com dois tipos de autores. Alguns muito conhecidos e famosos falam assim: 'A editora tal falou que publica o que eu escrever.' Aí, eu falo: 'Cara, então vai para lá porque a editora Buzz é para os fortes. Aqui, a gente vai mexer no seu texto, vai criticar, vai trazer pontos. Não que eu saiba o que será um best seller. Mas sei o que não vai dar certo. No texto original, tem situações que o autor coloca que podem ir para uma linha de petulância ou de arrogância ou de prepotência, mas que, resumindo, dão uma desconectada do leitor. E não quero permitir que isso aconteça. A gente vai muito fundo para tirar o melhor do autor. Quero o que ele não falou, que ele me conte as dores que passou, as quedas que teve no seu negócio. Porque é aí que o leitor vai aprender. Se o autor fala que não quer que mexa no seu texto, vai para outra editora e segue a vida. E é muito comum eles voltarem depois, falando que querem fazer conosco.”
Trabalho para ser competitivo
“Na minha opinião, o mercado editorial, mercadologicamente falando, é muito amador, em vários sentidos. A gente enfrentou dificuldades no início. Sempre quis fazer livros coloridos, que a pessoa tivesse vontade de folhear, que não quisesse emprestar. Esse é o diferencial da Buzz. Minha maior dificuldade era como viabilizar um livro bonito, caro, com soft touch, que é um papel diferente, com orelha maior, sem mudar meu preço. Tem concorrentes que vendem o mesmo padrão de livro a R$ 79 e meus livros de negócios custam R$ 49, com acabamento melhor. Foi muito difícil equacionar isso, mas nosso modelo de negócio é proporcionar para o leitor uma experiência diferente e, quem sabe, a partir daí, incentivar o hábito da leitura de livros de negócios no Brasil. Por exemplo, o livro "Sonhos In Box", do Robinson Shiba, abre igualzinho como se abrisse um China In Box. Procuramos quatro gráficas até encontrar uma que topasse. E deu certo.”
Desafios
“Outro desafio é achar coisa nova. Não quero lançar um livro de liderança que fale mais do mesmo. Quero alguma coisa nova, que traga uma visão inédita no sentido de reinventar a roda, que tenha um protagonismo. O autor tem que ter uma contribuição diferente. Esse é o maior desafio que eu tenho hoje. A gente quer estar na frente, fazendo as pessoas expandirem a sua forma de pensar e enxergar o mundo. Não faço B2B nem B2C. Eu faço livros P2P, que conectem pessoas.”
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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