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Bússola Poder: a corrida maluca pela prefeitura de SP

Os candidatos começaram a sua corrida maluca pelo comando da maior cidade do país

A tradição ou a inovação vão prevalecer nesta disputa? (Leandro Fonseca/Divulgação Band/Reprodução redes sociais/Reprodução)

A tradição ou a inovação vão prevalecer nesta disputa? (Leandro Fonseca/Divulgação Band/Reprodução redes sociais/Reprodução)

Márcio de Freitas
Márcio de Freitas

Analista Político - Colunista Bússola

Publicado em 30 de agosto de 2024 às 15h00.

Última atualização em 30 de agosto de 2024 às 16h10.

A corrida pela prefeitura de São Paulo se tornou a mais insólita e emocionante disputa do ano. Os candidatos propagam suas vinculações ou origens na periferia com o objetivo de chegar ao centro do poder municipal, no Vale do Anhangabaú. Traçam trajetos distintos ou originais para a Prefeitura, usando fórmulas e métodos diferentes para se posicionarem na eleição, com rotas por vezes mirabolantes em direção ao Edifício Matarazzo.

Ricardo Nunes

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) usa o tradicional mapa impresso, aquela versão meio desgastada do Guia Quatro Rodas. Tem amplo apoio partidário, formalizado na maior aliança política, que lhe fornece o maior tempo para campanha oficial em rádio e televisão. É a receita clássica de boa prestação de contas, com muitas obras e entregas em políticas públicas para mostrar durante sua gestão.

Nunes é hoje o favorito no segundo turno contra o adversário previsível, Guilherme Boulos (PSOL), derrotado na última eleição por Bruno Covas (PSDB), morto precocemente e de quem Nunes era vice. Ele se orienta por esse mapa político analógico para se manter na prefeitura. É da periferia de fato, por sua história empresarial e política, mas começou a enfrentar dificuldades no início da campanha para acompanhar o ritmo digital dos adversários.

Guilherme Boulos

Boulos representa a esquerda em assembleia. Parece usar o método de consulta permanente aos companheiros de partido para chegar ao centro: ouve uma sugestão de caminho aqui, outra ali... Parou nas pesquisas em um patamar menor do que o esperado pelas previsões iniciais. Sua turma não se entende nem na hora do Hino Nacional, o que gera desgastes.

O candidato do PSOL é professor e filho de médicos. Não é propriamente da periferia, mas se fez na periferia por escolha política, ao aderir aos movimentos de ocupação do Movimento dos Sem Teto, o que lhe valeu certa imagem agressiva junto às classes médias e altas. Ostenta o apoio do presidente Lula para chegar ao poder, mas esse guia está em Brasília e não tem como orientar Boulos o tempo todo. Lula tem suas próprias brigas para enfrentar. Conhece o caminho do poder, mas a prioridade é não perder o próprio, o Palácio do Planalto. Boulos navega pela campanha ouvindo muitas vozes na mais barulhenta das cidades, o que nem sempre significa boa orientação.

Tabata Amaral

A jovem Tabata Amaral (PSB) é um produto original da periferia que estudou, foi para o exterior com a ajuda de projetos sociais da elite e retornou para fazer algo diferente na política. Apresenta-se com um sorriso largo e garras afiadas na campanha. É capaz de fazer perguntas intestinais com cara de menina de colégio de freira, e não se intimida. Bate firme na presença ou ausência dos adversários: usa o analógico e tenta avançar para o digital. Tem a blindagem da juventude para cometer exageros, mas não é exagero dizer que se projeta para uma longa carreira pela frente. Sua orientação no caminho à prefeitura é pelos ventos futuros. Se os ventos soprassem a seu favor, poderia até ter alguma chance. Mas os ventos que sopram pela capital, nos últimos tempos, só trazem fumaça de incêndios.

Pablo Marçal

Usando aplicativo de celular para se comunicar e se orientar, eis que surge Pablo Marçal (PRTB) - natural de Goiás e portanto ainda mais periférico na geografia paulista. Um coach de redes sociais que fatura milhões e vende prosperidade em suas contas pessoais na internet. É um fenômeno unindo autoajuda (muito mais para si mesmo), religiosidade, capacidade de comunicação e grande dose de irresponsabilidade para se posicionar no embate com os adversários. Com agressividade e sem medo de polêmica, furou sua própria bolha: tornou-se assunto de mídia. Todos os veículos tradicionais falam dele, contra ele, sobre ele. Tornou-se pauta eleitoral em mesa de boteco e nas reuniões de família. Passou a definir a estratégia eleitoral de todos os outros candidatos, mexendo com o planejamento que já estava desenhado.

Como se usasse uma espécie de Waze, o goiano Marçal cortou caminho e aparece embolado na liderança com os dois primeiros candidatos, Nunes e Boulos. Tornou a eleição polarizada ainda mais eletrizante, mas tem fragilidades de várias ordens e um partido encrencado na Justiça Eleitoral, o que pode ser fatal. O fato é que ele confundiu aliados e balançou o eleitorado da direita bolsonarista, que só é fiel à própria família Bolsonaro: provaram do próprio veneno, bateram em Marçal e recuaram nos ataques ao perceberem que não foram seguidos nas redes.

Os candidatos começaram a sua corrida maluca pelo comando da maior cidade do país. Resta agora saber o caminho que o eleitor paulistano vai trilhar para colocar seu voto na urna em pouco mais de um mês, com o início do tradicional horário de rádio e TV. A tradição ou a inovação vão prevalecer nesta disputa? O passado paulistano mostra que o imprevisível pode se materializar nas urnas.

PS: está é última coluna Bússola Poder que escrevo. Foi um prazer contar com a leitura durante esse período em que atravessamos eleições, movimentações políticas e pandemia. Um aprendizado permanente pela reflexão ao olhar nosso tempo. Obrigado pela leitura. Abraços 

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