Tela Os Operários, de Tarsila do Amaral (Jorge Bastos Acervo Artístico-Cultural do Palácio do Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)
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Publicado em 3 de fevereiro de 2025 às 10h00.
Por Ana Maria Carvalho*
No Brasil, a economia da cultura e a indústria criativa são responsáveis por cerca de 7 milhões de empregos e movimentam aproximadamente R$ 230 bilhões por ano, o que representa cerca de 3% do PIB nacional. Eventos e exposições recentes demonstram a crescente valorização e visibilidade da arte brasileira no cenário global, fortalecendo sua presença em importantes instituições e ampliando a influência cultural do Brasil no mundo.
Destaca-se a exposição “Brasil! Brasil! The Birth of Modernism” na Royal Academy, que abriu neste dia 28 de janeiro em Londres, com obras-primas de grandes nomes como Tarsila do Amaral, Volpi, Djanira, Rubem Valentim, Tomie Ohtake e Maria Maiolino. Além disso, Tarsila do Amaral, figura-chave da arte brasileira, está participando de uma exposição histórica no Museu de Luxemburgo, em Paris, até fevereiro de 2025. No dia 21 de fevereiro, Tarsila entra em exposição em outro museu importante na Europa, o Guggenheim Museum em Bilbao, Espanha.
A artista Lygia Clark terá destaque internacional com uma retrospectiva na Neue Nationalgalerie, em Berlim, em maio de 2025. Lygia é a artista brasileira com o maior número de obras no maior número de museus ao redor do mundo, sendo uma das figuras centrais da arte brasileira. Já no mês de março, duas artistas brasileiras entram em exposição em Nova Iorque: Beatriz Milhazes, com mostra no Guggenheim, e Adriana Varejão, no Hispanic Society Museum, em Manhattan.
Ao lado de Paula Rego, Adriana Varejão também terá exposição no Museu Calouste Gulbenkian, na capital portuguesa. O Malba, principal museu do país vizinho, conta agora com a curadoria do brasileiro Rodrigo Moura e está com a exposição solo de Tunga até o dia 17 de fevereiro. Tunga também está em exposição no Chateau La Coste, na região de Provence, sul da França.
Em meio ao sucesso internacional, o mercado brasileiro de arte como investimento enfrenta um cenário mais desafiador com a alta da inflação. A precificação das obras de arte, que já é uma tarefa complexa, se tornará ainda mais difícil. Além dos fatores tradicionais que influenciam a valorização do artista e da obra, agora será necessário considerar a perda inflacionária sobre o valor investido. Ou seja, o impacto da inflação no poder de compra dos colecionadores e investidores será um fator crucial na hora de determinar o preço e o valor futuro das obras.
Diante desse quadro, a parcela de novos entusiastas do colecionismo e das obras de arte pode recuar momentaneamente, até por ainda não conhecerem profundamente o mercado. Além disso, investidores de menor porte ficam mais reticentes e, com o aumento do custo de vida, é possível que eles direcionem seu foco para gastos mais essenciais, o que pode afetar a demanda por obras de arte, especialmente no segmento mais acessível.
Esta tendência, entretanto, não é preocupante para quem conhece profundamente o mercado ou contrata um especialista para escolher e gerenciar seu acervo. Pelo contrário, o cenário atual pode apresentar oportunidades interessantes para investidores no mercado de arte, especialmente no que se refere à aquisição de obras abaixo do preço de mercado ou ao mercado de crédito com garantia em obras de arte.
Na verdade, é hora de visualizar a arte como um ativo financeiro e aproveitar para realizar aquisições. Mas, primeiramente, é importante lembrar que não é qualquer obra que atende às condições de ativos financeiros. Apenas as melhores obras de artistas consagrados terão esse potencial.
O ambiente econômico trará uma seleção natural, em que apenas as obras mais valiosas e os artistas mais renomados conseguirão se manter como ativos financeiros robustos. A arte contemporânea, que já se destacou em períodos de alta pujança econômica e liquidez, tende a continuar sendo um bom investimento, mas especialmente os blue chips (artistas de renome internacional) são mais indicados em tempos de inflação. A recomendação não é vender essas obras durante a “corrida de preços”, mas sim mantê-las como reserva de valor, aguardando a estabilidade econômica para uma valorização mais consistente.
Se você tem R$ 100 mil para investir hoje, é possível que, ao longo dos meses, esse montante tenha se transformado em um poder de compra bem menor. Neste caso, investir em uma obra blue chip, pensando em médio a longo prazo, é um cenário mais promissor. Daqui a 5 ou 6 anos, após a volatilidade atual e a desaceleração da “corrida de preços”, a obra de arte poderá valorizar cerca de 20% ao ano, proporcionando ganhos significativos ao investidor.
O investimento em obras de arte apresenta valorização constante com potencial de retornos elevados. É um ativo alternativo recomendável como forma de diversificação de carteiras de investimento, além do valor cultural e estético. A garantia de rentabilidade e liquidez das operações de investimentos em obras de arte também pode ser dada pelo cenário internacional, com apostas em moeda forte como dólar e euro. Investir em blue chips pode ser uma forma estratégica de preservar o valor do capital e até mesmo gerar crescimento, especialmente quando a economia se estabilizar.
*Ana Maria Carvalho é head of Art Investment da artk, braço da Hurst Capital especializado em Obras de Arte.
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