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Cecilia Ivanisk: empresas devem aliviar o sofrimento ou construir um bem-estar duradouro?

Direcionar esforços para elevar nossa felicidade e qualidade de vida está intimamente relacionado com encontrar atividades que nos motivem profundamente e nos tragam senso de realização. 

 (Freepik/Divulgação)

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Publicado em 1 de outubro de 2024 às 10h00.

Por Cecilia Ivanisk, fundadora da Learn to Fly

Será que você pensou nessas últimas semanas que precisava ficar menos estressado ou ansioso? Que talvez devesse ficar menos irritado ou chateado com as coisas? Querer se sentir bem é um dos anseios comuns e legítimos de todo ser humano. O que acontece é que geralmente focamos todos os nossos esforços na busca pelo alívio temporário de um determinado sofrimento, quando deveríamos estar nos dedicando à construção do nosso bem-estar a longo prazo.

As habilidades que constroem bem-estar são diferentes das que aliviam o sofrimento, e é muito importante entendermos essa diferença, ainda mais quando os números de casos de depressão, pânico, ansiedade e burnout crescem todos os dias. No dia 10 de outubro, inclusive, celebramos o Dia Mundial da Saúde Mental, uma data internacional que busca educar e conscientizar contra o estigma social do tema.

Entenda que, por muito tempo, a psicologia e a medicina estiveram voltadas para o estudo da doença e não da saúde, ou seja, o foco principal era entender e tratar os problemas e distúrbios, em vez de promover o bem-estar e desenvolver estratégias para potencializar o que nos faz prosperar e viver plenamente. 

Um exemplo claro disso é que, ao buscar a palavra "depressão" no banco de dados da PsycInfo, que traz resumos de literatura no campo da psicologia, foram encontrados 110.382 artigos entre 1970 e 2006. Já com a palavra "felicidade", apenas 4.711 artigos apareceram nesse mesmo período.

Mas afinal, como construir bem-estar? 

O psicólogo Martin Seligman, considerado pai da psicologia positiva e autor do livro "Florescer - uma nova compreensão da felicidade e do bem-estar", depois de estudar o que trazia felicidade em diferentes povos, idades e culturas, apresentou o conceito dos cinco elementos essenciais que devem existir para que possamos experimentar um bem-estar duradouro: o PERMA.

1) Positive Emotion (Emoções Positivas): nossa capacidade de sentir emoções positivas. O nosso bem-estar diário pode ser calculado pela relação entre os momentos, pensamentos e emoções positivas versus os momentos, pensamentos e emoções negativos.

2) Engagement (Engajamento): nossa capacidade de aplicar suas habilidades, forças e atenção para uma tarefa desafiadora (FLOW).


3) Relationships (Relacionamentos): nossa capacidade de formar e manter relacionamentos;

4) Meaning (Sentido): nosso senso de significado e propósito derivado de pertencer e servir a algo maior do que o eu.

5) Accomplishment (Realização): nossa busca por realização, competência, sucesso e maestria em uma variedade de domínios, incluindo o local de trabalho, esportes, jogos, hobbies etc.

Hoje, queria focar em dois desses elementos - engajamento e realização - porque considero que eles são capazes de mudar o jogo e nos ajudar, de fato, a olhar de forma objetiva o que podemos fazer para trabalhar em prol da construção do nosso bem-estar.

Engajamento - o poder do FLOW

Um estudo da Gallup com 68 mil trabalhadores de mais de 140 países mostrou que 68% das pessoas se sentem desconectadas emocionalmente do trabalho e emoções como estresse, preocupação e raiva estão batendo recorde. Esses estados emocionais não são só prejudiciais para o nosso bem-estar, como afetam diretamente a nossa produtividade e o nosso engajamento.

Os estudos da psicologia e da neurociência, por sua vez, mostraram a conexão que existe entre nossas emoções e nossas competências. Quando estamos nos sentindo mal, dificilmente vamos atuar em nossa melhor versão. Mas quando estamos bem, conseguimos ativar nossas forças com muito mais facilidade. E isso vira um ciclo positivo, porque quando ativamos nossas forças, nos sentimos bem. Em outras palavras, começamos a construir bem-estar.

E o melhor caminho para chegar nesse ciclo positivo é encontrar, tanto na vida profissional quanto pessoal, atividades em que possamos nos sentir engajados e conectados. O engajamento abre as portas para alcançarmos o flow, um estado de completa absorção em uma atividade onde ficamos totalmente imersos e focados de tal forma que "percamos a noção do tempo".

O conceito de flow foi descrito pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, que conduziu um estudo com milhares de pessoas investigando o que fazia com que essas pessoas se sentissem felizes. Os resultados mostraram que nosso cérebro só consegue manter sua atenção e motivação quando encontramos um certo grau de dificuldade, que não nos deixa entediados, mas que também não seja muito maior às nossas habilidades a ponto de ficarmos ansiosos ou frustrados.

Essa descoberta é poderosa, porque sugere que o caminho para uma vida mais satisfatória e equilibrada não está apenas em buscar prazer imediato ou evitar o estresse, mas sim em encontrar atividades que desafiem nosso potencial, nos engajem profundamente e nos permitam crescer. 

Realização - a felicidade abre as portas para o sucesso.

A felicidade está intimamente conectada com nossa realização, e a ciência tem mostrado que o caminho para atingir algum sucesso passa primeiro pela conquista do bem-estar. O que quero dizer é que realização não é apenas sobre atingir metas grandiosas, mas sim sobre experimentar pequenos sucessos e momentos de crescimento contínuo. E esses momentos são potencializados quando estamos em um estado de equilíbrio emocional. 

Shawn Achor, autor de "O Jeito Harvard de Ser Feliz", mostrou em seus estudos que, quando nos sentimos felizes, nossos níveis de dopamina – o neurotransmissor do prazer e da motivação – aumentam, impulsionando nossa capacidade de foco e produtividade. Em outras palavras, é o bem-estar que "liga" o nosso cérebro para o sucesso, e não o contrário.

Certo, mas como conseguir colocar tudo isso em prática? Mudando nossa mentalidade todos os dias, com pequenas ações. Lembra, nada de metas grandiosas, mas sim pequenos sucessos e momentos de crescimento contínuo. Veja alguns caminhos para dar os primeiros passos: 

Invista no seu bem-estar primeiro: Encontre formas de promover emoções positivas no seu dia a dia. Lembre-se que, quando você se sente bem, seu cérebro opera em seu potencial máximo.
Celebre as pequenas vitórias: Cada conquista, por menor que seja, merece ser reconhecida. Isso reforça a sensação de progresso e aumenta a motivação para continuar avançando.
Desenvolva suas forças: Ao focar nas suas habilidades e talentos naturais, você alcança resultados com mais facilidade e sente mais satisfação no processo.

E aí, pronto para começar uma revolução na sua vida?

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