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Como o ChatGPT vai revolucionar o mercado e as relações humanas

Com a chegada da nova inteligência artificial, o mercado de trabalho cada vez mais terá de adaptar suas estratégias com base na tecnologia

ChatGPT foi desenvolvido pela OpenAI (Foto/Getty Images)

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Publicado em 10 de março de 2023 às 12h03.

Por Fernando Moulin*

Se hoje é possível fazer pesquisas com poucos cliques e encontrar a quase totalidade do que queremos na palma das mãos usando o Google, pode ser que no futuro próximo o ChatGPT faça com que esse hábito pareça algo antigo como discar uma chamada em um telefone fixo. A ferramenta de inteligência artificial lançada no final de 2022 se tornou um instantâneo sucesso e deixou qualquer pessoa que já a utilizou boquiaberta, ao mesmo tempo em que assustou os concorrentes. Esse modelo de inteligência artificial está sendo concebido para a integração com diversas outras soluções, aplicativos e serviços, o que pode representar uma mudança radical de paradigmas e de nossa própria forma de perceber a realidade nos próximos anos.

O Google prega há tempos que o futuro está na IA conversacional – mas quem chegou na frente foi o OpenAI, laboratório de pesquisas criador do ChatGPT, nos Estados Unidos. Foco das manchetes internacionais desde seu lançamento, a empresa recebeu investimentos que ultrapassaram os US$ 20 bilhões nesses últimos meses.

Após o alerta vermelho, o Google, líder no mercado de buscas há décadas, lançou o Bard (sua própria versão de IA conversacional) de forma aparentemente precipitada e que trouxe impactos negativos no valor das ações da empresa após falhas em responder a algumas questões aparentemente simples. A versão inicial do concorrente está a princípio restrita a um grupo fechado de testadores, que incluem os próprios colaboradores da empresa, em um esforço acelerado de melhoria. Já a Microsoft anunciou que irá incluir recursos de IA em todos os seus produtos já existentes, como o Bing, o Microsoft Word e o Microsoft Teams – movimento estratégico que lhe daria enorme vantagem competitiva nessa fronteira da tecnologia. Na China, o ChatGPT acaba de ter seu uso proibido, e a Baidu também já promete lançar a sua solução proprietária.

A Amazon, alerta ao cenário, não quer que seus funcionários compartilhem códigos com o ChatGPT. Algumas empresas da “economia tradicional” (principalmente do segmento financeiro) também já estão estabelecendo diretrizes corporativas para proibir que seus colaboradores compartilhem valiosos e confidenciais dados na IA. A Meta preferiu desdenhar dizendo que a tecnologia não é nada revolucionária – e logo após, também compartilhou publicamente seus esforços no sentido de lançar sua própria solução.

O fato é que basta fazer uma rápida pesquisa de vídeos e artigos e dicas na internet sobre como usar o ChatGPT, para que fique claro como esse é um movimento absolutamente sem volta. Hoje, os usuários mais jovens já fazem suas pesquisas diretamente em redes sociais como o TikTok, em formatos audiovisuais diferentes da digitação de texto ou do uso da voz, em linha com a preferência das gerações mais jovens e conectadas por formatos de alto engajamento como vídeos. Muito mais do que um espaço de dancinhas e desafios virais, a plataforma se tornou uma ferramenta poderosa de busca e até de vendas. Em paralelo, já há alguns anos soluções baseadas no social commerce e no live commerce nascido na China explodem, permitindo que consumidores ávidos por novidades e cheios de desejo de consumo acompanhem a dinâmica exibição de produtos/serviços, enquanto tiram dúvidas e realizam compras em tempo real apenas com comandos pela fala, se assim desejarem.

Revolução

O ChatGPT teve seu desenvolvimento pautado em redes neurais e machine learning, com foco em diálogos virtuais. A ideia é que o robô que conversa possa aprender e aprimorar a experiência oferecida por assistentes virtuais, como Alexa ou Google Assistente. O sucesso da ferramenta está em oferecer ao usuário uma forma simples de conversar e obter respostas, muito mais próxima do padrão conversacional humano e que usamos em nosso dia a dia social.

