#ESG Assim como no cinema, é preciso muito trabalho e muita gente qualificada para produzir momentos de encantamento, reflexão e transformação, escreve Danilo Maeda em sua coluna de hoje na Bússola (Khanchit Khirisutchalual/Getty Images)
Bússola
Publicado em 29 de março de 2022 às 12h27.
Última atualização em 29 de março de 2022 às 12h27.
Por Danilo Maeda*
E se existisse um Oscar da sustentabilidade? Acho que muita gente já se fez essa pergunta, pois existem incontáveis premiações, rankings e mecanismos de avaliação, no Brasil e no mundo, sobre adoção de boas práticas ESG. Alguém dirá que talvez existam até demais e que o excesso pode confundir e dificultar o entendimento sobre o que realmente importa. Seria difícil discordar de tal afirmação.
“Mas e se existisse um Oscar da sustentabilidade? Porque você não escreve sobre isso?”, pergunta meu lado sem medo do ridículo e desejoso por fazer um exercício de imaginação pretensamente divertido e possivelmente doloroso. Desta vez, cedo à tentação. Porém, ao invés de cometer a insensatez de apontar vencedores(as), ficarei restrito às possíveis categorias e critérios de avaliação.
Engajamento de stakeholders: premia a organização que se destaca por mapeamento e classificação de públicos estratégicos, processos estruturados de engajamento e relacionamento, iniciativas de criação de valor compartilhado e mecanismos para considerar as contribuições de stakeholders na tomada de decisão. Representatividade no conselho de administração será considerado um diferencial capaz de definir a vencedora.
Estratégia de Sustentabilidade: valoriza a existência de uma estratégia integrada de geração de valor, que considere os diversos capitais consumidos e produzidos pela organização (financeiro, humano, ambiental, social, entre outros), bem como suas externalidades. Mapeamento de riscos socioambientais, conexão do negócio com os ODS são outros critérios avaliados. Além disso, desenvolver soluções regenerativas de alto impacto será decisivo para o júri.
Gestão ESG: além de estruturas específicas, como comitês ou áreas dedicadas, serão valorizadas a adoção de ferramentas como matriz de materialidade (com participação dos stakeholders), avaliação de impactos na operação e na cadeia de valor, indicadores e mecanismos de gestão de temas materiais. Aqui, a existência de metas ESG atreladas à remuneração (em porcentagem relevante) é a diferença entre finalistas e vencedoras.
Relevância interna: nesta categoria, tudo depende do envolvimento da liderança com o tema. O envolvimento é pontual, eventual ou permanente? Tático, gerencial ou estratégico? O tempo dedicado e a disponibilidade para tratar do tema serão indicadores importantes.
Governança: a pontuação aqui vai de acordo com a adesão a boas práticas bem conhecidas, como as recomendadas pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que disponibiliza o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa.
Transparência: como na direção de arte e fotografia, esta categoria é sobre mostrar o que realmente importa. As organizações finalistas serão aquelas que utilizam frameworks reconhecidos para disponibilizar de forma simples, acessível e prática dados sobre seu desempenho em temas materiais. Sem enrolação, sem informações escondidas no canto escuro da tela e sem dar foco naquilo que é de menor importância. Comunicação de verdade.
Aqui, falar de critérios ficaria mais complicado, pois os temas são muito diversos (uma boa régua são os indicadores da GRI (Global Reporting Initiative), reconhecidos por mercado e stakeholders em geral. Com essa referência, algumas categorias possíveis seriam:
Categorias econômicas: Desempenho Econômico; Compras e Gestão da Cadeia de Valor; Conformidade, Combate à Corrupção e Concorrência Desleal; Práticas tributárias.
Categorias ambientais: Mudanças Climáticas e Emissões; Gestão Hídrica e Uso da Água; Gestão Energética; Recursos Naturais; Biodiversidade; Resíduos e Economia Circular.
Categorias sociais: Emprego e Renda; Relações Trabalhistas (com subcategorias como Trabalho Infantil, Trabalho Escravo e Liberdade de Associação); Saúde e Segurança (de trabalhadores e de consumidores); Diversidade, Equidade e Inclusão; Combate à Discriminação; Direitos de Povos Originários; Direitos Humanos; Comunidades Locais; Marketing Responsável; Privacidade.
Como se vê, a brincadeira ficou extensa. Isso porque não listei os ODS em cada frente temática. Fica como mais um lembrete de que a agenda da sustentabilidade não se limita ao tema quente do momento. E de que, assim como no cinema, é preciso muito trabalho e muita gente qualificada para produzir momentos de encantamento, reflexão e transformação.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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