É fundamental deixar de lado antigos processos e uma mentalidade retrógrada, além de inovar inclusive nos modelos de negócios (BSIP/Universal Images Group/Getty Images/Bloomberg)
Bússola
Publicado em 8 de dezembro de 2021 às 14h00.
Última atualização em 8 de dezembro de 2021 às 15h17.
Apesar de ser uma das áreas prioritárias para a qualidade de vida e desenvolvimento de uma nação, a saúde enfrenta um cenário de desigualdades no Brasil. A disparidade já aparece na disponibilidade do atendimento médico.
O estudo Demografia Médica no Brasil, divulgado em 2020, aponta que temos 2,38 médicos por 1.000 habitantes. Porém, enquanto nas capitais essa proporção passa para 5,65 profissionais, nas cidades do interior cai drasticamente, chegando a 1,49. Ou seja, dependendo do lugar onde a pessoa mora, é quase impossível ter acesso ao atendimento médico, consultas ou exames. A situação se agrava ainda mais se for necessário um especialista. O mesmo mapeamento mostra que no Acre, por exemplo, a população de quase 800.000 habitantes conta com apenas 22 cardiologistas em atuação.
Nestes casos, o uso da telemedicina, autorizada enquanto durar a pandemia e cuja regulamentação definitiva está em discussão no Congresso, pode ser um caminho importante. Por meio de tecnologia simples, é possível fazer o atendimento remoto de pacientes — inclusive daqueles fora dos grandes centros e que enfrentam mais dificuldade de acesso. A McKinsey estima que as receitas decorrentes do atendimento médico por telemedicina, farmácia e aparelhos vestíveis irão aumentar de 350 bilhões, em 2020, para 600 bilhões de dólares em 2024.
Além da disparidade no número de médicos por região, muitas pessoas ainda não têm acesso a um serviço de qualidade. Temos os desafios do Sistema Único de Saúde (SUS), que não consegue atender a uma demanda gigantesca no país. Além disso, a adesão aos planos de saúde tradicionais ainda é baixa: em maio de 2021, apenas um a cada cinco brasileiros tinha plano de saúde, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Porém, é um número que vem crescendo: em um ano houve incremento de 1.334.781 beneficiários. O total de usuários é o maior número registrado desde julho de 2016. E, mais uma vez, o caminho para garantir o acesso a um serviço de saúde de qualidade e menos custoso passa pela tecnologia.
Com o uso de ciência dos dados e inteligência artificial, é possível analisar inúmeras informações que já são coletadas dos pacientes — pressão arterial, nível de colesterol, entre tantos outros — e trabalhar com uma medicina preditiva. Isso significa usar essa massa de dados e transformar em valor, usar as informações para construir cenários, parâmetros e atuar de forma preventiva e com tratamentos precoces.
A medida evita sobrecarregar os sistemas de saúde — tanto público como privado — com consultas de rotina ou exames desnecessários, além de reduzir custos. Soluções inovadoras e softwares de gestão também permitem agilizar e automatizar processos burocráticos, como autorizações, preenchimento de cadastros e de prontuários, o que auxilia nessa otimização de tempo e de recursos.
O ponto fundamental do uso dessas tecnologias na área da saúde é que são iniciativas que podem ser replicadas em qualquer lugar. E com essa disseminação, a tendência é a redução dos custos para operadoras e prestadores e, como consequência, aos usuários. Outro quesito é que com o uso dessas soluções, há menos dependência dos profissionais em alguns processos. Assim, médicos e toda equipe podem se dedicar ainda mais aos pacientes, humanizando o atendimento. Além disso, ao ter em um aplicativo, por exemplo, seu acompanhamento clínico, o usuário se torna parte protagonista na tomada de decisões.
Todos esses aspectos evidenciam que a transformação digital e o uso de tecnologia na área da saúde é um caminho sem volta. As empresas desse ecossistema precisam se adaptar e avançar neste sentido urgentemente. Para isso, é fundamental deixar de lado antigos processos e uma mentalidade retrógrada, além de inovar inclusive nos modelos de negócios. E, no final das contas, todos saem ganhando — com um acesso a um serviço de saúde mais disseminado, de mais qualidade, com menos custos e com o paciente como prioridade.
*Daniel Torres é CEO da healthtech Zitrus e foi executivo na Oracle e no Gartner
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