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Claudia Elisa: sua empresa está preparada para a Revolução Invisível?

Sucesso profissional deixou de ser prioridade para um grande número de pessoas. Com isso, houve uma profunda alteração na dinâmica de poder dentro das organizações

Funcionários estão colocando sua satisfação pessoal em primeiro lugar (Arte/Bússola)

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Publicado em 19 de outubro de 2023 às 07h00.

Por Claudia Elisa Soares*

Nos últimos três anos testemunhamos uma das mais rápidas, intensas e profundas transformações culturais no mercado de trabalho. Não, não estou falando (apenas) da troca do emprego presencial pelo híbrido/online ou da adoção da semana de quatro dias sendo estudada.

A mudança em questão envolve algo muito mais denso e estruturado, que impacta diretamente a dinâmica de poder dentro das organizações, desde o recrutamento e seleção, passando pela manutenção, engajamento e desempenho, chegando até à promoção ou outplacement dos profissionais. 

É a chamada Revolução Invisível.

Esta revolução parte do princípio que os talentos agora estão colocando sua satisfação pessoal em primeiro lugar. Eles esperam salários competitivos, flexibilidade, planos de progressão de carreira bem definidos e um ambiente de trabalho que favoreça suas metas profissionais e desejos pessoais. E não enxergam este pacote como um bônus, e sim como uma obrigação das empresas.

Isso é o que demonstra a pesquisa “A Revolução Invisível - Talent Trends 2023”, produzida pela consultoria Michael Page. O estudo ouviu mais de 69 mil empregados e empregadores, sendo 3,4 mil no Brasil, tornando-o maior estudo de talentos do mundo.

O documento traz insights valiosíssimos sobre este novo cenário. 

Fidelidade em baixa

Uma das constatações é que não há mais “fidelidade empregatícia” entre os colaboradores e empresas: 96% dos brasileiros estão atualmente abertos a novas oportunidades, mesmo com pouco tempo de casa (das pessoas que iniciaram um novo emprego em 2022, cerca da metade já está “à procura de novas oportunidades”).

A cultura de trabalhar para uma única empresa a longo prazo está se tornando um conceito obsoleto. As pessoas estão cada vez mais abertas à prospecção de novas oportunidades, e a troca de emprego se tornou a norma, como pôde ser percebido a partir do Great Resignation (Grande Renúncia). 

Com o trabalho híbrido, até mesmo quem não está procurando vagas pode aproveitar a oportunidade certa quando ela aparecer - esta é uma nova realidade que continuará a perpetuar a mobilidade de profissionais no mercado.

Sucesso profissional não é mais prioridade

A Revolução Invisível não é apenas resultado da pandemia, mas sim uma evolução das prioridades de vida dos trabalhadores. 

A constatação fica evidente quando descobrimos que o sucesso profissional já não é a maior prioridade entre os trabalhadores, sendo que 8 em cada 10 pessoas escolheriam a saúde mental e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal em vez do sucesso profissional.

O tema do “equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal” deixou de ser uma conversa utópica e se tornou uma experiência repentina, real e cotidiana, sendo o maior influenciador da satisfação profissional. 

Maior inclusive do que o salário, treinamentos e cursos, inscrição em academias ou qualquer outro benefício, sendo que 54% das pessoas estão dispostas a rejeitar uma promoção se acreditarem que ela terá um efeito negativo em seu bem-estar.

Fato é que mais pessoas passaram a adotar um viés transacional para trabalhar, enxergando suas carreiras como um meio para atingir um fim e não como uma fonte de realização pessoal. 

Eles estão substituindo os benefícios emocionais (paixão pelo que fazem, pertencimento e propósito) que encontravam em seus empregos por outras alternativas, tais como familiares, amigos, hobbies e comunidades.

Esta redefinição da relação entre vida pessoal e o trabalho tem consequências significativas. Tendo em vista que o valor emocional ganho com o trabalho foi diminuído, os profissionais estão exigindo uma remuneração mais justa para desenvolverem suas atividades.

Como sobreviver à Revolução Invisível?

Para sobreviverem e prosperarem na Revolução Invisível, as empresas terão o desafio de atrair e engajar os melhores profissionais, procurando se adaptar a esse novo cenário, que não irá retroceder, pelo contrário, irá se expandir cada vez mais.

O estudo propõe 3 recomendações:

 1) Repense sua estratégia de atração de profissionais

A Grande Renúncia – que muitos achavam ser um fenômeno breve - é agora uma realidade. A lealdade e a estabilidade perderam seu apelo, visto que até mesmo colaboradores “contentes” estão abertos a mudar de emprego pela promessa de melhores salários, flexibilidade e bem-estar.

Dessa forma, as empresas precisarão repensar seus modelos de contratação - e rapidamente. Para acompanhar o ritmo, em algumas corporações o recrutamento precisará ser contínuo, ao invés de ocorrer sob demanda. 

Provavelmente, isso incluirá uma mistura de empregos permanentes, temporários e flexíveis. 

2) Atualize os salários com referências externas 

A remuneração sempre foi importante, mas a pesquisa mostra que ela nunca foi tão fundamental como agora. 

Um elemento chave da Revolução Invisível é que as pessoas estão intencionalmente aumentando a monetização de seu tempo, não aceitando salários mais baixos se puderem ganhar mais em outro lugar.

Por isso, analise os salários atuais de seus colaboradores o mais rápido possível. 95% deles não pedirão um aumento antes de tomarem a decisão de deixar sua empresa. Isso será especialmente importante para priorizar seus profissionais altamente qualificados.

3) Repense seu EVP (Employee Value Proposition)

O papel do trabalho na vida dos profissionais se deslocou profundamente, tornando-se mais transacional.  O equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, desenvolvimento e progressão de carreira, valores e liderança foram claramente destacados como elementos-chave desta revolução. 

A melhor maneira das empresas demonstrarem que podem atender às necessidades de seus colaboradores é mediante uma proposta de valor (EVP) bem articulada. Isto deve ir muito além da remuneração e flexibilidade e atingir o cerne da questão: em um momento em que a lealdade está inatingível, como e por que as pessoas devem se conectar com seu empregador em um nível humano? 

Refletir sobre as prioridades dos colaboradores em uma EVP poderia ser um grande diferencial quando se trata de contratar novos profissionais ou engajar os atuais colaboradores.

*Claudia Elisa Soares é especialista em ESG e transformação de negócios e líderes e conselheira em companhias abertas e familiares.

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