O governo Lula não é crítico de Maduro (EFE/ Miguel Gutiérrez/Divulgação)
Analista Político - Colunista Bússola
Publicado em 26 de julho de 2024 às 13h00.
Os efeitos calmantes da camomila mais poderosa não produzirão efeito na Venezuela tão cedo. O presidente Nicolas Maduro deve saber disso. A pobreza e a divisão aumentam a cada dia, assim como a repressão aos opositores. É um regime autoritário clássico, em todas as acepções possíveis dos livros de ciência política. Na vida real, é bem pior. Inibe a imprensa livre, persegue opositores e usa os juízes nomeados pelo próprio governo para caçar candidaturas alternativas no processo eleitoral.
O dilema da Venezuela se acentuará no momento seguinte à eleição. E não há estoque de camomila e maracujá no mundo capaz de acalmar o vulcão que se forma entre o sentimento popular contrário à elite governante que cerca Maduro, seguidor de Hugo Chavez. Depois de tantos anos no poder, incrustaram-se nas benesses do estado como a tinta ao papel-moeda. Será difícil a separação, se houver.
O processo eleitoral que está terminando no país tem pressão das forças armadas para evitar a ascensão oposicionista, tem dinheiro sendo jogado no eleitorado de tendência governista e manobras inúmeras para diminuir o risco da perda do poder. Nada, até agora, suficiente para garantir que se evitará a queda de Maduro, piada pronta na cena política das florestas tropicais.
O cenário é tão factível que o próprio presidente no poder prometeu um banho de sangue se perder a eleição. Mais que ameaça, é uma profecia macabra de quem não tem apego à democracia e não aceita a alternância do poder. Além de temer o costumeiro reflexo de outro grupo que, ao controlar os instrumentos de governo, poderá iniciar processo de acerto de contas com o passado que ele, principalmente, representa. Mais que ameaça real, esse cenário é também a profecia que se impõe pelo histórico nas disputas pela hegemonia em suas nações.
Tem até certa proximidade ideológica e o hábito de reiterar apoio internacional, o que se contrapõe à sequência de provas de que o ditador venezuelano traz mais prejuízos do que benefícios ao governo petista. A promessa de ganhos financeiros até hoje tem mais cheques sem fundo do que dinheiro em caixa para o Brasil.
O projeto da refinaria de Abreu e Lima é um lembrete dos borrachudos dessas relações diplomáticas de baixa rentabilidade. Casos que sempre são lembrados pelos bolsonaristas pátrios para criticar o presidente brasileiro. E Lula, depois de ter tentado ajudar Maduro, foi obrigado a fazer cobrança pública de moderação e respeito ao resultado eleitoral, no que recebeu tréplicas e provocações em agradecimento. Maduro parece não querer se calar.
O Brasil enviou observadores à eleição venezuelana, encarnado na futura proeminente do embaixador Celso Amorim – conselheiro de Lula. Antes, tentou firmar acordo que perdeu credibilidade depois das reiteradas demonstrações de pouco respeito de Maduro aos termos propostos – a começar por uma eleição limpa e pelo respeito à oposição. Ele deu um banho de desrespeito em quem se meteu a tentar garantir um mínimo de verniz ao regime da Venezuela.
Diante da presença de brasileiros e representantes de outros países para tentarem passar pano e lustrar a eleição da Venezuela, a pergunta que fica no ar é:
O que o Brasil fará em cada um desses casos, já que está lá, bem próximo, observando a eleição?
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