Economia de baixo carbono a partir de vantagens comparativas brasileiras (Alexandros Maragos/Getty Images)
Bússola
Publicado em 29 de julho de 2022 às 16h05.
Última atualização em 29 de julho de 2022 às 16h15.
Por Bússola
Aos 57 anos, o engenheiro civil soteropolitano Bernardo Gradin mantém a mesma confiança visionária que o levou a fundar, em 2011, a empresa de biotecnologia industrial GranBio. Com DNA 100% brasileiro, a empresa cria soluções para transformar biomassa em produtos renováveis, como biocombustíveis e bioquímicos de segunda geração e material renovável à base de carbono de celulose.
Ao longo de 11 anos, a história da GranBio tem sido marcada pelo pioneirismo tecnológico: a empresa passou a deter mais de 300 patentes e opera a primeira planta de etanol 2G do Brasil, em Alagoas, com tecnologia 100% proprietária, e três plantas em escala de demonstração no seu centro de pesquisa de Thomaston, nos Estados Unidos. A GranBio também desenvolveu um processo proprietário de colheita e preparo de biomassa residual (palha de cana) em escala (200 Kt/ano) e registrou 11 variedades da Cana Energia Vertix, que são mais produtivas na geração de energia renovável e na fabricação de biocombustíveis e bioquímicos.
Bernardo Gradin possui MBA pela Wharton School of Business e mestrado em política internacional pela Universidade da Pensilvânia, ambas nos Estados Unidos. Desenvolveu sua carreira nas áreas de engenharia, construção e indústria química e é também sócio-fundador da GranEnergia, que atua nos setores de óleo e gás e logística multimodal. É líder da Chemical and Advanced Materials Community, do World Economic Forum (WEF); membro do Conselho Superior de Inovação e Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp); e líder no Movimento Empresarial pela Inovação (MEI) da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Também entusiasta da educação, Gradin e sua família mantêm o Instituto Inspirare, com a missão de apoiar inovações em iniciativas empreendedoras, políticas públicas, programas e investimentos que melhorem a educação no Brasil.
Em entrevista à Bússola, Gradin fala sobre suas motivações à frente de uma empresa como a GranBio. “O risco é alto, mas o resultado compensa”, afirma.
Bússola: A GranBio foi fundada com o propósito de mudar o mundo, criando soluções para transformar biomassa em biocombustíveis, bioquímicos e outros materiais renováveis. Quais foram as motivações para se lançar em um empreendimento tão desafiador?
Bernardo Gradin: A principal motivação foi um senso de missão — aliado à ambição empresarial — de acelerar a transição energética para a economia de baixo carbono a partir de vantagens comparativas brasileiras. O Brasil é uma potência agrícola global e possui grande área para a produção de biomassa. Outra motivação importante tem sido o prazer de inovar de forma pioneira. O risco é alto, mas a realização empresarial é maior.
De que formas esse DNA inovador da GranBio se manifesta em ações e produtos hoje, 11 anos depois de sua fundação?
A GranBio registrou mais de 300 patentes desde sua fundação e continua criando processos inovadores, novas invenções e know-how a cada dia. O DNA — ou a cultura — da GranBio se manifesta na atitude inquieta e inventiva de seus integrantes; em acelerar boas ideias para sistematizá-las como tecnologias limpas e licenciá-las ao mercado em escala industrial.
Durante os últimos 11 anos, aprendemos que o maior segredo da inovação está na capacidade de cooperar efetivamente nas várias fases da pesquisa ao desenvolvimento. Parte essencial do nosso DNA está na versatilidade e na disposição de alianças estratégicas para o desenvolvimento de processos e produtos. Temos mais de 55 JDAs [Joint Development Agreements ou 'Acordos de Desenvolvimento Conjunto'] com empresas de tecnologia, laboratórios nacionais, institutos de pesquisa, universidades e clientes. O principal atributo para inovar é se dispor a cooperar com eficiência.
Em que a GranBio é intrinsecamente brasileira? De onde vem a biomassa usada pela empresa?
O capital, os acionistas, a sede, os fundadores e a primeira planta industrial são brasileiros — mas nos tornamos uma empresa internacional com nosso centro de pesquisa em processo industrial em Atlanta, Estados Unidos, e patentes registradas globalmente. O modelo empresarial da BioFlex — Biorefinarias Flexíveis foi pensado com uso de biomassa brasileira, resíduo agrícola não concorrente com comida.
É claro que a GranBio se posiciona globalmente e pode licenciar sua tecnologia em qualquer lugar do mundo com, virtualmente, qualquer tipo de biomassa — mas a estratégia de começar no Brasil passou por nossa vocação agrícola e o desperdício de seus resíduos. A biomassa utilizada na planta BioFlex I de Alagoas é palha de cana-de-açúcar que é deixada no campo, mas já testamos mais de 30 variedades de biomassa em campanhas longas no nosso centro de pesquisa em Thomaston, Estados Unidos.
Como defensora da sustentabilidade, que caminhos a empresa sinaliza para a indústria brasileira em termos de inspiração, inovação e aproveitamento da biomassa nacional?
O Brasil é uma potência agrícola, que apresenta a vantagem de ter uma matriz energética limpa. Somos vocacionados, por natureza, a liderar a transição energética como país e com potencial impacto global. O caminho da GranBio de valorizar a biomassa como fonte de energia limpa já é realizado por muitas empresas brasileiras, líderes em seus setores de atuação — por exemplo, nas indústrias de etanol, papel e celulose e energia.
Como podemos contribuir como indústria, sociedade e consumidores por um futuro mais sustentável?
A indústria tem o poder de liderar a transição energética para uma economia de baixo carbono. Como sociedade e consumidores, podemos estar atentos às nossas ações do dia a dia: consumindo produtos sustentáveis; e exigindo — como cidadãos, acionistas, eleitores e consumidores — que comerciantes, fabricantes, congressistas e prefeitos se comprometam e prestem contas de seus atos e consequências por um futuro mais sustentável.
O Instituto Inspirare pretende despertar inovações em iniciativas empreendedoras, políticas públicas, programas e investimentos que melhorem a educação no Brasil. Poderia nos falar um pouco sobre isso?
O Inspirare promove a inovação nas frentes pública e privada de educação no Brasil. Promovemos parcerias com outros institutos para a criação e a difusão de ferramentas digitais, websites, advocacy e iniciativas empreendedoras. Investimos o capital semente [seed money, um tipo de investimento feito em empresas iniciantes, com, em alguns casos, ideias ainda incipientes] em mais de 25 iniciativas ou empresas inovadoras no setor de educação, que enfrenta déficits no Brasil.
Este artigo é uma publicação conjunta entre Bússola e Indústria Verde
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também
Startup de energia solar investe para compensar emissões de carbono
Podcast A+: A importância da restauração florestal na luta contra o aquecimento global