Executivos apontam a necessidade de reformas para garantir a segurança jurídica de quem investe na região. (Bruno Zanardo/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 11 de maio de 2021 às 08h30.
Por Bússola
Há três décadas, a Coca-Cola chegou a Manaus com a missão de implantar um polo de concentrados, que hoje tem mais de 30 empresas. “Desenvolver fornecedores e mão-de-obra capacitada não foi fácil. A fábrica é a terceira maior do mundo, gerando 5 mil empregos diretos e indiretos”, afirmou Victor Bicca Neto, diretor de Relações Governamentais da Coca-Cola Brasil, no webinar Diálogos Amazônicos, promovido no último dia 4, pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP).
A série de encontros, liderada por Márcio Holland, coordenador do Programa de Pós-graduação em Finanças e Economia da FGV, discute temas de interesse do desenvolvimento socioeconômico sustentável da Amazônia. O Vice-Presidente Industrial da Moto Honda da Amazônia, Júlio Koga, também participou do evento.
Segundo Holland, que moderou a conversa, o Amazonas tem 97% de cobertura natural e, por isso, é fundamental abordar os investimentos em uma atividade industrial com a preocupação do equilíbrio ambiental. “Há que se avaliar a contribuição da indústria para a descarbonização da economia, em consonância com todo esse debate que vem da cúpula dos grandes líderes mundiais.”.
O professor da FGV/EESP e Diretor de Pesquisa do FGV Agro, Daniel Vargas, ressaltou que a trajetória das empresas se confunde com a própria economia de Manaus. “Ambas se dedicaram ao desenvolvimento de uma região quando as condições básicas não existiam. Para gerar renda e riqueza é necessário mão-de-obra qualificada, recursos próximos, estrutura logística, fácil acesso ao mercado de consumo e uma rede de suprimentos.”
Investir na Amazônia requer planejamento, soluções criativas e muita vontade. Foi assim quando a Moto Honda chegou à região, em 1976. “O primeiro desafio foi a construção da fábrica. Na mesma época havia duas grandes obras em andamento. Faltavam mão-de-obra e material de construção, cimento, ferragens”, relembrou Koga.
Outra questão era a captação de empregados. “Não existia mão-de-obra com experiência industrial em Manaus. As pessoas vinham do comércio, eram agricultores, seringueiros, pescadores, muitos semianalfabetos.” Esses entraves fomentaram ações voltadas para o bem-estar social. “Como as pessoas tinham um nível escolar baixo, por um bom tempo a Honda manteve um curso de supletivo para alfabetizar colaboradores. Muitos se formaram em curso superior”, disse.
O diretor da Coca-Cola Brasil revelou curiosidades que poucos conhecem. “Somos o maior comprador de frutas do Brasil. Temos 25 mil pequenos e médios produtores. Na Amazônia, isso gera um grande impacto e comprova a vocação para a bioeconomia.” A Coca-Cola foi a primeira empresa a realizar um estudo junto ao Centro de Biotecnologia da Amazônia para mapear mais de 20 superfrutas amazônicas e seu potencial comercial.
Bicca citou o projeto “Olhos da Floresta”, em parceria com a ONG Imaflora, que tem como objetivo incentivar a agricultura familiar e a cadeia do guaraná no Amazonas. “Por conta de ações como essa, hoje a Coca-Cola é a empresa que mais compra guaraná, e é a única que tem esse insumo rastreado e certificado.”
A fábrica da Honda em Manaus se destaca pelas ações de preservação ambiental, com base no programa “Green Factory”. O laboratório de emissão de gases poluentes foi pioneiro na América do Sul. A reserva ecológica tem o equivalente a 1.082 campos de futebol com um projeto de reflorestamento e preservação de árvores nativas. Inaugurou, ainda, em 2001 a Estação de Tratamento de Efluentes da fábrica em Manaus, considerada a mais moderna da América do Sul.
Pode parecer um paradoxo, mas na maior bacia hidrográfica do mundo, milhares de pessoas não têm acesso a água potável. Para minimizar esse e outros problemas, a Coca-Cola criou em 2008 a Fundação Amazônia Sustentável. “Há uma falsa ideia de que existe muita água na Amazônia. Nosso projeto tem contribuído para o acesso à água, impactando quatro mil ribeirinhos em 33 municípios do estado”, afirmou Bicca.
Na discussão sobre oportunidades futuras, surgiu a insegurança jurídica, que vai na contramão da contribuição da indústria para a região, segundo os executivos. “Ainda vivemos em um país que gera apreensão nesse sentido. Esperamos que, com a reforma tributária e outras discussões, possamos eliminar a insegurança que ronda a indústria instalada no Amazonas”, afirmou Bicca.
E é possível combinar desenvolvimento econômico com a preservação da floresta? Segundo Koga, da Honda, o futuro deve estar associado à atração de mais investimentos para a região. “A Zona Franca é um modelo que deu certo, mas que precisa ser modernizado para acompanhar a evolução do tempo. A segurança jurídica é importante para atrair mais investimentos e dar mais tranquilidade às empresas”, disse.
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