O Brasil pode se tornar o 6º maior mercado consumidor de saúde (Sail for Health/Divulgação)
Repórter Bússola
Publicado em 25 de outubro de 2023 às 08h00.
Última atualização em 25 de outubro de 2023 às 17h37.
Apesar de estar entre os dez maiores mercados consumidores de saúde no mundo, segundo estudo da Interfarma, o Brasil é apenas o 19° quando o assunto é a participação em estudos clínicos. Por aqui, o processo de desenvolvimento de fármacos, da pesquisa até a testagem, sofre gargalos consideráveis devido à falta de conexão entre os players, da academia até a indústria. A CEO da Intrials quer mudar este cenário.
Com vasta experiência em gestão, planejamento estratégico e vivência no mercado de saúde desde a infância, Marina Domenech percebeu a deficiência no mercado ao assumir a cadeira de General Manager da Intrials Clinical Research, líder em inovação na América Latina – empresa onde hoje ela é CEO. Mais tarde, isso a levou a fundar a SAIL for Health, empresa catalisadora que avança em diferentes frentes na saúde e cujo a empreitada mais recente envolve um endowment, doação a fundos patrimoniais filantrópicos, de £ 5 milhões (o equivalente a R$ 30 milhões) para a renomada Universidade de Oxford, possibilitando a criação de uma cadeira de Saúde Global e Desenvolvimento Clínico.
A cadeira em Oxford será, pela primeira vez na história, ocupada por uma representante brasileira: a professora Sue Ann Clemens, médica especialista em doenças infecciosas com mais de 25 anos de experiência em desenvolvimento clínico. Para a empresária, a cadeira terá um grande impacto na formação, capacitação, pesquisa e desenvolvimento, que são pilares fundamentais para o ecossistema da saúde.
“A criação dessa cadeira foi um passo fundamental na estratégia de colocar o Brasil no road map das discussões de saúde e atrair pesquisa e inovação com foco nas necessidades da região – em especial doenças negligenciadas –, garantindo o impulso necessário para desenvolver localmente soluções de impacto global. Teremos um dos grandes centros globais de educação e pesquisa, a Universidade de Oxford, atuando diretamente na capacitação de profissionais de saúde e no incentivo à inovação em ciência e tecnologia não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina”, afirma Marina.
Baiana, nascida em Salvador, Marina é filha de profissionais que atuavam como gestores de saúde, mas antes de voltar sua carreira para o setor ela passou por diferentes áreas de atuação.
Formada em Administração pela Universidade Federal da Bahia, com parte da graduação pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), ela começou a carreira com um estágio em uma grande multinacional de bebidas, passou por um MBA em Gestão de Logística Empresarial e chegou a uma posição de Trainee na Belmetal Indústria e Comércio Ltda, uma das maiores distribuidoras de produtos de alumínio do Brasil.
De Trainee a General Director, Marina construiu uma carreira sólida, chegando ao mercado de saúde com habilidades comerciais, de gestão, de planejamento estratégico e com um olhar criativo para a resolução de problemas. Sua experiência permitiu enxergar os principais pontos de aprimoramento no setor.
Segundo os dados da Interfarma (2021), o Brasil participa com apenas 2,3% das pesquisas clínicas realizadas mundialmente. O mesmo estudo, no entanto, afirma que o país tem potencial para alcançar o 6º lugar entre os maiores mercados farmacêuticos do mundo. Marina fundou a SAIL com o objetivo de acelerar esse processo.
“A SAIL nasceu com o propósito de atuar efetivamente nos gargalos que impedem o desenvolvimento clínico. Na prática, queremos desenvolver a capacidade translacional – que é tirar a droga da mesa, da ciência básica, conduzir os testes em humanos e disponibilizá-la no mercado. E queremos fazer isso retendo novas tecnologias dentro do Brasil, tornando o país cada vez mais autossuficiente no que diz respeito a insumos, tecnologias e, claro, ter profissionais capacitados a atuar em todas essas frentes”, afirma.
Hoje, Marina é CEO da Intrials, e na catalisadora SAIL for Health ela desenvolve projetos e ações que estão concentradas em três grandes focos: educação, pesquisa e advocacy. Entre as outras frentes de atuação da empresa, ela destaca a parceria com a Sthorm, centro de inteligência brasileiro dedicado à resolução de problemas globais.
Segundo o Conselho Nacional de Saúde e o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, atualmente 80% da população depende exclusivamente do SUS, mas 1 a cada 3 brasileiros não têm acesso à saúde básica. Isso acontece especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Essa perspectiva configura um grande desafio para toda a cadeia.
Nos últimos dois meses, Marina e Pablo Lobo, fundador da Sthorm, têm ido com frequência à região norte do país, onde a Sthorm já conduz projetos em cidades como Maués e Presidente Figueiredo, ambas no Amazonas, para pensar em como levar ações de saúde pública a essas comunidades
“Vivemos um momento sem precedentes no cenário da Saúde no Brasil, em que estamos começando a conectar as pontas para que o Brasil ocupe um lugar de protagonismo no cenário mundial de pesquisa clínica. E ter a participação de tantos brasileiros, desde os laboratórios de pesquisa até as comunidades espalhadas pelo país, é sem dúvidas a parte mais gratificante”, diz Marina.
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