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Com cirurgia no metaverso, ela vai aumentar o valor da sua empresa em até 15 vezes

Giselle Coelho criou boneco simulador para ajudar nas aulas quando era estudante de Medicina. Sua empresa aperfeiçoou a ideia e desenvolveu um método para treinamento com óculos de realidade aumentada

A Dra. Giselle Coelho ao lado do avatar virtual do Dr. Benjamin Warf (EDUCSIM/Divulgação)

A Dra. Giselle Coelho ao lado do avatar virtual do Dr. Benjamin Warf (EDUCSIM/Divulgação)

Aquiles Rodrigues
Aquiles Rodrigues

Repórter Bússola

Publicado em 27 de junho de 2024 às 13h00.

Mesmo assistida pelo professor, Giselle Coelho estava nervosa quando fez a sua primeira neuroendoscopia cerebral. O ano era 2009. Operar um bebê real era a única maneira de aprender como fazer o procedimento

Aquilo me incomodou um pouco. Eu pensei: eu deveria treinar isso antes de fazer a cirurgia real. A partir desse momento, ainda no 4º ano de residência médica, ela desenhou um projeto para produzir bonecos simuladores com o intuito de ajudar estudantes de medicina e garantir segurança das crianças.

O projeto começou com versões artesanais para estudo pessoal dela. Hoje, a neurocirurgia pediátrica comanda a EDUCSIM, empresa que produz os bebês simuladores e treinamentos virtuais

A mais recente inovação da empresa, que permite o treinamento de cirurgiões no metaverso, promete aumentar em 15 vezes o valor de mercado (valuation) da empresa.

A tecnologia foi apresentada há poucos meses para médicos e pesquisadores de Harvard, MIT e Babson em evento na cidade de Boston, nos EUA. A prova de conceito, realizada em dezembro do ano passado, custou cerca de US$ 600 dólares e foi um sucesso.

Giselle conta que, fora sua mãe, não possui sócios nem investidores. E acredita que finalmente chegou a hora de dar o próximo passo. 

“É hora de abrir a rodada de investimentos, capacitar mais profissionais e escalar para outras especialidades e para todo o mundo”, conta empolgada. 

Mas como são os bebês simuladores?

Natural de Bom Sucesso, Minas Gerais, Giselle trabalhou como assistente de professora para poder pagar seus estudos em escola particular. 

Bolsista na Unicamp, ela começou a estudar Medicina com o desejo de melhorar vidas e dar valor ao esforço e à proatividade. 

Na residência médica, após sua primeira neuroendoscopia cerebral, ela colocou esse esforço no projeto do boneco de bebê. 

Tudo começou com uma caixa com desenhos das estruturas cerebrais. Após conhecer o  trabalho de artistas plásticos de Olinda, ela começou a pesquisar e investir por conta própria em materiais e técnicas para descobrir como fazer um boneco realista, capaz de reduzir o tempo de aprendizado e aumentar a segurança das cirurgias

“Tem tecido de pele, ossos, tem tudo. Para se ter uma ideia, quando se coloca o bebê simulador num raio-X a tomografia sai igualzinha a um bebê real. Até já fui parada no aeroporto por causa disso”, conta. 

Com seus primeiros protótipos avançados, quando já era preceptora, Giselle começou a treinar os residentes do hospital onde atuava. 

Ela observou uma melhora geral, com estudos que estimam a redução do tempo de aprendizado da técnica de neuroendoscopia flexível de 10 para 3 anos, e do tempo de cirurgia de 12 para 9 horas

“A gente tinha redução no número de dias de internação do paciente, de complicações, do tempo cirúrgico e do tempo anestésico”, conta. Ela continuou a desenvolver o projeto enquanto era diretora científica no Instituto SIEDI.

Para Giselle, o projeto tinha potencial para otimizar o uso de recursos e aumentar a rotatividade. Para o Instituto SIEDI, no entanto, não seria possível continuar o desenvolvimento devido a um corte de custos. 

Educação baseada em simulação

Eu não podia deixar essa ideia morrer. Foi aí então que resolvi continuar fundando a EDUCSIM”, conta.

A empresa surgiu um ano depois, em 2017, com um investimento total de R$ 200 mil reais. Os bebês foram aprimorados, com um foco em produção 70% artesanal, o que faz diferença no treinamento dos cirurgiões, produzindo um valioso feedback tátil.

Com a abertura internacional da comercialização dos bonecos, em 2019, a EDUCSIM conseguiu uma operação estável e se voltou para o virtual. A partir daí, os pesquisadores passaram a desenvolver simuladores em realidade aumentada. 

Hoje, a empresa já possui 40 publicações científicas em revistas de alto impacto e prêmios como o de primeiro simulador do tipo no mundo, concedido pela World Federation.

A cirurgias no metaverso

A EDUCSIM já tem uma versão escalável da sua holoportação. Com ela, Giselle pretende permitir que o Dr. Benjamin Warf  – parceiro da empresa, renomado neurocirurgião do Boston Children’s Hospital e criador da técnica de neuroendoscopia cerebral flexível – possa ensinar médicos de todo o mundo sem sair de casa

Funciona da seguinte forma: o médico que vai fazer a simulação coloca um óculos de realidade aumentada. Esse óculos permitem que ele opere o boneco simulador enquanto escuta e vê um avatar virtual do médico na sala de operações junto com ele. 

A tecnologia funciona em dois modelos: assíncrono e síncrono. O primeiro utiliza um avatar virtual pré-gravado, que está sendo aprimorado e futuramente poderá utilizar inteligência artificial para responder perguntas. O segundo conta com o avatar controlado pelo próprio médico, que se comunica remotamente.

Um projeto de redução de iniquidades

A primeira holoportação da EDUCSIM, uma prova de conceito, foi feita em um hospital na Amazônia. Giselle acredita no potencial de mudar a vida de pessoas em regiões de difícil acesso ou de poucos recursos.

“A holoportação permite ser instruído pelo professor sem ele estar fisicamente presente. É uma mudança de paradigma total”, conta.

O treinamento da simulação da EDUCSIM, que ensina o procedimento do Dr. Warf para tratamento da hidrocefalia cerebral, tem índice de sucesso de 90%. 

Para Giselle, ajudar os médicos do mundo e proporcionar vidas melhores para crianças necessitadas são os principais motivadores da sua trajetória.

“Esses dias, recebi uma foto de um garotinho que a gente operou em junho do ano passado que está com um ano já. Coisa mais linda. Lembro das carinhas que vejo atuando na Santa Casa de São Paulo, uma mais linda que a outra. Mudar a vida dessas crianças é a maior motivação que tenho”, conclui.

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