Baseado em padrões sofisticados de cruzamento das informações, o ChatGPT transforma os questionamentos dos usuários em respostas. O grande diferencial é que essas respostas podem ser criativas. Por exemplo: ao perguntar sobre um determinado assunto, diferentemente do que ocorre em um mecanismo de busca – que apenas retorna com os resultados textuais em formato de links, o sistema é capaz de contextualizá-los e elaborar textos, letras de música, poesias, contos, códigos de programação, receitas e assim por diante. Ao menos por enquanto, o uso da tecnologia é completamente gratuito para usuários comuns, mas planos pagos já estão sendo rapidamente lançados, possibilitando maior volume de acessos e certamente trazendo diferenciais que serão lançados ao longo das próximas semanas.

Caminhando ao encontro da evolução da própria sociedade e da sua história, a plataforma conta ainda com recursos que tentam minimizar o uso de forma nociva, pois uma das preocupações mais conhecidas com as ferramentas de IA é seu emprego para a propagação automatizada de estereótipos, preconceitos e discursos de ódio. São evitados termos chulos, e conteúdos que possam reforçar estereótipos ou aspectos de preconceito também não são aceitos.

No Brasil, o assunto já despertou a atenção dos reguladores. O Senado Federal pretende estabelecer normas e leis para regular o uso da IA, dado seu impacto altamente massivo na sociedade e os problemas locais e globais recentes trazidos pela explosão das fake news. Com o teste do ChatGPT e de outros aplicativos que usam esse recurso para fazer ações concretas que podem inclusive substituir algumas profissões e incluindo facilidades como redação de textos de qualidade e a criação de imagens, o diálogo sobre o assunto está em alta no país. A proposta do atual Projeto de Lei sobre o tema é que as empresas que usarem a inteligência artificial de alto risco adotem medidas de registro do funcionamento e do uso desse recurso, para estabelecerem métodos de correção. As sanções administrativas devem variar entre advertência, multa simples de até 2% do faturamento da empresa, sendo que o valor máximo deve ser de R$ 50 milhões por infração, até a suspensão em partes ou por completo do sistema.

Estamos diante de uma mudança completa de paradigma em relação à forma como as pessoas buscam informações e, consequentemente, comunicam-se e relacionam-se. Porém, ainda é cedo para afirmar qual será o total alcance dessas transformações junto à sociedade e ao mercado. As primeiras experiências com a tecnologia mostram que os textos produzidos ainda têm qualidade levemente inferior quando comparados aos de profissionais. Sites de notícias internacionais fizeram experiências utilizando chatbots para escrever textos sobre relatórios financeiros, mas o resultado foi impreciso. Mas não podemos esquecer que ela foi lançada há poucas semanas, e que quanto maior seu uso pelas pessoas e volume de dados gerados, mais rapidamente a ferramenta “converge” para respostas cada vez melhores e mais assertivas.

Nesse contexto e de forma surpreendente, o BuzzFeed anunciou recentemente a demissão de redatores e informou que utilizará mais o ChatGPT para criar conteúdo baseado em listas ou testes. A resposta do público à mudança não foi positiva, mas é preciso aguardar os resultados para entender qual será o impacto real nas redações, faculdades, escolas secundárias e empresas.

Na prática, muitas coisas vão mudar. Esse é o ano em que a inteligência artificial mostrou de forma mais ampla para quem não é do setor o quanto vem avançando e desenvolveu capacidades até recentemente impensáveis para fazer parte do dia a dia de cada um de nós. Nos últimos tempos, tornou-se protagonista de atividades que antes só poderiam ser realizadas por humanos. Os robôs (ainda) não poderão substituir as ideias filosóficas ou a sensibilidade humana, mas, diferentemente dos filmes de ficção científica, espero que seja possível criar um mundo de colaboração e sem guerra entre homens e máquinas, no qual soluções que tornem nossas vidas melhores e reduzam a desigualdade e a pobreza sejam o padrão, e não uma mera utopia daqueles que, como eu, acreditam no uso da tecnologia “humanizada” e para o bem. Cabe a cada um de nós fazer sua parte para que esse futuro se torne realidade.

*Fernando Moulin é partner da Sponsorb, professor e especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente

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