O etarismo ainda é uma questão recorrente (SeventyFour/Getty Images)
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Publicado em 26 de outubro de 2023 às 14h00.
Por Stevin Zung*
Quando o assunto é mercado de trabalho na terceira idade, fatores como etarismo, reinserção social e domínio de novas habilidades podem se tornar barreiras para quem precisa de uma oportunidade. Mas se o Brasil é um país que envelhece cada vez mais, como podemos resolver essa equação?
Mais de 15% da população brasileira possui 60 anos ou mais, representando, em números absolutos, 31,23 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE. O aumento foi de 39% quando comparado aos nove anos anteriores à publicação da pesquisa, e projeções já indicam que até 2030 o país deverá ter a quinta população mais idosa do mundo. Somado a isso, a expectativa de vida média no Brasil está em constante ascensão, atingindo a marca de 77 anos em 2021.
Essa mudança demográfica tem impacto direto no mercado de trabalho, à medida que mais brasileiros permanecem ativos e produtivos por mais tempo. A medicina conseguiu ampliar o tempo de vida, e agora cabe a cada um de nós, e à sociedade como um todo, ganhar consciência de como tornar esses anos “extras” realmente realizadores, com cidadãos socialmente ativos e com saúde financeira.
Estima-se que 91% dos brasileiros com mais de 60 anos continuam contribuindo financeiramente para o sustento de suas residências, inclusive em muitos casos são os principais provedores. Mesmo assim, o etarismo, ou preconceito e discriminação por conta da idade, é algo presente e pouco discutido. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre 2020 e 2021, a população com mais de 40 anos de idade continuou a ser excluída do mercado de trabalho formal, como se continuássemos com a expectativa de vida da década de 1930 (45 anos de idade). Ou seja, empresas e empregadores em geral ainda não se conscientizaram que, pela primeira vez, nos tempos atuais, a longevidade nos permite ter o maior bolsão de profissionais treinados, saudáveis e ávidos por se manterem conectados com o mercado de trabalho.
Visando identificar o comportamento das empresas frente ao tema, em 2020 o Great Place to Work (GPTW) passou a fazer um levantamento de empresas com boas práticas de inclusão de profissionais com mais de 50 anos de idade. O levantamento revelou práticas inovadoras e apontou que estamos apenas iniciando o despertar da alteração de mindset das empresas sobre longevidade. Apenas 2% das contratações das empresas em destaque foram de profissionais com mais de 55 anos de idade.
Na falta de oportunidade de emprego, tem crescido o interesse de profissionais mais velhos por empreender. Muitos encontram no empreendedorismo uma maneira de continuar ativos, transformando seus conhecimentos e habilidades em oportunidades de negócios. Porém, ainda assim, o etarismo continua presente. O paradigma é de que empreender ainda é “coisa de jovem” e a maioria dos programas voltados ao empreendedorismo é destinado a jovens adultos. De acordo com um levantamento do SEBRAE de 2019, empreendedores de 18 até 44 anos representam 49% do total de donos de negócios. Na faixa etária dos 45 a 64 anos encontram-se 41% dos empreendedores. Já o público 65+ representa apenas 8% dos empreendedores do Brasil e as oportunidades para esta população se tornam possíveis principalmente na chamada “economia prateada”, o mercado que se forma a partir de demandas específicas de consumidores seniores como, por exemplo, e-commerce focados no público 50+.
O que é certo e passa a ser cada vez mais importante é que a fase educativa deixa de ser apenas no início da vida, e somos convidados a mantermo-nos estudando e nos desenvolvendo intensamente ao longo da vida para dar conta das inúmeras transições de carreira e atualizações necessárias para acompanhar esta mudança demográfica.
Em 2021, o Centro de Longevidade de Standford publicou o “novo mapa da vida”, com recomendações para pessoas de todas as idades se prepararem o mais cedo possível para o novo curso da vida e a nova postura empreendedora necessária para os próximos anos. Entre as principais recomendações estão:
Ao mesmo tempo em que vivemos tempos desafiadores com transformações profundas em relação à expectativa de vida e velocidade no avanço das tecnologias, as oportunidades são instigantes também. A construção de ambientes de trabalho intergeracional são fundamentais para integrar e possibilitar um mercado de trabalho mais flexível e justo para todos. A presença e convivência pela primeira vez na história de quatro gerações (baby boomers, geração X, geração Y ou millennials e geração Z ou centennials) nas empresas traz tanto desafios quanto oportunidades de crescimento e aprendizado para as empresas e para os próprios profissionais. Precisamos potencializar este crescimento e aprendizado.
Combater o etarismo se faz necessário desde já.
*Stevin Zung é diretor médico-científico do Aché Laboratórios
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