Já há mais de 220 empresas servindo a essa nova economia (Westend61/Getty Images)
Bússola
Publicado em 26 de julho de 2021 às 15h37.
Por Bia Granja*
Tá rolando uma coisa muito louca no mercado de criadores de conteúdo nesse momento, ou na chamada (e neste momento muito celebrada) Creator Economy, e acho que a gente precisa prestar atenção.
Pra contextualizar, essa tal de Creator Economy tem a ver com empresas que oferecem serviços e ferramentas pra criadores de conteúdo (os creators) e influenciadores poderem prosperar nos negócios.
Pra quem trabalha com isso, esse movimento não é novo, mas duas coisas principais aconteceram que transformaram esse papo de mercado em uma conversa mainstream: a) a pandemia, que trouxe milhares de pessoas pra era digital na expectativa de monetizar suas paixões e viver de coisas que amam (falamos sobre isso nesse podcast aqui) e b) a Gen Z chegando ao mercado de trabalho, mas não para trabalhar em empresas e, sim, para se tornar um creator, um influencer e viver do seu conteúdo.
Qual o tamanho dessa oportunidade hoje? Bem, a SignalFire, empresa de Venture Capital, estimou que pelo menos 50 milhões de pessoas no mundo se consideram creators/influenciadoras (aqui no Brasil, só no Instagram, temos 9 milhões de pessoas, então acho que esse número tá bem subestimado), o The Information apontou que empresas de capital de risco já investiram mais de US$ 2 bilhões em 50 startups com foco em creators, e o New York Times acaba de fazer uma matéria falando que a próxima corrida do ouro dos investidores é justamente essa tal de Creator Economy.
De um recente mapeamento feito pela Antler, temos mais de 220 empresas servindo a essa nova economia, sendo que a maior categoria, claro, é a monetização. Ou seja, como eu transformo essa minha paixão e meu conteúdo em dinheiro e desenvolvo um negócio sustentável a partir dele. Existe uma saturação gigante em relação ao modelo de negócios baseado em parcerias com marcas. O número de creators e influencers cresce muito mais rápido do que a verba das empresas para suportar essa sede toda. E isso explica também a oportunidade de negócio para essas empresas e investidores.
Nos EUA, esse mercado está crescendo em progressão geométrica, com empresas como Cameo (onde fãs podem comprar vídeos e interações personalizadas de seus creators favoritos), Bitclout (que permite que fãs comprem “ações” e invistam nos creators, aqui entra o hype de criptomoedas e NFT também), Karat (cartão de crédito só pra influencers) ou a Earnr (um app de contabilidade para creators). Aqui no Brasil, ainda estamos começando a explorar essa oportunidade, e temos alguns movimentos interessantes como Hotmart, Divi.Hub e outras.
Essa economia, por muito tempo, foi sustentada pelas redes sociais, mas a ameaça dessas novas startups está levando Youtube, Instagram, TikTok, Twitter e outras plataformas ao que estamos chamando carinhosamente de “Rinha das Redes Sociais”. Nas últimas semanas, as plataformas correram para lançar fundos bilionários, ferramentas de "gorjeta" (odeio a semiótica desse termo), soluções de marketing de afiliados ou social commerce e programas de assinatura. Estão competindo pelo coração do creator.
Jack Conte, fundador do Patreon, pioneiro nessa indústria, deu a letra: “Enquanto os primeiros 20 anos da web foram sobre distribuição e ajudar os criadores a descobrir como alcançar audiência, os próximos anos da web serão sobre reconstruir o mecanismo financeiro para remunerar essas pessoas. Isso vai criar gerações de creators profissionais em tempo integral”.
Como trabalho com essa indústria há mais de 15 anos, estou acompanhando todo esse boom com a pipoquinha na mão e tentando refletir sobre o que significa tudo isso.
Será que todas essas ferramentas serão suficientes para realmente sustentar uma economia tão gigante quanto essa? Será que vamos deixar de ter seguidores para ter “investidores”? Será que todo mundo conseguirá ganhar dinheiro REAL com isso tudo e montar um negócio próspero ou teremos milhões de pessoas ganhando dinheirinhos picados sem ir pra nenhum lugar? Mil perguntas!
O João Pedro Paes Leme, sócio do Felipe Neto, soltou um termo muito interessante no nosso podcast outro dia: “Uberização dos Influenciadores” (ouça aqui). No nosso papo, a gente estava imaginando um cenário descentralizado, independente e onde qualquer pessoa pode prosperar. Será que vai ser isso mesmo? Temos mais perguntas do que respostas, mas com certeza as coisas não serão mais como antes.
*Bia Granja é cofundadora e CCO da YOUPIX, consultoria de negócios para a influence economy. Bia é a maior especialista em influência digital do país
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube
Veja também